Valadão: saudade e lições
Recordações de um admirador sobre a paixão e o legado de Roberto Almokdice Valadão, um ícone da política de Cachoeiro de Itapemirim
Me lembro, ainda muito jovem, aos dezessete anos, recostando meu queixo, dada altura, no muro que divisava a entrada do prédio e o acesso às poltronas do velho Cine Plaza. Dali, embasbacado, escutava os oradores se sucedendo até o ápice do evento político-partidário do velho manda brasa", queria o discurso de Valadão! Era emocionante como minh'alma se arremessava ao palco.
Era muito moço ainda, mas me sentia seguro diante das palavras que ditas aos borbotões e com entusiasmo provocavam o delírio da plateia que de pé aplaudia. Valadão tinha essa vocação para emocionar com belas frases de efeito e líricas citações. Era o meu Castro Alves em seus navios de liberdade e justiça.
Com seu passamento, para nenhum de nós que o amávamos, passaram momentos formidáveis da política local com seus vestígios de uma humanidade que era inerente ao homem de voz poderosa, mas baixa e pausada.
O olhar para o futuro e o sacerdócio dos mandatos. Quando escuto dizerem que política é algo ruim me recuso a aceitar pois me lembro dele e suas asas.
Fica a saudade. É um gosto amargo na boca, de ausência. Entretanto ficam porém as lições de audácia e coragem enfrentando toda forma de opressão e intolerância.
Esses ensinamentos, hoje homem feito, transferi aos meus filhos na certeza de que a minha geração herdou com Valadão e tantos o que há de melhor na política: o amor ao próximo! O amor cego que não distingue e ampara a todos. O amor capaz de enfrentar arroubos e canhões em nome da ventura da democracia. O amor que eu encarnei em Valadão!
Giuseppe D'Ettorres