Uma literatura crônica - Jornal Fato
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Uma literatura crônica


Meu coração anda transbordando estes dias. Estou cheia de emoção e amor que andam escapando pelos poros, pelas palavras, pelos olhos e coração. Minha escrita sempre caminhou comigo, embora, de tempos em tempos, costumo deixá-la mais a margem, deixo de regar a alma e assim ela entra num estado de secura, esgotamento e rugas.

 

Mas, neste momento, tenho deitado as mais robustas e belas palavras ao meu lado, em um enamoramento apaixonante. Ela traz para perto experiências singulares e pessoas que desejam a literatura em abraço.

 

Nesta semana de lançamento do meu primeiro livro Arame farpado, encontro-me em espírito de gratidão, de convencimento na crença do divino- Deus- na tolerância quando sinto que tantas coisas me escapam e no respeito às minhas frestas e lacunas que sei jamais se completarão. E isso também me permite dizer porque estou desejando e esperando.

 

A ausência se converte na minha poesia, na forma de não dizer as coisas e, por tantas vezes, acaba aflorando e sobressaltando o outro nas palavras que mais sugerem do que definem. Aliás, não quero sentenças e amarras. Quero que o rio escorra, o verso ecoe e a alma se misture a vida, faça massa, cresça o bolo.

 

A literatura é a forma que existo, mistifico o improvável e crio casos de amor e de ódio com a existência. Há um estado de simbiose poética entre nós, o gozo de corpo e espírito. Ela é a parte mais linda que fomento, é a voz macia que toca meus ouvidos.

 

A literatura é indispensável para tornar a vida mais suportável, com menos ressacas e de esperanças amontoadas. E isso me alimenta, abastece as emoções e revigora o que tem ressecado. Arame farpado é a presença do corpo poético, é a forma que mantenho cravadas minhas perspectivas e minha contemplação para o sujeito.

 

Sou grata na alma e no coração porque há a arte e os leitores que me leem semanalmente. Àqueles que torcem profundamente a cada conquista, que misturam minhas palavras as suas, que solidarizam com meu discurso e o evocam em tantos outros.

 

Meu "filho parido" voará em outros mundos como todo filho que se amplia, se desloca, se propaga. É assim que o sinto?a cria já desmamada e que, neste momento, já dá seus passos. O legado de uma obra literária se estende no outro, nos hemisférios e cenários criados a partir do encontro do leitor com as verdades e as emoções transfiguradas em palavras. Sou agraciada por ter a preciosidade da poesia.

 

Obrigada a todos vocês leitores pela generosidade e pelo afeto.

 

E que venha 28 de outubro!


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