Drogas lícitas e outras drogas - Jornal Fato
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Drogas lícitas e outras drogas

 É uma grande causa, a maior, de internação em hospitais psiquiátricos (voluntária e compulsória); risco de doenças (sífilis, hepatite B e C, HIV) pela promiscuidade


- Foto: Reprodução/web

A dependência química de drogas lícitas (álcool e nicotina) e ilícitas (maconha, cocaína e crack) é grande problema social e saúde pública dos nossos tempos. Pior, com tendência a se agravar e sair do controle de governos e famílias. É uma grande causa, a maior, de internação em hospitais psiquiátricos (voluntária e compulsória); risco de doenças (sífilis, hepatite B e C, HIV) pela promiscuidade. Além do transtorno social, desagregação familiar (causa e efeito), geração de violência e corrupção, a droga, pelo uso ou tráfico, leva a insegurança na sociedade. Encontramo-nos, sociedade e governo, sem ação. Não sabemos como agir: se de forma educativa e terapêutica ou repressiva. Existem dois caminhos: lei rígida com a criminalização do uso e tráfico da droga e o caminho de penas mais leves, com ações educativas e liberalização da maconha. Anos atrás, o Governo Federal lançou programa: "Crack, é possível vencer". As metas de "cuidado, prevenção e autoridade" os Estados e municípios ainda não aderiram. Ações como atendimento de 24 horas e aumento no número de Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS - AD) pouco foram incrementados; os leitos em enfermarias especializadas não aconteceram; unidades de acolhimento de adultos e adolescentes e formação de profissionais especializados também não e nem os consultórios de rua, isto é, existe um programa, mas não estabelecido.

Dois casos: O primeiro trata-se de uma jovem adolescente em hospital psiquiátrico por ordem judicial (internação compulsória, não foi pela polícia, e sim, a pedido da mãe). Justificativa: "Perdera o controle, preferia filha internada, do que na prisão ou morta". A adolescente demonstrava consciência dos atos, relato de ter iniciado precocemente no cigarro, em seguida maconha, álcool e depois o crack. Além de usar, começou a vender, mantinha o vício (dependência química) e sobrava para as aparências. Não demonstrava desejo para suspensão do uso e da venda das drogas; o segundo caso tratava-se de um homem adulto jovem, portador de doença em bexiga, infecção urinária de repetição e necessitando de auto cateterismo vesical, torna-se usuário de droga ilícita, logo começa a distribuir (traficar), é preso, condenado, na cadeia sofre com a doença física de vias urinárias, é liberado após meses de retenção, muda comportamento pelo medo de retornar à prisão e ao sofrimento físico (sic). Penso: são dois casos isolados e não é possível, cientificamente, tirar conclusões. A dependência química necessita um acompanhamento multidisciplinar (médico, psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional...) por se tratar de uma doença complexa. O texto foi escrito em 2013. Desde então, e de sempre, escolhemos as ações repressivas para o combate ao usuário. Apesar da repressão policial, nada mudou. Pelo contrário, só aumentou o número de dependentes e as ações do tráfico. Na ocasião, 2013, escrevi: não devemos abrandar a lei. O uso e, distribuição, das drogas ilícitas se equivalem, é crime e como tal deve ser tratada e equiparada. O individuo tem que saber que, usar ou distribuir (traficar) a droga, está cometendo crime semelhante, e na semelhança terão a punição. Após mais de dez anos de medidas repressivas, e sem nenhum avanço social, acho que deveríamos pensar no combate ao uso de drogas como um problema de saúde pública. E menos policial.


Sergio Damião Médico e cronista

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