Conexão Mansur: Grandes Cachoeirenses - Jornal Fato
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Conexão Mansur: Grandes Cachoeirenses

A ministra Carmen Lúcia utilizando-se da poesia trouxe toda a luz para nossa terra


- Ilustração: Zé Ricardo
 

A visita ao Espirito Santo, da Ministra do Supremo Tribunal Federal, Carmen Lúcia, que não é dada a falar fora dos autos, foi uma grande lição de cidadania, que veio ao encontro da nossa Cachoeiro de Itapemirim, em favor de nossa cidade e respeitosamente, diga-se logo. A ministra, falando a verdade, utilizando-se da poesia, e não do excesso, trouxe toda a luz para nossa terra e enriquece-se, ela, também, nas suas qualidades literárias e culturais.

Vendo a imagem dela, falando com o coração sobre a realidade de nosso Cachoeiro, voltei no tempo e à Revista O GLOBO, edição de 03 de fevereiro de 2013, com capa inteira e mais seis páginas merecidamente elogiosas a... Cachoeiro, assinadas pela respeitada jornalista Mariana Filgueiras, que veio, ao vivo, a Cachoeiro. Veio ao vivo a Cachoeiro e, ao vivo, viu em Cachoeiro que aquilo que parecia "história pra boi dormir", na realidade era verdade verdadeira.

Leiam o que a jornalista Mariana disse, abrindo sua belíssima matéria jornalística: - "Se houvesse um concurso para eleger "a cidade brasileira com mais filhos ilustres", a pequena Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, levaria com folga. Entre os 5.570 municípios brasileiros, difícil encontrar outro interiorano (capital é covardia, ora) que tenha gerado tantas figuras notórias para o país. Talvez Sobral, no Ceará, se aproxime em quantidade (terra do cantor Belchior, do humorista Renato Aragão, do artista plástico Zenon Barreto e do cineasta Luiz Carlos Barreto, o "Barretão"). Mas somente a pacata cidade capixaba viu nascer elenco tão sortido do folclore nacional, a ponto de receber de Vinicius de Moraes o epíteto de "Capital Secreta". São cachoeirenses o cantor e compositor (e Rei) Roberto Carlos; o mais importante cronista brasileiro, Rubem Braga; o compositor Sérgio Sampaio; a atriz naturista Luz Del Fuego; o produtor musical e diretor Carlos Imperial; o ator Jece Valadão (que foi criado lá, apesar de ter nascido em Muqui) e a atriz Darlene Glória. Também viveram por lá as irmãs Danuza e Nara Leão".

E apesar da imensa relação de cachoeirenses citados, ainda ficaram de fora de citação na matéria da revista do Globo: - Newton Braga, Raul Sampaio, Arnoldo Silva (Menininho), Marly de Oliveira, Marcos Levy, Marcos Rezende, Rubão Sabino e outros (claro). A matéria de Mariana Filgueiras, dez anos passados, continua belíssima, ainda que ela "denuncie", em manchete, na capa da revista: - "ILUSTRES DESCONHECIDOS - Um perfil de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, cidade natal de Rubem Braga, Roberto Carlos e Carlos Imperial, entre outros, que pouco faz pela memória de seus filhos pródigos". Como eu disse, repito, a matéria de Mariana é belíssima, nada obstante tudo o mais.

E quem sabe Carmen Lúcia, Ministra do STF, um dia chegue a Cachoeiro, pra conhecer efetivamente nossa terra e mais gente nossa!!

 

MENINOS, EU LI

(Texto que publiquei na CONEXÃO MANSUR nº 1 (estamos na nº 764). Passados 19 anos da Conexão e 215 anos da publicação do "Correio Braziliense", continua a mesma coisa??)

O "Correio Braziliense", sabemos, é jornal do antigo Diários Associados, publicado hoje em Brasília (bom jornal, reconheça-se) e também é o primeiro jornal brasileiro independente, curiosamente publicado em Londres, a partir de 1808. Surpresa para mim, na verdade o "Correio" não foi jornal como os dos tempos presentes. Foi, sim, fascículos mensais, com 70 ou 80 páginas, que permitiam encadernação futura, aliás, como se fez em edição em fac-símile, de 30 volumes, publicada pela Imprensa Oficial de São Paulo.

O objetivo deste "Meninos eu Li" é trazer textos lidos por mim, os quais achei interessantes e foram objeto do meu marca-textos amarelo. E é da pag. 120 do antigo "Correio", de julho de 1808, portanto o número 2 do jornal, que retiro o seguinte texto, bastante atual, apesar de seus mais de duzentos anos:

"Quando os indivíduos de uma nação cometem impunemente os crimes, ou violam as leis da decência, e do pudor, sem que a voz pública os condenem à infâmia, então essa nação pode chamar-se corrompida, e as ações do indivíduo infamam o total da sociedade. Não é, porém, assim quando o criminoso é exposto à infâmia, e o devasso censurado pelos homens bons".

O texto também serve para explicar o que é um clássico. Clássico é tudo aquilo que transcende ao seu tempo e cabe em qualquer outro. Que pode ser lido décadas depois de escrito e é capaz de emocionar, ainda. Daí porque Hipólito José da Costa, o editor, e o velho "Correio Brasiliense" são clássicos dos clássicos da literatura jornalística brasileira. Meninos, eu li.

 

Salve o Professor Deusdedit Baptista

Quando se trata de homenagear essa legenda que é o Professor Deusdedit, nenhuma palavra sobrará, nenhuma palavra será excesso. Faltará, sim, intérprete suficiente a cobrir com meras palavras a trajetória desse gigante de Cachoeiro. Gigante que maior se torna, quando tem a "contrastar" com ele socialistas da escol de Newton Meirelles, Gilson Carone, Elimário Imperial, Newton Braga, Rage Miguel e tantos outros que terão seus nomes relembrados sempre.

Fácil, em algumas épocas, é ser grande. É fácil, quando o tempo é de degradação, de diminuição, de pequenez, de covardia. Qualquer um, que faça um quase nada, já terá feito alguma coisa. Quero ver é fazer o que o Prof. Deusdedit fez. Grande entre os grandes, grande por décadas e décadas.

Maquiavel, em 1513, disse que "da minha fé não se deveria duvidar, porque tenho sempre observado a fé, não vou agora rompê-la; e quem foi fiel e bom quarenta e três anos não deve poder mudar sua natureza; e da minha fé e bondade é testemunho a minha pobreza. "

Que dizer, então, do Professor Deusdedit, do alto do tempo que Deus lhe tem dado para viver? Nada mais do que dizer com simplicidade: Socialista de corpo e alma. Prega o que vive. Vive o que prega. O Professor Deusdedit, durante toda sua vida, foi homem da verdade e da justiça. Pagou caro por isso. Paga agora, neste momento (1999), sabemos.

Sócrates, julgado pelo poder ateniense, conheceu a morte e disse: - "Achei de meu dever correr perigo ao lado da lei e da justiça, em vez de estar ao lado de uma decisão injusta, por medo da prisão e da morte. Não cometer nenhuma injustiça ou impiedade, a isso sim dou o máximo valor. A mim, aquele governo, poderoso como era, não conseguiu forçar-me a uma injustiça. "

O Professor Deusdedit só pode ser confrontado com homens do espírito crítico e perspicácia de um Maquiavel, ou do senso de justiça e dever de um Sócrates.

Aí está o perfil de um socialista.

Não é ao Prof. Deusdedit que homenageamos. É sua dignidade que homenageia a nós, socialistas. Obrigado. Obrigado Prof. Deusdedit.

(Discurso que fiz na presença do Professor Deusdedit, em 03/03/1999, homenageando-o, aqui com pequenas alterações não fundamentais. Professor Deusdedit nasceu em Pureza, RJ (30.08.1912) e morreu em Cachoeiro (04.11.1999), aos 87 anos de idade, menos de um ano depois dessa homenagem que está guardada em meu coração).

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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