NEWTON - Sugestão à Secretaria de Cultura - Jornal Fato
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NEWTON - Sugestão à Secretaria de Cultura

A partir do título desta crônica, já fica sabendo o leitor que não se trata de crítica, e sim de sugestão, como pretendo deixar bastante claro de início


- Ilustração: Zé Ricardo

Gosto de ser direto no que escrevo e isso só tem me feito bem (coisas que aprendi com meu pai e com cidadãos cachoeirenses que tenho como modelos: - Newton Meirelles, Dr. João Madureira, Prof. Deusdedit Baptista, Gil Gonçalves, Ney Santos Vianna, Nelson Sylvan, Pedro Reis, Dirceu Cardoso e mais de dúzia de outros cidadãos da igual probidade, da direita à esquerda política... uns ainda entre nós, outros já no Céu).

Falo, agora, do busto de Newton Braga, que voltou ao local original; Praça Jerônimo Monteiro (fora colocado na Festa de Cachoeiro de 29 de junho de 1965). Voltou com qualidade, ele que - nos últimos tempos - já estava lá, mas não no local original.

Com a presença da família Braga, inclusive das filhas de Newton (Rachel e Marília, que comandaram a volta do busto do pai), Newton voltou definitivamente.

Voltou agora em 2021, voltou o busto ao local inicial, mas com pequeno "defeito".

Qual "defeito"? O nome do escultor ficou no verso do monumento e do nome dele só se pode ser ter conhecimento se, secundariamente, "virarmos de lado", pisando no verde plantado aos seus pés.

Minha sugestão é de que uma pequena placa metálica emoldure a frente do busto de Newton Braga, contendo o nome dele e o nome do escultor, MAURÍCIO SALGUEIRO, que não conheci... conheci o pai dele. Mauricio nasceu em Vitória, em 1930, e é filho da intelectual Consuelo Salgueiro (nascida em Cachoeiro) e de Ivo Felisberto de Souza (advogado e dos primeiros investidores na pesquisa do mármore, granito e manganês).

O nome completo de Mauricio: - Mauricio Salgueiro Felisberto de Souza.

Mauricio é figura importante nas artes brasileiras. Sua importância pode ser verificada pelo resumo de sua vida e obra. Formado pela Escola Nacional de Belas Artes, com pós-graduação em Paris e Londres, professor no Museu de Arte Moderna do RJ, na Universidade Federal Fluminense, na PUC e na Universidade Santa Úrsula. Fez 14 exposições individuais de sua arte (até 1994) e 65 exposições coletivas no Brasil e no mundo (até 2014) - não consegui outros dados sobre ele, certamente existentes.

Com a placa proposta, dando visibilidade maior e normal ao nome do artista que produziu o busto -obra de arte - faz-se justiça que todos queremos e completa-se para a posteridade, a obra-prima. Quem faz, quem constrói, deve ter o nome à frente da obra feita, o busto. Principalmente se for um gênio como é Mauricio Salgueiro - e nós não sabíamos disso - eu também não sabia.

(A foto de Mauricio, não datada, foi recolhida da sua página nas redes sociais. Os dados sobre Mauricio Salgueiro e outros, são de pesquisa que fiz e estão, com muito prazer, à disposição de quem queira consultá-los).

 

O Busto de Newton Braga

Na Festa de Cachoeiro de 1965 foi inaugurado um busto em homenagem a Newton Braga, no centro da Praça Jerônimo Monteiro, construído através de campanha do povo cachoeirense, por iniciativa de Paulo Soares. A peça foi esculpida pelo escultor capixaba Mauricio Salgueiro de Souza. Estiveram presentes na inauguração o governador Francisco Lacerda de Aguiar, o Prefeito Abel Santana e familiares de Newton - dentre os quais a viúva de Newton, Isabel Curcio Braga, seus filhos Edson, Marília e Raquel, e seus irmãos Rubem, Ana Graça e D. Ieda Braga Miranda -, além de diversas autoridades, artistas, estudantes e o povo de Cachoeiro de Itapemirim.

Há alguns anos o busto foi retirado do centro da Praça Jerônimo Monteiro e colocado junto a outros, na lateral da praça. Neste ano (2021) em que se comemora os 110 anos de nascimento de Newton Braga, o busto volta ao seu local de origem com a mesma concepção artística. (Texto oficial descrevendo o Busto de Newton Braga, que está no verso do mesmo).

 

Aprender a aprender História

"A culpa dos avós, quem faz são eles, mas quem paga somos nós. Não senhor, por favor, paguem os filhos pelos filhos, os avós pelos avós". São esses os versos que me lembro da trilha sonora de um filme nacional futurista que parece-me chamar "Brasil, Ano 2000" e saiu por volta da década de 70.

Os versos me vêm a propósito de certa vergonha que muitos têm demonstrado quando voltamos às origens do Brasil de 1500, à colônia, ao Império, à República, aos tempos atuais e até ao fato de sermos um pouco europeus nascidos nos trópicos e bastante ocidentais, coisas que parece não queremos ser.

Ora, não tenho culpa e nem tenho que me desculpar do que foram ou fizeram nossos avós; tenho que guardar o que de bem eles fizeram e deixaram em doação e... consertar o que fizeram de errado. Mas culpa não, pois não a tenho e nem o futuro tem.

Por mais que compadeça do massacre indígena, e ele existiu, é apenas constatação histórica que cabe não ser repetida. Incas, maias e astecas com certeza escravizaram, dizimaram e humilharam seus antecessores, tanto quanto os espanhóis. Se não está escrito é porque eles não sabiam escrever ou escreviam mal. Os caetés que devoraram Pero Fernandes Sardinha não o fizeram em vista do sobrenome do bispo e nem foi o bispo o primeiro a ser canibalizado. Anteriormente outros índios também foram. Tudo é constatação histórica. Inclusive a colaboração de negros africanos aprisionando outros negros africanos e os vendendo a comerciantes de gente, que os vinham oferecer ao Brasil e à América. Tudo é constatação histórica. História se aprende. Sacrificá-la, em vez de aprender com ela, é possibilitar sacrifícios futuros sem chance de aprendizado.

Os brancos europeus e cristãos, até porque impuseram suas razões, também tem suas imensas culpas na "canibalização", no massacre e nas escravidões. Ninguém pode se imaginar santo ou em "atirar a primeira pedra", mas não adianta ficar batendo na História. Não se deve esquecer que a história da humanidade é soma de acertos e desacertos. Quem se fincar só na identificação dos desacertos, esquecendo-se dos acertos, perde um pouco da história e quase todo o futuro. Não há que se apagar horrores, mas não há como jogar fora a história da civilização ocidental, lutas pela liberdade, heroísmo dos navegantes portugueses.

Até porque os portugueses conseguiram trazer ilesa a Nau Capitânia, de Portugal a Porto Seguro e nós, pelo menos nossas autoridades, nem mesmo trazê-la na hora e dia do descobrimento conseguimos. Quem sabe a trazem ainda a tempo da Primeira Missa, amanhã.

(Originalmente publicada em abril de 2000, nos 500 anos de descobrimento do Brasil. Republico-a por sua atualidade - quase nada mudou. Continua tudo a mesma merda).

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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