Conexão Mansur: Histórias do Início Deste Século - Jornal Fato
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Conexão Mansur: Histórias do Início Deste Século

Agradecimentos e desafios da época que fui Secretário Municipal de Cultura em Cachoeiro de Itapemirim.


- Ilustração: Zé Ricardo

Corria o ano de 2000, quase ao fim. As eleições municipais tinham passado, reeleito o Prefeito Ferraço. Eu me vira indicado pelo meu partido que apoiara Ferraço, para exercer cargo de Secretário Municipal, mais especificamente, na minha visão, Secretário de Cultura e Turismo, o que muito me agradara.

Antes de ser convocado para a posse, resolvi - iria conversar pessoalmente e só com o Ferraço. Parti pra lá - partir pra lá significava subir as escadarias do prédio do Ferraço, na Rua Costa Pereira, e chegar ao seu "escritório" no segundo andar.

O motivo de eu partir para conversar com o prefeito eleito era o fato de que eu queria ouvir dele o que ele esperava de mim na Secretaria de Cultura e Turismo, e dizer-me até aonde eu poderia ir, no exercício do cargo. Tinha na minha ideia ver o que ele - Ferraço - esperava de mim como Secretário. Ao mesmo tempo, estava na minha ideia, também, passar pra ele pontos que eu achava fundamentais para aceitar o cargo.

E começamos a conversar. Ferraço foi dizendo: - "Então você vai ser meu Procurador". Fiquei assustado e redargui: - "Não Ferraço, Procurador não posso ser, senão tenho que parar de advogar, e isso não quero. (Hoje não sei, mas naquele tempo poderia ser advogado e ter cargo comissionado, exceto se fosse Procurador).

Ferraço nem tremeu; assustar-se, longe disso. Voltou-se para mim e decretou - "Então você vai ser meu Chefe de Gabinete".

Aí quem assustou fui eu. Respondi imediatamente: "Tá doido Ferraço, você acorda às 5 horas da madrugada, exatamente a hora que eu vou dormir (leio e estudo a noite inteira...). Nós não vamos nos encontrar nunca".

E continuei - "Estava achando que você iria me convidar para ser seu Secretário de Cultura e Turismo". E Ferraço não perdeu tempo e decretou: - "Então tá, você será meu Secretário de Cultura e Turismo". E fui para o lugar do Professor Alício Franco, que foi promovido a Chefe de Gabinete.

Passados 20 meses de Secretaria, agosto de 2001, resolvi deixar o cargo, vez que o exercício das duas funções - secretário e advogado particular - uma estava atrapalhando a outra.

E ao deixar o cargo fiz carta de agradecimento a Ferraço, a qual carta estendi à sua esposa Norma Ayub. O agradecimento foi pela ótima e gentil maneira com que ele me tratou e me deixou agir, enquanto secretário - e olha que eu era bastante chato.

E minha chatice pode ser resumida em dois episódios absolutamente verdadeiros.

O primeiro: eu disse a ele que não indicaria ninguém para cargo comissionado, mas queria ter poder de veto para cargos comissionados que fossem indicados para "minha" Secretaria. E logo no começo, vetei dois cidadãos. Ferraço me redarguiu: - "Mas eles são do seu partido!". Respondi - "Exatamente por isso, por serem do meu partido, eu os conheço bem; não estão preparados para o cargo". Não foram nomeados.

Mas Ferraço, esperto como é, me "passou a perna" quando eu quase estava saindo da Secretaria. Disse-me que, sem me informar, nomeara uma senhora para cargo na Casa do Rei, e que o fizera por ela ser boa pessoa e ter um filho que necessitava de cuidados especiais. Foi tão convincente que aceitei, e não é que a pessoa nomeada era realmente servidora de qualidade!

(Antes de entrar para o Banco do Brasil em 1971, concursado, em 1º lugar, fui Chefe de Gabinete do Prefeito Hélio Carlos Manhães, indicado pelo Professor Deusdedit Baptista. E exercera o cargo porque, naquele tempo, acabado de me formar na Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim, ainda não advogava. Com este agradecimento tardio que, de público, faço ao Prefeito Ferraço, estende-o ao Prefeito Hélio Carlos Manhães e ao Professor Deusdedit Baptista e fecho esta crônica que muito me honra ter feito).

 

 

Banco dos Namorados - Ontem e Amanhã

 

 

Muitos cachoeirenses conhecem o "Banco dos Namorados" que fica na Praça Jerônimo Monteiro, nos fundos, ao lado da subida para o prédio da Câmara Municipal. Esses "muitos", não sei quantos, mas sei que os tantos que conhecem ou já viram o banco, tem profundo e prazeroso sentimento; prazer especial em comentar sobre ele e, principalmente, retornar a tempo que não viveram, ao menos por perto dele, mas certamente viveram noutras circunstâncias e locais. (locais e circunstâncias mudam, mas o sentimento que emana do "banco dos namorados" é o mesmo para todos, independente das circunstâncias referidas).

Vim pra Cachoeiro em fins de 1967, e o banco dos namorados já fazia parte da história e memória dos cachoeirenses que conheci então. Creio, com possibilidade de errar, por falta de informações concretas (pra quê informações concretas num banco de namorados?), que ele está lá pra mais de 80 anos, o que significa dizer que por lá passaram alguns de nossos avós ou bisavós.

Mas o que é certo e sério é que se fala, nós falamos, sempre com o coração manifestamente feliz quando nos referimos ao banco.

Confesso, não fiz muita pesquisa sobre o banco dos namorados e nem mesmo sei se existem crônicas e relatos confiáveis sobre ele, ao longo do tempo. O que posso dizer é que não me sentei nele em namoro, mas tive experiências importantes, que me fizeram sentir o sopro da alegria do cachoeirense sobre o banco dos namorados.

E vou dizer como. Fui Vereador por 8 anos e meses, alternadamente. Subia sempre a escadaria ao lado do banco dos namorados, para chegar à Câmara. Sabendo das histórias, e vendo vezes e vezes por lá, dois jovens, moço e moça sentados, nem sabia se eram namorados ou não, mas com a junção da presença da dupla com a história que todos sabemos, nunca resisti a fazer aos casais (ou não), um questionamento. Por meia centena de vezes, mais ou menos.

Quando eu chegava próximo ao banco, nunca resisti - Dizia para o casal: - Posso fazer uma pergunta a vocês? Eles diziam invariavelmente que sim, poderia fazer a pergunta.

Eu perguntava (e pergunto, ainda): - Vocês sabem o nome desse banco que vocês estão sentados? Todos os casais respondiam que não sabiam. E eu completava - "O nome desse banco é "Banco dos Namorados". Há anos ele é conhecido por esse nome, embora hoje esteja meio esquecido".

Depois dessa minha resposta, na quase unanimidade das vezes, eu percebia o olhar maravilhado que o casal trocava entre eles, o que me trouxe comprovação de que ali realmente fora - é - o banco dos namorados, bem no centro da cidade, paisagem bonita, que fortalece vínculos iniciais que perdurariam por muito tempo ou para sempre.

Nossa Praça, centro de Cachoeiro, embora bastante maltratada (sobre isso, voltarei a escrever) é, sim, local maravilhoso para boas coisas, boas coisas coroadas com muitos namoros que ali começam e começaram, aliás, como senti nos comentários a postagem que fiz nas redes sociais, com bela foto do Banco... dos Namorados.

Em homenagem aos namoros que ali começaram e permaneceram, e aos que começarão e permanecerão, peço aos responsáveis pela praça e pelo banco: - Cuidem melhor deles.

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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