Conexão Mansur: Personagens de Nossa Terra - Jornal Fato
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Conexão Mansur: Personagens de Nossa Terra

Já publicadas, nesta Conexão Mansur, 15 delas; aqui vão mais três, de números 16 a 18


- Ilustração: Zé Ricardo

Continuo republicando as pequenas biografias cachoeirenses que intitulei "Personagens de Nossa Terra", publicadas a partir de maio de 2006, a pedido de Joacyr Pinto, na revista 7 DIAS.

Já publicadas, nesta Conexão Mansur, 15 delas; aqui vão mais três, de números 16 a 18.

 

(16) CORONEL FRANCISCO BRAGA

Francisco de Carvalho Braga, o "Chico Braga" nasceu em Guaratinguetá, São Paulo, em 24/02/1874, filho de Sebastião Dalmada e Ana Marques de Carvalho Braga. Faleceu em Cachoeiro em 28/12/1930. Antes de morar em Cachoeiro, aportou no Rio de Janeiro. Visitava com frequência Cachoeiro e sua tia, a Professora Graça Guardia. Numa de suas viagens a Cachoeiro, conheceu e apaixonou-se por Rachel Coelho (Braga), filha do proprietário da Fazenda do Frade, localizada bem próxima dos picos do "Frade e a Freira". Casou-se com Rachel e foi morar na fazenda do sogro. Depois, adquiriu a casa da Rua 25 de março, hoje "Casa dos Braga", bem em frente ao Centro Operário e de Proteção Mútua, do qual foi presidente.

Teve 13 filhos, dos quais apenas sete chegaram à idade adulta: Jerônimo, Carmozina, Newton Braga (o fundador do Dia de Cachoeiro), Rubem Braga (o maior cronista brasileiro), Armando Braga (fundador do jornal "Correio do Sul"), Ieda e Ana Graça Braga.

Foi tabelião e primeiro prefeito da cidade. Elegeu-se em 23/03/1912 (ou 25?). Governou de 23/05/1912 a 23/05/1914. Organizou e calçou as ruas da cidade, e deu novas instalações à rede de energia elétrica. Durante seu governo a Câmara Municipal aprovou, em sessão de 14/06/1912, lei que autorizava "a mandar levantar as plantas definitivas do lado sul da cidade, compreendido o lugar denominado Guandu e as das sedes de todos os distritos, a fim de que cessem as construções arbitrárias e fora do alinhamento", coisa que não é muito respeitada na cidade, nos dias que correm.

 É considerado um dos precursores do combate à poluição sonora. Baixou decreto que proibiu o trânsito pelas ruas da cidade dos barulhentos carros de boi que, com eixos apertados, produziam som bastante desagradável para muitos. Dizia o decreto, conforme lembra o historiador Manoel Maciel: "Artigo 1º. É expressamente proibido que os carros de boi transitem chiando pelas ruas da cidade".

Para homenageá-lo Cachoeiro deu seu nome a importante rua no centro da cidade, ligando-o ao bairro Guandu, região comercial de grande relevância até hoje.

 

(17) FLORENTINO AVIDOS

"Filho do português Florentino Avidos (mesmo nome do pai) e de Izabel de Souza Avidos, nasceu em 18/11/1870, na Fazenda Graciosa, distrito de São João Marcos, RJ. Morreu aos 85 anos (28/02/1956), na Tijuca, RJ. Desde a infância era pianista, aprendeu com sua mãe. Formou-se engenheiro, no Rio. Aprovado em concurso público federal, aos 25 anos assume cargo de engenheiro no Ministério da Agricultura, Viação e Obras Públicas. Primeira obra: construção da Usina de energia elétrica da Ilha da Luz, em Cachoeiro, dos mais ousados projetos de engenharia da época.

Aqui foi acolhido com respeito e simpatia; logo conquistou as graças dos irmãos Jerônimo e Bernardino Monteiro. Conheceu a mais jovem das irmãs deles, Henriqueta Souza Monteiro, beleza exuberante, a mais bela das cachoeirenses. Casaram-se em outubro de 1897, ele com 27 e ela aos 18 anos e tiveram 5 filhos.

Designado para dirigir a construção da Ferrovia Vitória - Rio e do viaduto ferroviário de Soturno, obra de fôlego e importância, obra prima da engenharia nacional. Mediador na primeira greve que estourou na região, com paralisação de 800 operários da ferrovia.

Para o historiador Luiz Derenzi, seu contemporâneo, foi "homem agressivamente honesto e franco, trabalhador intimorato, econômico e enérgico".

Aos 54 anos (23/05/1924) assumiu o governo do Estado dizendo: "não teremos um processo de desenvolvimento adequado e responsável com a sociedade do futuro se todos não souberem ler e escrever". Verdadeiro mestre de obra, seu governo construiu as pontes de Vitória (Cinco Pontes, que leva seu nome), a ponte de Colatina (700 m de extensão), o Teatro Carlos Gomes e muitas outras obras, em impressionante volume que, até hoje, chama a atenção. Daí os apelidos "Dr. Obreiro" e "O Homem das Pontes". De pouca burocracia, ágil nas decisões. Trazia finanças, equipe e programa de trabalho rigorosamente sob controle. Teve compromisso com a finalização de obras que iniciou.

Deixou o governo em 30/06/1928. Eleito senador, teve, como tantos, carreira interrompida pela Revolução getulista de 1930. Morreu pobre, amparado pelos filhos. Amava Cachoeiro, como amou a belíssima Henriqueta". (Esta biografia é inteiramente baseada no livro "Florentino Avidos - Um Homem à Frente de seu Tempo", de Marien Calixte, que também ama Cachoeiro e a quem agradeço pela transcrição).

 

(18) GIL GONÇALVES

Gil Gonçalves nasceu em Cachoeiro (02/10/1908). Filho de Ricardo Gonçalves, espanhol e de Virgulina Maria Gonçalves, de Itapemirim. Do pai, benemérito da cidade, fundador da Maçonaria e partícipe de movimentos em prol da cidade, adquiriu a paixão pela terra. Construiu, foto a foto, o maior arquivo fotográfico da História de Cachoeiro. Não era fotógrafo e, diz a lenda, nunca fotografou. Segundo Paulo Herkenhoff, o início se deu com fotografias do velho Ricardo. Parte do acervo foi reunido em livro (Imagens de Cachoeiro, esgotado) patrocinado pelos descendentes, na Fundação Ceciliano Abel de Almeida.

Estudou no Bernardino Monteiro e no Pedro Palácios (ao lado da Casa dos Braga), em Cachoeiro e no Pio Americano, no Rio. Casou-se em 05/10/1940 com Lysette Sandoval Gonçalves, com quem teve os filhos Carlos Sandoval, Lúcia e Hilda. Em 1945 entrou para o Banco do Brasil, lá permanecendo até a merecida aposentadoria.

Amigo de infância de Rubem e Newton Braga, tinha frequentes contatos com o cronista maior. Deixou escrito artigo publicado em 1934 no Correio do Sul (sobre o vocábulo "Cachoeiro"). Escreveu relato de tumultuada viagem de barco (Cachoeiro a Itapemirim), a pedido de Rubem Braga, no qual tive honra de dar redação final.

Seus amigos, sabendo do seu rigor sobre o nome da cidade (Cachoeiro de Itapemirim), com frequência diziam-lhe "Cachoeira do Itapemirim". Conforme Newton Meirelles, incontáveis as vezes em que Gil Gonçalves explicava didaticamente: "é "Cachoeiro de" e não "Cachoeira do"", não se furtando a uma rebuscada histórico-geográfica. Seu nome homenageou Gil Goulart, dos mais importantes administradores de Cachoeiro.

Faleceu em 26/08/1996, em Cachoeiro, vésperas dos 88 anos. Grande exemplo de amor à terra, o que demonstrou ao colecionar e entregar à posteridade o importantíssimo acervo "Coleção Gil Gonçalves". Tanto seu respeito pelas fotografias, que registrei no prefácio que fiz no seu livro póstumo: "Lembro-me do início. Por gestos que me pareciam involuntários e naturais, era proibido a mim e a qualquer outro tocar as fotografias. Pairava no ar um respeito sagrado por aquelas preciosidades. Que eu, e mais quem fosse, as visse nas mãos dele, já trêmulas, embora comandadas por um cérebro de prodigiosa memória que o acompanhou até o fim de seus dias". Taí um cachoeirense que deixou saudades.


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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