O inferno pode ser pior - Jornal Fato
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O inferno pode ser pior


Eu, tão corajosa, ando agora apavorada. Morrendo de medo dos noticiários. Achei que Bolsonaro era o fim dos tempos, o mais fundo que a gente poderia chegar em matéria de retrocesso. Um cara que está no poder há quase três décadas e que, nesse período, teve aprovado, pasmem, apenas dois projetos. O homem que, no seu voto pelo impeachment, homenageou os "militares de 64" e citou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, responsável por torturas durante o período da ditadura. Um dito ser humano que afirmou que uma colega não merecia ser estuprada por ele a considerar "muito feia" e por ela "não fazer seu tipo", afirmando-se assim como um potencial estuprador de mulheres as quais ele considera atraentes. Uma pessoa que respondeu como sendo promiscuidade um filho seu se relacionar com uma mulher negra. Um idiota que vociferou que prefere um filho morto em acidente do que homossexual assumido, e completou que não admitiria um casal homoafetivo como vizinho para que seu imóvel não fosse desvalorizado. E mais. Em algumas de suas infelizes afirmações encontramos, por exemplo, a de que Pinochet deveria ter matado mais gente, de que as mulheres devem ganhar menos e a de que, em visita a uma comunidade quilombola, o afrodescendente mais leve deveria pesas sete arrobas, e nem para procriação servia mais. Sobre ele há ainda muitas outras atrocidades. Mas não é só isso.

 

Quando nos vemos no inferno, descobrimos que ali tem subsolo, e outros nomes surgem almejando a presidência da nossa pátria amada, salve-se quem puder. Luciano Huck, apresentador, que emociona seu público e distribui benfeitorias e dinheiro oriundos do império global, que burlou leis ambientais porque acha que, mais do que ninguém, merece seu refúgio em Angra dos Reis independente de preservação de fauna, flora e equilíbrio ambiental e que apagou de suas redes sociais as fotos com o candidato à presidência da república que ele apoiou. Apagou por que? Ele disse que não tinha culpa. Ele vestiu a camisa que não tinha culpa. Ele bateu panela. Mas ficou pesado apoiar aeroporto de Claudio, helicoca, irmã presa e inúmeras acusações baseadas em provas. Ele não tinha culpa, mas provou ser o tipo de gente que não assume o que diz, não assume o que faz e muito menos assume uma grande amizade, como era a dele com o senador.

 

Acha que o lugar pior que o inferno é o subsolo? Não. A profundidade de um poço que cavaram ali, onde o fogo é ainda mais quente e os poderes satânicos ainda maiores, eis que surge Dr. Rey, cirurgião plástico, apresentador, conhecido como Dr. Hollywood, trazendo como qualidades sua formação em economia em Harvard e o fato de ter dez dedos. São suas plataformas de governo diminuir o número de ministérios para quinze, baixar os imposto de 77% para 17%, julgar crianças de oito anos de idade como adultos, privatizar as prisões e instituir trabalho escravo aos detentos, permitir o uso de chicotes nas escolas e fazer com que o Brasil seja mais sensual. Frase dele: "Nós temos uma nação linda, nós somos inteligentes, nós somos sexy, gente. Eu quero trazer de volta a nossa sensualidade. O Brasil tá esfriando? Não, não, não. Quando eu estiver na capa da revista Time, o novo rosto do governo do Brasil: honesto, culto, uma pegadinha violenta como Kennedy, eu vou trazer de volta a nossa sensualidade."

 

É assustador saber que estamos no inferno, mas pior ainda é saber que profundezas abaixo dele existem, e que estamos a caminho.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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