(Des)Intensidade da Vida - Jornal Fato
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(Des)Intensidade da Vida

Nossas vidas são (des)intensas quase o tempo todo


Nossas vidas são (des)intensas quase o tempo todo. Sempre cheias de obrigações a cumprir, vive-se, atualmente, de modo mecânico e, em geral, tudo se relativiza.

Não raro, o convívio com o namorado(a)/esposo(a) e com os filhos se padroniza; a rotina toma conta, a vida perde o encanto e o comodismo se sobressai.

Assim, trabalha-se porque se precisa do sustendo, mas isso não gera realização; cuida-se dos filhos porque são amados, mas nem sempre o amor é expressado; muitos são os filhos que se sentem um peso na vida dos pais e crescem revoltados; vai-se a Igreja por tradição e, por vezes, sequer a Palavra partilhada é lembrada; quando dá tempo lembra-se dos pais, mas, se não der, tudo bem, pois, pensa-se: sempre  estarão lá quando for preciso que cuidem dos netos ou que nos livrem da cozinha no fim de semana. Às vezes até se consegue passear um pouco, belas fotos são tiradas e postadas, mas, ao fim do dia, cansados do passeio, chega-se em casa de mau humor; ..., e, nessa onda de robotização, tudo fica superficial e, mesmo o lazer, vira mais uma obrigação.

Diante da (des)intensidade da vida, quando se dá conta, o casamento acabou, a vida passou, os filhos perderam-se em suas próprias fadigas e, de susto, surgem perdas repentinas e/ou doenças, algumas temporárias e outras para a morte. Em alguns de repentes, percebe-se que a vida não funciona como uma máquina e que, nem sempre, os danos causados têm conserto ou os cacos lançados podem ser juntados.

Quando a morte vem devagarinho, ainda se consegue rever algumas condutas, tem-se a oportunidade do amadurecimento e, quiçá, tem-se a chance de sanar pendências existentes. Quando repentina, fica o oco, o vazio, as palavras que jamais serão ditas; os sentimentos que nunca mais serão expressados; ficam os porquês, as culpas, as dúvidas, os remorsos ...

O fato é que, quando vem sofrimento, tem-se algumas escolhas a serem feitas: a eterna lamentação ou a percepção de que tudo passa, tanto a dor quanto a alegria. Igualmente, pode-se descer da prepotência do achismo de que um indivíduo basta a si só; pode-se abrir os olhos para enxergar que ninguém é inteiro ou imortal; pode-se entender que dias de sol e de chuvas ora e outra se intercalam, pode-se entender que, sem Deus, nada faz sentido: nem a vida, nem as vitórias e ainda menos a morte.

Isso porque alguns sofrimentos servem para abrir os olhos para a experiência de algo maior e, deste modo, despertam o desejo da vivência das promessas de Deus. Afinal, após o nascimento, a qualquer instante, a morte pode chegar, fato simples assim, mas que se prefere ignorar.

Quando a doença (ou outros tormentos) aparece, aos que optam pelo não desespero, nasce a oportunidade de valorização das pequenas coisas. Nesse caso, o coração, que permanece grato, enxerga o milagre da vida ao, num dia de domingo qualquer, preparar o almoço da família ao lado do esposo/esposa; ao ouvir os gritos das crianças enquanto brincam; ao ver o doente amado, com dificuldade de se alimentar, conseguindo comer, ao menos, um pouco.  

Vê-se também o alegre milagre em cada passo, em meios as fraquezas de uma doença, dado; em cada palavra, em meio ao cansaço, dita;...; em cada situação, positiva ou negativa, que revela a total dependência humana de Deus. Com Ele ao lado, o coração pode até se entristecer, mas não consegue perder a PAZ.

Em paz, os pequenos/grandes milagres da vida passam a ser enxergados e viver, por si só, torna-se motivo de agradecimento. Sobressai o entendimento de que não dá para ser "bobo alegre", pois, por inevitável, as aflições, vez ou outra, surgirão para todos. Por isso, quando vem a chuva, tento me fortalecer no único Deus, pois, além de exalar amor, Ele sempre é sincero e, em sua Palavra, adverte, mas também consola, ensinando que, "no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundoJoão 16:33".

Quando confiantes nas promessas de Deus, um novo milagre se revela: passamos a entender que tudo tem uma razão, temos a certeza de que não estamos sós em nossas lutas ou lutos, logo, tudo bem, a vida segue na mesma gratidão.

 

Katiuscia Oliveira de Souza Marins


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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