Desonestidades das Pessoas Honestas - Jornal Fato
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Desonestidades das Pessoas Honestas


Higner Mansur

Que seis ministros da Presidente tenham sido varridos, deixando o ministério sob reconhecimento de todos como praticantes de "malfeitos"?, não se estranha. Estranha, para mim, é a maldição ministerial alcançar o ministro Pimentel. Nos últimos quinze anos faço quase frequentes viagens a Belo Horizonte, onde o ministro faz carreira política e foi prefeito.

Exceto agora, quando a justiça afasta três vereadores, sob acusação de que pediram e receberam propina para aprovar lei em beneficio da construção de um shopping, quase não se falava de corrupção por lá e o ministro, então prefeito, era tido como bom e competente administrador; assim eu via com meus próprios olhos.

Mas agora é acusação séria, mesmo baseada em curto período da vida dita particular de Pimentel. Não se imagina, ao menos os normais, que alguém fature em dois anos, como consultor, dois milhões de reais de empresas e entidade que não só contribuem para campanhas eleitorais do ministro e sua turma, como são beneficiadas por contratos milionários com a administração de BH. Ser de esquerda, de direita ou de centro não pode tisnar a inteligência a ponto de só ver "malfeito"? na seara do outro, principalmente quando a corrupção campeia com malévolos frutos espalhados em evidentes sinais exteriores de riqueza de gente que não tinha lugar para cair, embora alguns já tivessem.

Que o ministro seja honesto, não duvido, mas a "pisada na bola"? de prestar milionária assessoria a quem tem excesso de interesse no dinheiro público, ninguém há de engolir. Como ser honesto (como parece o ministro) e receber dois milhões de quem receberá, à frente, centenas de milhões do cofre público? Cofre do qual era guardião o ministro e continuaram guardiões seu sócio e o atual prefeito eleito com seu apoio e, quem sabe, com apoio de quem recebeu consultoria.

No "Sociologia da Corrupção"? (Ed. Jorge Zahar, 1987, esg.), Celso Barroso Leite diz (pág. 55): "nunca consegui aceitar completamente a ideia de altos funcionários e até magistrados se dedicarem, depois de aposentados, a atividades de consultoria e de elaboração de pareceres. Por mais individual que seja a atuação nesses casos, é quase sempre difícil separar de todo a pessoa física do consultor ou parecerista do servidor importante que ele foi, o que constitui regra geral nesse tipo de atividade. Dito de outra maneira, não é fácil saber se quem faz a consulta ou solicita o parecer está recorrendo à competência ou à antiga posição, ao prestígio remanescente do ex-funcionário.

Outro exemplo: é frequente encontrarmos na diretoria de grandes empresas antigos servidores civis e militares de alta patente, cuja presença ali parece ligada de perto à possibilidade que normalmente conservam de abrir portas e conseguir facilidades para as empresas que pertencem, ou melhor, às quais se alugam, não raro sem dar conta disso"?.

Embora não consiga, pessoalmente, condenar o ministro como pessoa desonesta, não posso deixar de reconhecer que sua consultoria é das que podem se encaixar no título do artigo. Que o ministro não seja desonesto, posso acreditar, mas o ato foi. O ministro pode até não saber, mas quem o contratou, não necessariamente não sabe, e ele, homem público, deveria estar atento ou pagar pela desatenção. Não há indícios suficientes para condenar a pessoa, mas já há para condenar o ato, praticado por quem quer que seja.

 

PROFESSOR DEUSDEDIT BAPTISTA (05)

Nasceu em Pureza, RJ, 30.08.1912. Morreu em Cachoeiro, 04.11.1999. Seus pais, José Cupertino Baptista e Carmen Faria Baptista, mudaram-se para Muqui em 1919 e, em 28.08.1921, para Cachoeiro.

De todos os homens que conheci, o Professor Deusdedit foi quem mais participou de atividades públicas na cidade. Professor (Desenho, Inglês, Direito etc.), advogado, colaborador de jornais e revistas, radialista, vereador, orador, secretário municipal, diretor de escolas, animador de comícios e do desfile escolar da Festa de Cachoeiro; onde atuou deixou boa marca. Extremamente justo, foi ponto de equilíbrio dos governos dos prefeitos Hélio Carlos Manhães e Gilson Caroni. Na porta de seu escritório de advocacia existia o aviso: não patrocino causas de despejo de inquilinos.

Simples, tinha prazer em conversar com o homem do povo. Dos mais cultos homens da terra, e isso por não menos de 60 anos de atividade intensa, sua sabedoria não humilhava as pessoas "" ensinava.

Fundador do Partido Socialista Brasileiro (PSB), seu socialismo ele trouxe do berço. Nasceu pobre, nasceu digno. Morreu pobre, morreu digno. Trabalhou desde criança. Em Cachoeiro "catou"? carvão importado da Leopoldina, engraxou sapatos e foi, nas férias, operário da Fábrica de Tecidos. Em Muqui, aos sete anos, ganhou seu primeiro salário; comprou livro. Viciou-se na leitura e nunca mais parou. Durante infância e juventude, após o jantar, frequentava a Biblioteca da Maçonaria (Fraternidade e Luz) na Rua 25 de março, o que lhe deu muitas luzes. O bibliotecário ia namorar e Deusdedit torcia para ele demorar; poderia passar mais tempo lendo.

Queria ser engenheiro, faltou-lhe dinheiro. Estudando à noite, formou-se em Direito no Rio de Janeiro, 03/12/1936. Quixote, recusou-se a advogar na ditadura. Só tirou carteira da OAB em 20/07/1948, após a queda de Getúlio. Como em tudo, honrou a profissão. Com todas as razões, para mim, na minha geração, ao lado de Ney Santos Vianna, é o grande exemplo do exercício da advocacia. Nunca mentiu.

Foi quase tudo o que quis em Cachoeiro; por talento e por esforço. Não foi prefeito, embora quisesse. Candidato ao cargo, disse em 1985: "de cima para baixo fui o penúltimo"?. Azar de quem? Azar de Cachoeiro.

Gostava de ser chamado de professor. Professor Deusdedit.

(O livro "Deusdedit Baptista, Cidadão em Tempo Integral"?, escrito por amigos e admiradores (Booklink, 196 pág., R$ 35,00) está na livraria Cia. do Saber, Edifício Primus, centro de Cachoeiro).

 

DEUS NÃ?O Ã? RELIGIOSO
Amós Oz

Lembro-me hoje de uma velha história, em que um dos personagens, obviamente em Jerusalém "" onde mais seria? "" está sentado num pequeno café e há uma pessoa idosa ao seu lado. Eles iniciam uma conversa, e acaba que a pessoa idosa é Deus em pessoa. Bem, o personagem não acredita nisso imediatamente, mas após alguns sinais de presságios ele se convence de que quem está sentado do outro lado da mesa é Deus. E ele tem uma pergunta para fazer a Deus, uma pergunta muito urgente, é claro. Diz: "Caro Deus, por favor, diga-me, de uma vez por todas, quem tem a fé certa? Os católicos romanos, os protestantes, ou talvez os judeus, ou serão os muçulmanos? Quem tem a fé correta? E Deus responde nessa história: "Para lhe dizer a verdade, meu filho, não sou religioso, nunca fui religioso, nem sequer interessado em religião.
(O texto foi extraído das págs. 85/6 do livro "Contra o Fanatismo"? ou "Como Curar um Fanático"? "" isso mesmo, o livro tem dois títulos. Ediouro, 110 págs. Entre R$ 5,00 e R$ 24,90, no http://www.estantevirtual.com.br/q/contra-o-fanatismo"?).

O autor, israelense e pacifista, não pode deixar de ser lido pelas pessoas não fanáticas.

 

REVISTA NAS BANCAS

Está nas bancas a imperdível revista CACHOEIRO CULT nº 31 (R$ 5,00), que comemora seu quinto ano de existência. Como não me canso de dizer, é a melhor revista de cultura cachoeirense em todos os tempos "" ao menos nos tempos em que moro em Cachoeiro, desde 1966. Esta, de nº 31, supera as anteriores, em quantidade de páginas e, claro, em qualidade. O número especial, com 60 páginas, apresenta textos de grande parte dos novos escritores de Cachoeiro, alguns com alto padrão, demonstrando que não é preciso ir às capitais para fazer boa literatura. A província anda se superando.

Se alguém quer demonstrar aos de fora a força e a qualidade de nossa literatura, deve adquirir a Cachoeiro Cult 31 e mandá-la para eles. (Higner Mansur)

 

 

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