Minha História no Café Mourads, que Reabre - Jornal Fato
Artigos

Minha História no Café Mourads, que Reabre

Local me marcou em várias épocas da minha vida


- Ilustração: Zé Ricardo

Inicio de 2019, recebi telefonema do Valério Fabris, radicado em Belo Horizonte, que soubera de minhas andanças no Café Mourads (centro de Cachoeiro), café fundado em 1991 (33 anos passados, agora) pelo Dr. Dr. Elias Mourad e esposa; depois continuado pelo irmão Jorge Mourad e Néia. (Com a enchente de janeiro/2020 e a pandemia, o Mourads fechou.)

Valério, com atividade jornalística na importante revista nacional Bares & Restaurantes queria saber de minhas relações com o Café; como frequentador e como Vereador que tinha lá seu gabinete. Mandei-lhe texto. A matéria na revista teve até chamada de capa.

Volto ao texto que mandei ao Valério, com atualizações no tempo e destinação desta crônica.

Disse a Valério que o Mourads estava próximo de seus 30 anos. Fui freguês fazendo propaganda do quibe e do cappuccino deles, excelente qualidade.

Ao lado do Café Mourads formou-se história de que ali (como em todos os bares) a fofoca era permanente. Verdade, quem quer saber o que aconteceu, acontece ou acontecerá na cidade, terá boa possibilidade... se frequentar o Mourads. A conversa de "pergunta no Posto Ipiranga", melhor perguntar no Mourads, não tem jeito de errar. Local indicado para conversar sobre política e muito mais. Nos tempos em que frequento o Mourads, minha presença é assídua. Sou "meio" político. De vez quando me candidato; Vereador. Candidatei 5 vezes, ganhei duas e meia, sem quase pedir voto. Às vezes não peço mesmo, vergonha de pedir, sei lá porquê.

Na eleição de 2016 (ganhei), descobri que, ficasse parado na porta do Mourads, muita gente iria me ver e perguntar se eu era candidato. Era a "senha" para que eu pudesse conversar sobre política e ganhar o voto, tudo na maior vergonha, até a conversa ficar boa - ai tinha entusiasmo.

Só que me deu um "troço" na cabeça. Achei que a maioria que passasse pela porta do Mourads iria pensar: - "Nossa! O cara é candidato a Vereador e não sai da porta de botequim!". E já digo, lá é café, não tem bebida alcoólica. Aquilo tava me destruindo, até que lembrei de Newton, irmão de Rubem Braga - servidor público (dono de Cartório), que despachava no Bar Vitória, tomando sua cachacinha todos os dias. (O Bar Vitória, já fechado, era próximo do Mourads. Pensei, se Newton, personagem mais ilustre da cidade, reconhecido para sempre, podia beber cachaça na hora do serviço, porque que eu não podia tomar cappuccino, e nem era hora de serviço meu?). Mas a vergonha de pedir voto... não passava.

Desde antes, quando não era candidato, e mesmo sendo, acostumei-me, também, a me esconder no fundo do Café; às vezes pra poder ler jornais, revistas e livros. Eu tinha uma mesa atrás da geladeira, e essa mesa era meu gabinete nos últimos anos, político ou não.

Ganhando a eleição, tomei posse em janeiro de 2017. Tinha gabinete na Câmara; quase nunca ia lá. Nunca gostei de lugar reservado quando sou político, com ou sem cargo. Devo ter ido lá, no meu gabinete na Câmara, umas seis vezes.

Tomando posse, 2017; voltei ao Mourads, e vi na parede, ao lado da "minha" mesa e da geladeira que me escondia, uma folha escrita "Gabinete nº 12 - Vereador Higner Mansur".

Não sabia que a tinham colocado; morri de vergonha e pensei: vou tirar esse "troço" daí, agora, isso é demagogia. Enquanto pensava, donos, amigos e empregados do Mourads estavam às gargalhadas. Entendi. Minha Secretária Cristina, Dona Néia e Jorge, donos do Mourads, haviam colocado o papel indicando o "Gabinete". Maneira de me agradecer pelo nome que eu dava (será que dava?) ao Café Mourads, por estar sempre ali.

Agora que digito isso (para o Valério), fui a meus arquivos e identifiquei mais de 60 crônicas nas quais falo do Mourads (no SETE DIAS e no ES de FATO) coisas de quase vinte anos.

O agradecimento deles passava por aí. Pensei: - deixo uma semana a "placa", depois jogo fora. Qual o quê! Convencido eu mesmo de que não estava fazendo demagogia, o faro que político tem me despertou: - Esse "troço" vai ampliar o conhecimento de meu mandato e o "gabinete", público, visibilidade total, sem paredes, me livrará de pedidos esquisitos, fora da coisa pública, coisa que nunca fiz e não farei. LIVROU MESMO.

Virou lenda a ponto de Valério achar que podia render matéria de revista. Que bom, rendeu.

(Retornando a 2022, ano desta crônica, veio-me convicção de que por não ficar frente ao Mourads, perdi a eleição de 2020. Não sei pedir voto e não estava frente ao Mourads, pra ser visto. Perdi por isso).

Fotos marcantes: 

 

Sirley Alves, artesã, este cronista, Paulo Henrique Thiengo, defensor de nossa memória e Antonio Geraldo, ex-Vereador.
Foto: João Augusto.
 
 
Com um grupo de advogados cachoeirenses.
 
 
Com José Carlos Carvalho, ex Ministro do Meio-Ambiente, Governo Fernando Henrique Cardoso.
 
 
Com Murilo Cavalcante, Secretário de Segurança de Recife - PE e o saudoso Joacir Pinto, da revista Sete Dias.
 
 
Com Neném Doido.
 
 
Com a Vice-governadora do ES, Jacqueline Moraes.
 
 
 

 

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

Comentários