"Fruto do Trabalho" - Jornal Fato
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"Fruto do Trabalho"

Das pessoas, gravitando ao redor da sua personalidade ímpar e tricolor. Sofria em alegria


"Abençoadas mãos lavrando a terra. A terra que reclama mãos".

Anacleto Santiago da Silva. O "seu" Anacleto, é inesquecível. Era proprietário de um pequeno comércio de frutas e verduras, logo cá, no beco da "farofa", divisando à rua Moreira, no meu Independência, onde nasci e vivo, ainda hoje, entre personagens singulares. Ei-la, dentre tantas. Era um homem alto, usando camisas sempre abertas pela metade, dado o calor. Ostentava a calva e fartos bigodes, a equilibrar-se sobre chinelos poídos azuis. Apaixonado pelo time do coração, o fluminense, quando compartilhávamos alegrias, ao menos na época, idos dos anos setenta. Lembro-me da apreensão dos dias de jogo, quando, qual Nelson, torcíamos, colando ouvidos no pequeno rádio de pilhas. Era bom. "Seu" Anacleto tinha a vocação da eternidade, diria Rodrigues. Tanto assim que suas memórias permanecem. Precisamos de recordações, boas. Anacleto bronqueava com fregueses que insistiam apalpar suas bananas "prata, da terra, nanica". Era um caso de amor, com direito a ciúmes Hoje, penso, ter-se enamorado. Era dado a reações imprevisíveis. Sorria, num momento, dizendo ironias. Noutros, menos disposto, pisava "em ovos". Austero e afeito ao trabalho, que tanto amou, quanto à família com Eurides e as filhas gêmeas: Célia e Sônia. Eram partes significativas de sua vida ancestral. Com ele, os ensinamentos sobre a beleza do esforço e a honra da labuta. Anacleto, o homem das frutas e folhas. Das pessoas, gravitando ao redor da sua personalidade ímpar e tricolor. Sofria em alegria. Estado de graça. Um contentamento descontente. Quando partiu, sem brabeza, na companhia do açúcar. Posto que doce.  Amigo mais velho, grená, verde e branco. Vejo-o em Carmem Miranda. Decora o alto do crâneo. Concluía a tarde varrendo soleira da porta. No céu, por certo, o recesso justo. À sombra de bananeiras celestiais a relembrar de mim. Espero. Do menino e sua admiração. Lembrara de parte da aldeia onde foi herói, vendendo a couve e a baga santa. Viva o alimento, como quem vive nele. Viva Anacleto. 

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E tu que te esconde de ti

Onde te esconderá? 

para aonde se não pode ir?

Se não te move de ti! 

E o que será quando vier aurora revelando senão confusão e mêdo? 

Para aonde quando descobrires? 

Enquanto era prisioneiro 

Quem sabe tonto, pelo céu do devaneio, no fiel galope do assaz corçel, ir ao sonho que dormia tua noite. 

Quem sabe então, assim, haja interesse e se vá pela porta afora

discorrendo flores 

Quiçá, sentir o sol e ares, desamarrando teus nós de nós que amamos tanto 

Sem degradante dormência 

Que da convivência se salvará, vencendo a si, movendo-se adiante 

E que se perca tanto, mas não desfaleça, continuamente. 

Porque será maior do que era antes. E melhor que ontem.


Giuseppe D'Etorres Advogado

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