Ponto de ônibus - Jornal Fato
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Ponto de ônibus

Fico triste em ler, saber e assistir os ônibus do transporte público superlotados. Mais ainda, pela falta de infra-estrutura para a espera, uma espera desalentadora


- Foto: Divulgação/PMCI

Li, em jornal da capital, a histórica agonia daquele que espera pelo transporte coletivo. Sem melhorias no transporte público, cada vez mais as alternativas são buscadas pela população (sempre o transporte individual - carro próprio, motocicletas... levando ao trânsito caótico mesmo em cidades menores). Não li nada diferente de Cachoeiro ou qualquer outra cidade do Brasil. A manchete me sensibilizou, na lembrança vieram imagens do tempo que tomava o ônibus do bairro Santo Antônio ao centro de Vitória em busca do melhor ensino da ocasião: Colégio Americano, próximo ao Parque Moscoso. Fico triste em ler, saber e assistir os ônibus do transporte público superlotados. Mais ainda, pela falta de infra-estrutura para a espera, uma espera desalentadora, é a certeza de um transporte sem qualidade, todos os dias, no horário que mais precisam: ida e vinda da escola ou trabalho. No Espírito Santo, qualquer cidade capixaba, deveria ser como nos versos latinos: "É bom trabalhar em solo capixaba..." Mas as condições para se chegar ao trabalho, da ida ou vinda de casa, retiram as esperanças. Além da falta de esperança na melhoria de um serviço essencial ao trabalhador e estudante, pois são tantos anos, e nada muda, além disso, o perigo ronda os ônibus cheios ou vazios, como rondava em outros tempos. Lembro do acidente que aconteceu em Santo Antônio, na volta do Rabaióli, junto ao Polivalente, o ônibus despencou morro abaixo, minha mãe em desespero rezava para nossa Senhora. Eu, adolescente, voltava da escola, voltava a pé, tinha trocado o passe escolar pelo picolé, na esquina do Parque Moscoso.

Menos sorte aconteceu com um casal de idosos em Cachoeiro. Os velhinhos aproveitando um raro momento de ônibus sem grande ocupação, sentaram-se bem ao fundo, nas últimas cadeiras, ao passarem por quebra-molas, eles foram arremessados ao teto do ônibus, e ao caírem, fraturaram os ossos da coluna enfraquecida pelo tempo e falta de cálcio. Falo do ônibus e os abrigos para a espera do transporte em Vitória, nossa capital, porque foi lá que nasci, cresci, estudei e usei os serviços, até me formar e ir para São Paulo. Quando necessitei do transporte para a escola, já não existiam os bondes para os bairros, nem no centro da capital, restaram as histórias do meu pai. Quanto às informações contidas no jornal atual, nada diferem das que vivi nos anos sessenta/setenta do século passado, nada mudou com as condições dos abrigos, com o semblante das pessoas, só as cores dos ônibus. Quando viajo, procuro conhecer o serviço público de transporte (ônibus, metrô, trem), ou do próprio táxi, é motivo de orgulho, e uma atração turística, a manutenção da cor desses veículos. Gosto de utilizar aquilo que a maioria da população utiliza. Conhecer uma cidade é conhecer sua população e nada melhor que o supermercado e transporte coletivo. O esperado em um serviço público seria a melhora gradativa em sua qualidade. Não importa se é estatal, privado ou concessão. O que importa é a qualidade do serviço. No Espírito Santo, em qualquer cidade, nada diferente do restante do país, não existe nada que mostre alguma mudança, nenhum sinal de fumaça ou luz, talvez, o melhor seja pegar as trilhas dos nossos antepassados. De preferência de bicicleta, pena que, este meio de transporte moderno nas boas cidades do mundo, seja tão pouco valorizado no Brasil.


Sergio Damião Médico e cronista

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