Conexão Mansur: Visão do Paraíso e os Pios de Cachoeiro - Jornal Fato
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Conexão Mansur: Visão do Paraíso e os Pios de Cachoeiro

Fiquei me perguntando sobre quantos cachoeirenses conhecem essas pequenas obras primas criadas por mãos operárias e surgidas no início do século XX.


- Ilustração: Zé Ricardo

Assistindo, nessa segunda-feira, 25 de setembro (1994?), o documentário para televisão chamado "Visão do Paraíso", direção de Walter Salles Júnior e apresentado por Antonio Carlos Jobim, fiquei pensando em Cachoeiro e em cada cidade do interior que tem cultura e tradição próprias e que as tem deixado perder.

É que, mais de uma vez, seis ou sete, Tom Jobim aparece piando pios de madeira, que não são outros senão os famosos (lá fora) pios de caça da indústria Maurílio Coelho, aqui de perto, ali da Ilha da Luz.

Fiquei me perguntando sobre quantos cachoeirenses conhecem essas pequenas obras primas criadas por mãos operárias e surgidas no início do século XX, da imaginação e vivência do patriarca dos Coelhos. E mais, quantos sabem serem realmente obras primas esses pequenos instrumentos de madeira, únicos no país, quase no mundo.

E daí que me lembrei, também, de outra obra desconhecida dos cachoeirenses: o artesanato de pedra, do granito e do mármore. Desconhecida e quase inexistente.

Em um dia desses admirava eu uma obra prática, por isso simples. Simples, por isso bela. Em Vitória: duas pedras trabalhadas, pequenas, dois mármores gêmeos, formando em conjunto um aparador de livros interessante e simpático, um enfeite, uma obra de admiração. Que não é feita em Cachoeiro, berço do mármore do Brasil, mas muito fácil de fazer, na verdade quase que sem aparato técnico. Só sensibilidade.

Extração, industrialização, comercialização do mármore e granito trazem riqueza. Só a obra artística torna permanente essa riqueza, pois entra na alma do povo, do cidadão e da comunidade, que dela se apossa e a faz viver. Não foram as jazidas que tornaram célebre o mármore de Carrara. Elas apenas deram suporte e permitiram aos artistas renascentistas criar os prédios hoje históricos e as maravilhas da escultura em mármore, a ponto de um deles, ao terminar sua obra, ordená-la, como se viva fosse: "Parla".

Da mesma forma que os pios de Maurílio Coelho, aproveitados de pequena madeira, a obra de arte em mármore e granito poderia ser símbolo não só da riqueza, como da cultura de Cachoeiro de Itapemirim. (Esta crônica foi escrita, possivelmente, em redor de setembro/1994 e está atual).

 

De Cachoeiro (ES) a Acari (RN)

Na sexta-feira (03 de fevereiro), como faço frequentemente, fui até a "Livres Livros", aquela casinha de livros na Praça Jerônimo Monteiro, aqui em Cachoeiro. Fui para colocar nela alguns livros meus, em doação.

Fiz o depósito dos livros e notei alguns papéis no chão da praça, bem próximos à casinha. Abaixei-me, recolhi os papéis e os depositei na lixeira ao lado. Nada demais, coisa comum e repetida.

E já ia voltando pra casa, quando passou um senhor (senhor mais jovem que eu, fique claro) e me fez elogio, o qual me surpreendeu pela sinceridade, ao tempo em que me alegrou muito.

Disse-me ele, com sinceridade que não foi difícil perceber: - "Parabéns pelo seu gesto, poucas pessoas fazem isso; a maioria nem vê lixo no chão, e às vezes ela mesma o joga ma rua".

Pelo inusitado, parei para conversamos um pouco, quase em frente à casinha.

Ele me prometeu, sem que eu pedisse, que em breve traria alguns livros que tinha em casa, já lidos. Sugeri que se fosse mais de meia dúzia de livros, ele os colocasse na casinha em diversas "viagens", para maior facilidade de uso da mesma casinha - melhor ganhar na qualidade do que na quantidade.

Seguimos viagem, para o mesmo lado, lado dos Correios; no meu caso, rumo à minha Caixa Postal. Frente aos correios, paramos e conversamos mais um pouco.

Perguntei se ele era de Cachoeiro, e ele disse que não. E completou que morava em Cachoeiro vez que sua esposa era cachoeirense. Não perguntei há quanto tempo ele morava em nossa cidade.

Mas perguntei de onde ele era, e ele respondeu que era do Estado do Rio Grande do Norte, mais propriamente do município de Acari, uma "cidadezinha" de pouco mais de 11 mil habitantes, conforme confirmei, depois, em pesquisa na internet. Eu, de minha parte, nunca ouvira falar da cidade dele, interior Nordeste do Brasil.

E a conversa não parou por aí. Não satisfeito, ele completou e me surpreendeu:

- "Você sabia que minha terra, Acari, é a cidade mais limpa do Brasil?"

Dada a simplicidade e prazer com que ele se referiu à sua cidade, acreditei de pronto, mas, mal chegado em casa, fui à... internet para... verificar e confirmar.

E CONFIRMEI TUDO, em mais de meia dúzia de filmagens de qualidade e profissionalismo. Além das afirmativas, nos filmes, de ser Acari, realmente, a cidade mais limpa do Brasil, fui verificando, com meu olhar severo, que as ruas da sua Acari eram sim limpíssimas, e que o título dado a Acari era real e, verdadeiramente, mais que justo.

E tão bom quanto a limpeza das ruas e calçadas de Acari, CIDADE MAIS LIMPA DO BRASIL, verifiquei outras coisas que me encheram de orgulho de assistir e comparar com Cachoeiro. (Orgulho de Acari, entendam bem).

Nas filmagens, por mais de uma vez, apareceram dois mercados públicos de ACARI, um muito antigo mesmo, e o outro menos, mas também antigo. Um deles - o mais antigo - era e é destinado ao pequeno comércio regional, produtos de qualidade e regionais, perdoem-me ser repetitivo.

O outro mercado, menos antigo e assim mesmo antigo, era e é totalmente dedicado ao artesanato local - ou seja, lá só entra e sai artesanato de Acari, A CIDADE MAIS LIMPA DO BRASIL. Aí me lembrei dos mercados públicos de Cachoeiro, relativamente abandonados e maltratados, mas isso é assunto para outra crônica.

E num dos mercados tinha até livros para vender - livros locais, insisto - um dos quais, ao me encantar por ele, providenciei a aquisição de exemplar pra mim. O livro "Histórias e Memórias do Acary Antigo", de autoria de Cícero José de Araújo Silva, que já deve estar chegando pelos correios.

(Consegui falar com o autor acariense somente pelo e-mail e pelo zap-zap. Pelo telefone normal, não - a ligação não completava. Fosse pelo correio, seria - ida e volta, quase um mês. E ainda tem gente que reclama da modernidade).

Ah, ia me esquecendo; convidei o amigo acariense - Ary Vital - para tomar um café no Café Mourads, pra ouvir mais coisas boas da terra dele, e claro, também falar das coisas boas da Capital Secreta do Mundo, Capital da Crônica, Terra do Rei, Capital Nacional do Mármore e de tantos outros motivos que me fazem repetir o refrão "Daqui não saio, daqui ninguém me tira".

 

Proposta para o futuro Prefeito (5)

Teatro Rubem Braga - Aqui, no ES de FATO, abril/2017, nos 17 anos do Teatro Rubem Braga, fui entrevistado pelo amigo jornalista Ailton Weller, juntamente com outros cachoeirenses amigos da Arte. Transcrevo a íntegra de minha resposta ao Ailton e ao jornal:

"NOVA AGENDA - Para o vereador Higner Mansur, ativista e divulgador cultural, como casa de espetáculos, de teatro, principalmente, é a principal contribuição de um prefeito para Cachoeiro.

"Por isso é sempre bom e necessário lembrar o nome do corajoso prefeito, com sobrenome e tudo: - Theodorico de Assis Ferraço. Por ser quem é, nem sempre é lembrado por essa obra e me lembro da vergonha que senti, certa vez, num aniversário do Teatro. Falaram da cria - o teatro - e se "esqueceram" do criador - Ferraço. Eu não posso esquecer", aponta.

Para Higner, é preciso que a administração (prefeito) faça o teatro funcionar no verão. "A maior parte dos cachoeirenses, no verão, fica por aqui, e é vergonhoso que, sempre, o teatro não seja aproveitado no verão, inclusive no meu tempo, confesso", acredita.

Então, minha 5ª proposta ao futuro Prefeito é esta:

- FAZER O TEATRO RUBEM BRAGA FUNCIONAR NO VERÃO, DANDO AO CACHOEIRENSE QUE NÃO VAI À PRAIA, O DIREITO DE TER E VER ATIVIDADES CULTURAIS EM CACHOEIRO, NESSE PERÍODO. E não esquecer que ali é área inundável; não pode e não deve receber investimentos elevadíssimos - deve voltar a ser construção simples e funcional, tal como era antes.


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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