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Dia dos pais

O meu pai, para todas as minhas sensações, emoções e sentimentos foi o que mais me influenciou


- Foto: Reprodução/Web

De todas as efemérides a que mais me sensibiliza é a dos dias dos pais. É a que me traz as melhores recordações. A que me faz retornar aos melhores dias de minha infância e juventude. Aos meus dias de segurança física e emocional. O meu pai, para todas as minhas sensações, emoções e sentimentos foi o que mais me influenciou. Ele era intenso e vibrante. Emoção pura, na maioria das vezes, sem usar a razão. Em suas ações me fez conhecer o circo, o mar, a praia, o contato com a bola de futebol, a chuteira de couro, minha primeira bicicleta... No momento certo retirou as "rodinhas" de segurança e me deu a liberdade de pedalar em duas rodas por minha própria conta e risco. Com ele, realizei meu primeiro passeio de barco pela baía de Vitoria e conheci a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro. Incentivou os estudos e acompanhou o meu primeiro dia de aula. Nas férias escolares, na boleia do caminhão, de cidade em cidade, de Colatina até a divisa da Bahia e por todo o norte do Espírito Santo, eu o seguia. Em várias noites de hotéis eu aproveitava sua presença. Meu pai...

Nessa semana, semana dos dias dos pais, em agosto, mês que ele faria mais um ano de existência, após o isolamento social e as tristezas por conta do novo coronavírus - Covid-19, senti saudades. Senti saudades de muitas outras coisas, mas a saudade maior eu senti do meu pai. Lembranças da infância e adolescência. Meu pai era um homem de defeitos e acertos, mas na infância e adolescência, era como um super-herói. Achava que ele tudo podia. Como uma magia. Fui crescendo, e percebendo que, o meu pai era como os outros pais, um ser humano com erros e acertos, mais acertos do que erros. Um ser humano com fragilidades e limites. Fui percebendo, e tive a certeza, quando me tornei pai. Fui crescendo, e percebendo que, aos olhos do meu pai, o quadro se alterava. Aos olhos dele eu passei a ser a referência dos poderes, passei a ser aquele que tinha a força. Ele foi envelhecendo e se fragilizando, passei de filho a pai e me transformando no super-herói do meu pai. Herdava as angústias das fragilidades e limites dos seres humanos. Meu pai, gradativamente, tornava-se um homem necessitado de cuidados físicos, apesar da memória e rapidez do raciocínio. A razão tomou o espaço da emoção. Difícil para um filho perceber as fragilidades de um homem que até pouco tempo era seu super-herói. Com o passar dos anos evidenciamos o ciclo da vida: somos cuidados; cuidamos e necessitamos de cuidados. Com o tempo alternamos: a grandeza de cuidar e a humildade de se deixar cuidar. Ele foi assim, resistência inicial e resiliência ao final. Anos atrás ele se foi. Ficaram saudades e boas lembranças. Agora, em novo estágio de vida: sou filho e pai e me tornei avô. Os netos Bernardo e João Vitor possuem os pais para chamarem de super-heróis e um avô para orientar nas coisas boas da vida. As coisas que não se deve adiar em viver. Pena que, o distanciamento físico impeça o olhar nos olhos. Ainda assim, mesmo por via digital, na pequena imagem do celular, é possível aproveitar os instantes de emoções vividas e aquelas que ainda temos por viver.


Sergio Damião Médico e cronista

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