Conexão Mansur: Sugestão ao Futuro Prefeito - Jornal Fato
Artigos

Conexão Mansur: Sugestão ao Futuro Prefeito

O futuro prefeito de nossa Capital Secreta já deve ou deveria estar vendo quais os novos caminhos que o município deve percorrer


- Ilustração: Zé Ricardo

Se Cachoeiro, doce terra onde nasceu, (e nascerá?), tanta gente boa e de caráter universal, não se preparar adequadamente aos novos tempos que já chegaram, o caminho da cidade é o buraco e o esquecimento, haja vista que até sua população está diminuindo e muita gente está "vazando" para as praias vizinhas e, até, em menor escala, para as nossas montanhas também vizinhas.

O futuro prefeito de nossa Capital Secreta já deve ou deveria estar vendo quais os novos caminhos que o município deve percorrer, ao mesmo tempo em que, aproveitando sua história, trabalhe para que mais gente venha para cá passear, ou mesmo se fixar, o que não é impossível se viermos a ter uma boa administração pública.

Entre tantas possibilidades turísticas, o centro da cidade, que vai da Casa dos Braga à Casa de Roberto Carlos, passando pela Casa de Luz Del Fuego e de tantos outros cachoeirenses reconhecidos nacionalmente (embora aqui na Capital Secreta ainda não), é o grande chamariz do turismo, vez que não é qualquer cidade que tem tanta gente de qualidade cultural assim.

A minha sugestão, aqui, portanto, fica no raio de ação da Praça Jerônimo Monteiro, que abarca todos os locais acima discriminados e vem de ter devolvido, com qualidade, o mais que belo Palácio Bernardino Monteiro, que completou já seus 111 anos de inauguração e começa a receber visitas de gente local e turistas nacionais.

O que vai se fazer, depois, aumentando a visibilidade do centro da cidade e do município é coisa que só se vai saber quando começar a exploração turística efetiva, pois não se pode imaginar o que fazer se não se começar a fazer.

Muito do que escrevi aí em cima e em outras crônicas, veio de um ótimo livro que adquiri a quase 25 anos passados e que está - o meu exemplar - todo riscado e sublinhado.

 

Foto: arquivo da coluna
 

Esse livro é o "A Reforma do Estado e os Municípios - A Experiência de Ribeirão Preto", de Antônio Palocci Filho, que conta, nesta obra excepcional, sua experiência quando Prefeito de Ribeirão Preto - SP.

Hoje, em Cachoeiro, chegar a esse livro é muito fácil, lê-lo também, visto que, tendo eu comprado mais de um exemplar dele, um foi doado à Biblioteca Major Walter dos Santos Paiva, onde já está à disposição dos leitores.

Entre tantas outras páginas, recomendo a leitura imediata das páginas 75 e 117/118 desse livro e, claro, depois partir para lê-lo de "cabo a rabo".

Quem ler esse livro e aplica-lo em Cachoeiro terá prestado um grande serviço a si mesmo e a Cachoeiro (nesta página está a capa do livro que, aliás, passei um terceiro volume dele a um cachoeirense interessado - mas isso é matéria para crônica futura, para além da eleição municipal.

 

ALELUIAS

Pedro Gabriel Monteiro Silva

Os Aleluias rodeiam as luzes amareladas dos velhos postes nas ruas não tão movimentadas pelas madrugadas da cidade. A inversão chega a ser dramática. Ruas que, em dias comuns, estariam lotadas de pessoas apressadas e ensurdecidas por seus desejos e buzinas, agora se encontram silenciosas, apenas com o som do vento noturno e o voo dos pequenos insetos ao redor dos postes.

Asas de insetos, pequenos seres, pequenas vidas. Pequenas agonias, como nossas próprias reclamações diárias. Somos humanos apressados e, a cada dia, nos tornamos menos nós mesmos. Estamos cada vez mais desconectados de nossa essência e focados apenas na razão. Mas será que isso é saudável?

A luz da lua é imprudente, e a imprudência sempre carrega riscos. A beleza da noite traz consigo o perigo, pois, assim como os aleluias, quando nos expomos à luz, também nos tornamos vulneráveis a predadores à espreita. E, como humanos, somos caçados pelos desejos de outros. Que infortúnio.

A verdade é que não há como apreciar sem arriscar. Viver longe da luz é se privar do sentimento único de contemplação. Por isso não amaldiçoaria os também chamados cupins alados. Apenas eles tão verdadeiramente adoram a luz, a ponto de arriscar sua breve vida para vê-la. Ainda que o amanhã seja incerto, permita-se, como eles, abraçar a luz da noite. Afinal, às vezes, esses breves momentos de contemplação são tudo o que podemos ter. E nosso tempo não voltará para vermos a luz de novo.

(Diz Higner Mansur - Pedro Gabriel, autor desta crônica, tem 19 anos de idade. É estudante do Curso Técnico em Informática do Ifes, campus Cachoeiro de Itapemirim. Foi com ele que aprendi, justo agora, com sua crônica, que "Aleluias" são cupins alados, comuns na estação chuvosa. Com esse conhecimento, agora, leia novamente esta ótima crônica, meu ilustre leitor. Salve a juventude que gosta de escrever e escreve).

 

DE TARDE, NAS NUVENS

Tranquilo o voo. Dia claro, tarde bonita. O sol, filtrado pela pequena janela de grosso vidro, mesmo assim queima. O suor aflora, indiferente ao ar refrigerado do avião que fazia o voo 315. Não mais que duas horas e o chão voltaria aos pés. Nenhum cheiro de novidade no ar, mais um dia comum, bonito e perdido.

O avião costeia as margens das praias, e elas estão vazias, inicio de outono que é. Um ou outro automóvel trafega pelas minúsculas estradas (o avião ainda não alçou toda a altitude). Leve poeira mostra, mais até que o amarelo das pistas, que elas ainda não foram agredidas pelo asfalto.

Nuvens de um comum absoluto pairam sobre o avião, nada mostram de extraordinário, sequer possibilidades de. Simples nuvens simples. Nenhuma imagem, nenhum recorte, nenhum castelo, nenhuma figura. Nada lembra nada.

(Atenção leitores, o avião se transforma em aeronave. Prenúncio). Alçando maior altitude a aeronave perfura as nuvens e se estabiliza nos 10.000 metros. Transformação anunciada. Acima das nuvens, acima do bem e do mal. Acima das chuvas, acima do real e do irreal.

As nuvens já não são, com certeza que não, as mesmas antes observadas. Algo de novo no ar. De cima, da aeronave, do céu, sobre as nuvens, estas são agora, para a vista, um vasto, bonito e interminável campo da mais pura lã branca. O tato, que não pode cumprir sua missão física, diz ser um grosso manto de alva e espessa espuma. Boa espuma, perfumada espuma. Concordam, no entanto, que é espetáculo no qual crianças não podem faltar.

E sobre o imenso e espesso campo branco, simbiose de lã e espuma, por sobre as nuvens, crianças soltas, alegres se deliciam e são felizes. Inocentes e despudoradamente felizes em suas infantis brincadeiras.

E a aeronave, de alumínio e combustível, paira e plana, desligada da realidade verdadeira. De dentro, observo a impossibilidade real. Lá de fora.

E se vê e se sente que fortes esperanças afloram na tarde incomum.

(Crônica minha, escrita há uns 25 anos ou mais).


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

Comentários

VEJA TAMBÉM...