Pessoa e seus heterônimos - Jornal Fato
Artigos

Pessoa e seus heterônimos

Em seu Desassossego e fragmentos poéticos ele nos fala sobre o amor: Amor não se conjuga no passado, ou se ama para sempre ou nunca se amou verdadeiramente


- Foto: Reprodução

Fernando Antônio Nogueira Pessoa, nasceu em Lisboa, Portugal, em 13 de junho de 1888. O nome é uma homenagem ao Santo casamenteiro que nasceu em Lisboa (Fernando) e vive e morre na Itália (Pádua) como Antônio. Fernando Pessoa, em vida, publicou um livro: Mensagem. Publicou já no fim de sua existência na terra, um ano antes de sua morte, em 1935. Das suas reflexões guardadas em uma arca nasce um livro intrigante e inquietante: Desassossego. Das suas citações e frases guardadas apresentam-se toda sua sensibilidade e revelação: uma avalanche de poesias e prosas. Ele revela: "Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão. " Ele ensina: "Adia tudo. Nunca se deve fazer hoje o que se pode deixar de fazer também amanhã. / Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã... levarei amanhã a pensar em depois de amanhã, e assim será possível; mas hoje não... [...] Hoje quero preparar-me, Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte... Ele é que é decisivo. [...] Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã... Sim, talvez só depois de amanhã... O porvir... Sim, o porvir..."

Em seu Desassossego e fragmentos poéticos ele nos fala sobre o amor: Amor não se conjuga no passado, ou se ama para sempre ou nunca se amou verdadeiramente; sobre a prudência: Nunca cultives coisas absolutas, como a castidade absoluta ou a sobriedade absoluta: a maior força de vontade é a do homem que gosta de beber e se abstém de beber muito e não a daquele que não bebe de todo; da ambição: Tudo quanto buscamos, buscamo-lo por uma ambição, mas essa ambição ou não se atinge, e somos pobres, ou julgamos que a atingimos, e somos loucos ricos; do desejo: O que é doença é desejar com igual intensidade o que é preciso e o que é desejável, e sofrer por não ser perfeito como se sofresse por não ter pão. O mal romântico é este: querer a lua como se houvesse meio de a obter. Fala da dor: O que me dói não é / O que há no coração / Mas essas coisas lindas / Que nunca existirão...  Sobre ensinar: Não ensines nada, pois ainda tens tudo que aprender. Sobre escrever: A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. Menciona os poetas: O poeta é um fingidor / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente. Da filosofia de vida: Sê tolerante, porque não tens certeza de nada. / Não julgueis ninguém, porque não vês os motivos, mas sim os atos. / Espera o melhor e prepara-te para o pior. Sobre morrer: Quando vier a primavera, / Se eu já estiver morto, / As flores florirão da mesma maneira/ E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada. / A realidade não precisa de mim. [...] Podem rezar latim sobre o meu caixão se quiserem. / Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. / Não tenho preferências para quando não puder ter preferências. / O que foi, quando for, é que será o que é... Sobre a vida e o querer: Navegar é preciso; viver não é preciso.  Quer pouco: terás tudo. Quer nada: Serás livre. / Não querer é poder. Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho. Vivemos todos, neste mundo, a bordo de um navio saído de um porto que desconhecemos para um porto que ignoramos; devemos ter, um com os outros, uma amabilidade de viagem.

 


Sergio Damião Médico e cronista

Comentários