Família e Hipocrisia Social - Jornal Fato
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Família e Hipocrisia Social


Nas últimas décadas pudemos observar campanhas objetivando responsabilizar as famílias, no cuidado especial com seus idosos. A imprensa divulga cenas aterradoras de maus tratos aos idosos nos espaços denominados de "asilos"?.

Duas situações merecem ser analisadas: as condições das instituições de acolhimento após a implementação da Política Nacional do Idoso, das Normas da Vigilância Sanitária e do Estatuto do Idoso, mudaram consideravelmente. E as famílias deixaram de ser único espaço de acolhimento, conforme comprovado pelos estudos realizados pelas feministas. Nas famílias ocorrem relações de opressão, abuso físico e emocional, o crime e a ausência de direitos individuais, tanto de mulheres, quanto de crianças e principalmente de idosos.

A concessão do Benefício de Prestação Continuada aos idosos, que não contribuíram para o INSS, tornou-se, para muitos, fator de grande desarmonia. Os contemplados com o benefício são, em inúmeros casos, os únicos a receber um recurso financeiro dentro das suas casas. E esse recurso que deveria ser utilizado para que pudessem alimentar-se melhor e comprar seus medicamentos, é desviado para atender a necessidades de filhos e netos, muitas vezes no consumo de drogas.

A família brasileira está desestruturada para solucionar os problemas sociais, principalmente de seus idosos, que vivem cada vez mais. Imaginar que o espaço familiar é um local de harmonia e cuidado pode ser desmentido pelas denúncias de maus tratos ocorridos, principalmente contra mulheres e idosos. Estamos muito distantes de famílias como um lugar único de proteção e afetividade.

Vimos, nas últimas décadas, o preconceito em relação às creches serem derrubados um a um. As mães que colocavam seus filhos nesses locais eram mal vistas. A necessidade das mulheres buscarem seus espaços de trabalho fez mudar essa realidade. Hoje as creches são denominadas de escolas maternais, jardins de infância ou centros de educação infantil. E os pais não sentem nenhum constrangimento em deixarem seus pequenos em locais em que, eles são cuidados por técnicos preparados especialmente para esse fim. E a pré-escola passou a ser  imprescindível para o desenvolvimento da criança.

Da mesma forma estamos assistindo, já neste século, o conceito de espaço destinado aos idosos ir também se transformando. Os asilos, antes locais onde se abrigavam idosos ou deficientes mentais, estão recebendo novas denominações. Pela Política do Idoso eles são chamados de Instituições de Longa Permanência para Idosos, ou carinhosamente de lares ou abrigos.

A partir de nova nomenclatura, a partir de novos investimentos em relação a uma população que cresce a cada dia, vale à pena construir ambientes institucionais, que tratem a velhice com a dignidade que merece.

O mais difícil é vencer o preconceito de quem ainda acredita que, somente na família os idosos podem viver felizes. Ou o preconceito daqueles que temem a opinião pública, que pode acusar de abandono a quem opte por uma instituição, onde seus idosos podem ter todo o atendimento, que nem sempre a família consegue suprir.

E principalmente, para os idosos, é prazeroso conviver e viver com seus iguais, numa partilha mútua que só enriquece experiências de quem possui histórias de longos caminhos percorridos.

 

Marilene De Batista Depes                          [email protected]

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