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Fazendo as pazes com você

Não é fácil perdoar. Mas, mais difícil ainda, é fazer as pazes


Não é fácil perdoar. Mas, mais difícil ainda, é fazer as pazes. Quem nunca disse que perdoava e ainda assim preferiu deixar para lá? Perdoamos a melhor amiga que nos feriu sem permitir que volte ser tão amiga. Perdoamos a traição do companheiro optando por não permanecer na relação. Perdoamos familiares por críticas, palavras mal colocadas ou boicote aos nossos sonhos, porém desejando que não tivéssemos laços sanguíneos. Exercemos a divindade do perdão aliada a precaução da distância.

E quando o erro é nosso? Quando nossa infalível humanidade é, e quase sempre é, capaz de nos fazer falhar? Aí não basta perdoar. Não é possível decidirmos nos afastar de nós mesmos. Isso seria um tipo de morte, e a morte é a coisa mais assustadora da vida. Precisamos fazer as pazes.

Perdoe-se por não ter sido ou por não ser a mãe perfeita, porque isso não existe. Perdoe-se porque estava cansada demais para entrar na água com seu filho, porque precisou dizer não, porque deixou com ele seu celular para dormir um pouco mais, porque precisou se ausentar para trabalhar ou porque teve que viajar e deixá-lo com os avós. Por alguns "erros" pode até ser que seus filhos te cobrem a vida inteira, mas é porque você se escondeu dele quando se trancou no banheiro para chorar quando o mundo quase desabou. Porque você não contou que deixou de comer o ultimo pastel para que ele comesse ou que foi trabalhar com o sapato gasto para que ele tivesse um tênis novo para ir para a escola. Perdoe-se porque um dia, no ano passado, você perdeu aquela paciência que teve nos outros 364. Perdoe-se pelas ausências, pelo tombo que ele levou, pelas cobranças nos estudos. O que eles não sabem é que todas as vezes em que dormiram demais você entrou no quarto de fininho e colocou o dedo perto do nariz para verificar se ainda estavam respirando. Perdoe-se e faça as pazes porque, acima de tudo isso, o que você sente é o maior amor do mundo.

Pessoas surtam, ficam nervosas, cansadas, tristes e desanimadas. Então perdoe-se por aquele dia em que não estava com vontade de falar com ninguém e não deu a devida atenção a sua mãe. Por ter se irritado além do ponto pelo prato que seu marido deixou para lavar depois. Por ter falado com suas amigas que estava doente só porque aquele dia não estava a fim de sair. Para toda atitude extrema teria um jeito de fazer melhor. Mas, naquele dia, não fizemos. Erramos. Perdoe-se e não se afaste da sua essência. Faça as pazes.

Eu, particularmente, senti com a maturidade a necessidade de buscar ser uma pessoa melhor a cada dia. Quero ser uma mãe, esposa, amiga, filha, irmã, cidadã e profissional excepcional. Quero muito, mas não consigo. Erro tentando acertar. Mas não desisto. E, quando erro, reflito e me pergunto o motivo, me abraço, me perdôo e faço as pazes. Mesmo porque para ser melhor preciso mesmo de amar, admirar e respeitar a pessoa que sou, com minhas qualidades, defeitos e, acima de tudo, limitações.

Não é bonito ser grosseiro, intolerante, impaciente e chato. Não dá para arrumar desculpas para brutalidade, preguiça e vitimismo todos os dias. Não dá para mentir, enganar e humilhar e depois de se perdoar e ser perdoado fazer de novo. Precisamos ser melhores, mas reconhecendo que não dá para ser o melhor sempre. Façamos então as pazes.

 


Paula Garruth Colunista

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