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No de repente

A primeira semana de dezembro começou sombria


A primeira semana de dezembro começou sombria: nove jovens, entre 16 e 23 anos, mortos e outros doze feridos em um baile funk na Zona Sul de São Paulo. Pela faixa etária, tínhamos a sensação de que teriam mais tempo de vida que de vivência. Em Cachoeiro de Itapemirim, mais um caso de feminicídio e, em 03/12/2019, um homem foi morto em plena luz do dia. Novamente, a estatística nos surpreende e choca. Contudo, o mês não precisa continuar assim. Esse quadro tem que mudar. Afinal, é mês de Natal, logo, de celebrar a vida!

Todavia, os fatos despertam, além de tristeza, reflexões: construímos em nós a falsa sensação de que a morte jamais nos alcançará. Inclusive, muitos têm medo de falar esta palavra como se isso evitasse seu alcance, doce ilusão.

Prefiro pensar que todos temos uma missão a cumprir. Bem verdade que muitos se desviam, fogem dos sonhos de Deus e enfrentam dores que, talvez, poderiam ser evitadas se entendessem os projetos de Deus para suas vidas. Pela conduta, quem sabe, alguns tenham seu tempo abreviado.

Apesar das inúmeras dúvidas, a morte é uma certeza. Quando chegará? Para uns na velhice, mas, para outros, na juventude, na infância, no auge da vida ou no decurso desta. Ninguém sabe a hora. Para os jovens que morreram no domingo, era só mais um baile funk qualquer. Talvez acreditassem que seria a festa de suas vidas, mas, por certo, ninguém imaginou que seria o dia do ADEUS.

Talvez, vestiram-se com o melhor que lhes representava, pensaram nas paqueras que teriam, mas, tudo, tristemente, mudou no de repente. Cumprindo ou não os projetos de Deus, a missão foi inesperadamente encerrada. Mais uma vez restaram pais e familiares, com a alma dilacerada, numa busca por culpados que não aliviará a dor e, quiçá, perguntando-se onde erraram ou se lamentando pelo "eu amo você" que não mais será dito.

Muitas lágrimas, muitos porquês, muitos culpados, mas, também, uma oportunidade de rever condutas, de consertar erros, de selecionar ambientes a serem frequentados e de não aceitar relacionamentos abusivos.

O fato é que se acredita que uma pessoa com 50 anos tem menos vida pela frente que para trás. Contudo, o divisor não é a idade. O que é? Ninguém sabe de verdade. Apesar disso, nós, regra geral, nos achamos espertos demais e esquecemos que, por mais que nos preocupemos, quem de nós poderá acrescentar uma hora que seja à sua vida? (Bíblia, Mateus 6, versículo 27)

Quem de nós poderá certificar os eventos futuros antes que se materializem? Certo dia ouvi alguém dizer que "temos que estudar, construir as possibilidades profissionais como se fôssemos viver 100 anos, mas temos que amar como se fôssemos morrer hoje", pois, na verdade, não sabemos o que nos espera e, pela surpresa, toda sociedade sofre quando jovens têm a vida ceifada, principalmente se a causa for violenta.

Por graça divina, aos que creem em Cristo, há, no coração, uma certeza: a vida não acaba por aqui. A saudade fica, a dor, vez e outra, fisga no peito, mas a vida do ausente apenas retornou à morada eterna. Assim, escolher a salvação é possível e necessário, mas, seja qual for a idade, prolongar essa vida aqui, tal como conhecemos, não nos cabe, pois ela é, integralmente, provida pela misericórdia de Deus.

Aos precocemente mortos, meu desejo de que estejam junto de Cristo, aos que ainda estão recebendo a dádiva de viver, que não se percam entre as vaidades e ilusões, pois estas passam e, no fim das contas, de nada valerão. Isso sem considerar que algumas ilusões apressam o retorno.

 


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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