Apresentações e debates em Monte Alegre, interior de Cachoeiro - Jornal Fato
Cultura

Apresentações e debates em Monte Alegre, interior de Cachoeiro

O Raiar da Liberdade é considerado a mais antiga festa da cultura tradicional do estado, e poderá ser declarado Patrimônio Cultural Imaterial do Espírito Santo.


- Fotos: Divulgação
Ao som de tambores, palmas e cantos, o quilombo Monte Alegre, em Cachoeiro de Itapemirim, deu vida a mais uma edição do Raiar da Liberdade, na noite do último sábado. Para relembrar o fim da escravidão no Brasil, apresentaram-se diversos grupos que compõem o patrimônio cultural da região sul-capixaba, e dividiram o espaço com centenas de visitantes, que anualmente prestigiam essa importante festa, comandada há mais de 6 décadas pela mestra de caxambu Maria Laurinda Adão.

O Raiar da Liberdade é considerado a mais antiga festa da cultura tradicional do estado, e poderá ser declarado Patrimônio Cultural Imaterial do Espírito Santo. "O Estado, ao conceder esse justo reconhecimento da festa como Patrimônio, estará contribuindo para atrair diversos benefícios sociais, culturais e econômicos para Monte Alegre", afirma o pesquisador Genildo Coelho Hautequestt Filho, que também é coordenador de projetos da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense, entidade que organiza o evento há mais de vinte anos.

O grupo de caxambu Santa Cruz, do próprio quilombo, é quem coordena as festividades. Trata-se de um dos mais tradicionais grupos de caxambu da região Sudeste, o qual recebeu do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) o título de Patrimônio Cultural do Brasil. "Todos os anos recebemos, de braços abertos, os grupos e os visitantes. Quem quiser chegar, sempre será bem-vindo para o 13 de Maio, que também é o dia em que o nosso Caxambu foi criado", comenta Maria, mestra do grupo.

No evento, como costuma acontecer em cada edição, ocorreram apresentações de diversos grupos de caxambu, jongo, folia de reis, capoeira, Charola de São Sebastião e boi pintadinho, sendo a maioria deles de Cachoeiro e região. Além disso, a programação deste ano contou com a realização de uma missa afro, comandada pelo Pe. Daniel Nyanydh e pela Equipe de Música da Pastoral Afro da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim.

Outro destaque da programação foi a realização de uma mesa de debate, discutindo o tema "Direito à cultura dos povos e comunidades tradicionais: dever do Estado", com a participação da mestra de caxambu Rosimar Domingos, da professora Luciene Carla Francelino e da deputada estadual Camila Valadão. "A Festa Raiar da Liberdade é símbolo de resistência da cultura afro-brasileira, desde sempre. É preciso avançar esse diálogo para que o reconhecimento e o valor de grupos e entidades culturais seja considerado pelos governantes, e que eles sejam preservados como patrimônio imaterial. O nosso 13 de maio é dia de festejar, mas também é dia de debater e reivindicar o nosso direito de existir de fato, livres de preconceitos e de qualquer tipo de violência", afirma a mestra Rosimar.

Este ano, este projeto está sendo realizado com recursos públicos do Governo do Espírito Santo viabilizados pela Lei de Incentivo à Cultura Capixaba, da Secretaria da Cultura, e conta com o patrocínio da EDP, distribuidora de energia elétrica do Espírito Santo, e também com o financiamento do Funcultura (edital 6/2021).


Lançamento de livro
 
 
 
Na ocasião, aconteceu também o lançamento do livro Memórias do Caxambu Santa Cruz, de autoria de Genildo Coelho Hautequestt Filho, Luan Faitanin Volpato e Rosângela Venturi Barros. Este é um projeto que resgata a história do grupo de caxambu de Monte Alegre, explica sobre o folguedo e apresenta os seus componentes, além das conquistas, dos desafios e das perspectivas do grupo, tudo isso sempre integrado a um pano de fundo histórico, social e político.

"Participar da criação de um instrumento que pode contribuir com a perpetuação de um patrimônio capixaba tão valioso tem um significado muito importante para mim. Esperamos que a importância dessa obra e, principalmente, do caxambu Santa Cruz seja realmente compreendida e respeitada por todos", afirma Luan, que fotografa apresentações do grupo há mais de uma década e é o autor das fotografias do livro.

A obra Memórias do Caxambu Santa Cruz é um projeto contemplado pela Lei Rubem Braga de incentivo à cultura, da Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim, e financiado pelo Funcultura, da Secretaria de Estado da Cultura - Secult, por meio do Edital 9/2021: Seleção de Projetos Culturais Setoriais e Concessão de Prêmio para Pontos de Memória..

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