Conexão Mansur: Um presente para a cidade - Jornal Fato
Artigos

Conexão Mansur: Um presente para a cidade

A saudade dos tempos em que não vivemos, acho que é a mais importante saudade, pois não é a "minha" saudade, é a "nossa" saudade coletiva


- Ilustração: Zé Ricardo
Foto: arquivo da coluna
 

Quando vi e enquanto vejo o livro de fotografias recolhidas na vida inteira de Gil Gonçalves, sinto saudades do tempo que não vivi. A saudade dos tempos em que não vivemos, acho que é a mais importante saudade, pois não é a "minha" saudade, é a "nossa" saudade coletiva, herdada por nós e por nós oferecida como herança, construção de um tempo em que a cidade era pior ou melhor, menos ou mais cruel, conforme nós a tenhamos construído. Quem melhor vive essa saudade, quem nos impulsiona a melhorar o que temos, é o colecionador, colecionando impressões de todas as facetas, colocando-as, para nós, no mesmo espaço e visão da mesma hora. Não tem, o colecionador, partido, ou classe, não tem pretensão de agradar ou interesse de ofender, não tem pretensão de ganhar dinheiro com o "hobby", ou de chegar em primeiro lugar, deixando outros na poeira. Tem apenas prazer - prazer: palavra exata, definidora fiel do sentimento do colecionador - apenas prazer de colecionar o que ache interessante e que, enquanto coleciona, talvez ninguém ache. Vai formando um painel, que um dia se abre inteiro, como se surgisse do nada. Mas um dia aparece um curioso, bate à sua porta: um estudante, mais um, mais outro, muitos. Depois, chega o estudioso, vem o jornalista, aproxima-se o historiador. Pronto, agora a coleção tem importância, é reconhecida... trinta ou quarenta anos depois de o primeiro livro, selo, moeda, fotografia, ou seja, lá o que for tenha sido recolhido em testemunho solitário do despertar de uma paixão que nos acompanha até a morte. Mais importância e mais reconhecimento quando o colecionador acerta. Como Gil Gonçalves acertou, ao colecionar (e recuperar tempo e situação) as fotos do livro que seus familiares lançaram há pouco, e mais outras duas centenas dela, que ficaram em casa, à espera - quem sabe - de novo livro.

As fotos do livro "Imagens de Cachoeiro da Coleção Gil Gonçalves", são elos com o passado. História fotográfica escrita por quem - curiosamente - não era fotógrafo e nem era chegado (segundo consta) aos mistérios mecânicos e óticos da máquina de fotografar. O compromisso de Gil Gonçalves, digo com a convicção de quem o conheceu bem, era com Cachoeiro; com sua história e por isso com seu presente; com o presente e por isso com o seu futuro. As fotos foram só instrumentos dos quais se utilizou para demonstrar o compromisso que tinha com a cidade natal.

A entrega a Cachoeiro, pela família de "seo" Gil, desse primeiro livro de fotografias retrata, também, a vida vivida do grande cachoeirense Gil Gonçalves, o maior, senão único, "Guardador das Imagens de Cachoeiro de Itapemirim".

E agora que se aproxima junho e com ele a festa da cidade, excelente presente a ser ofertado aos cachoeirenses que retornam, nesse período, ao chão de Cachoeiro.

(Esta crônica minha, publicada inicialmente em 20 de maio de 2000, portanto a quase um quarto de século, é, também, de data próxima ao lançamento do livro "Imagens de Cachoeiro, da Coleção Gil Gonçalves".

E, também, claro, é homenagem que presto a "Seo" Gil Gonçalves, homenagem que prestarei sempre e sempre e sempre).

 

Documentário "Retratos da Princesa do Sul"

Através da Lei Rubem Braga da Prefeitura de Cachoeiro, tenho muita honra em anunciar o lançamento do documentário "Retratos da Princesa do Sul - Memórias de Cachoeiro sob o olhar de Gil Gonçalves" (acesso em https://www.youtube.com/ watch?v= ENWW9nMHu54).

Esse documentário, importante e belíssimo, é produzido por Karyna Bahiense e por Camila Malacarne, ambas da Raízes Produtora.

Não perca.

Da mesma maneira que escrevi sobre o lançamento do livro, em papel, lá no ano 2000, também elogio, com a mesma alegria, esse documentário que ficará inscrito na História de Cachoeiro (e de Gil Gonçalves)

No documentário está escrita esta verdade verdadeira:

- "O documentário Retratos da Princesa do Sul traz um pouco da história de Cachoeiro de Itapemirim/ES, por meio de imagens do acervo fotográfico de Gil Gonçalves, um apaixonado pelas artes visuais e pelo registro do cotidiano ao longo dos anos.

Gil Gonçalves é considerado um dos maiores guardiões das lembranças do passado e, ao longo da vida, criou um riquíssimo acervo fotográfico que traziam acontecimentos, espaços e pessoas que movimentavam a cena da cidade.

De foto em foto, ele montou uma verdadeira coleção de memórias e estima-se que há mais de duzentas fotografias originais".


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

Comentários