O arame farpado é um instrumento utilizado para estabelecer territórios, servindo como proteção e demarcação de acesso. É indispensável para que o espaço seja reconhecido de forma resistente, ainda que tenham secas e temporais.

Não é diferente com a literatura. Escrever é ser resistente aos embates que assolam nosso cotidiano, é ir contra a corrente do imediatismo e ser voz em tempo de tantos emudecidos. A palavra é a salvação do sujeito diante de todos os vazios que insistem sobreviver neste mundo fragmentado e de alicerces líquidos.

Neste contexto pós- moderno, decidi habitar às margens, apropriar-se de um discurso próprio e mais eficiente, embora a sociedade deseja-o tornar areia, farelo. Mesmo assim, resolvi arriscar, ir em frente, inventariar novas vertentes e possibilidades. E, graças a Deus, vi que muitos resolveram ir nestes mares comigo.

Os leitores de Arame farpado são exceção à regra que este "mundinho" tenta criar, já que o fomentado é ser igual, seguir padrão, caso contrário, será, legitimamente, descartado. Os que compartilharam comigo daquela manhã do dia 28 de outubro, em um lugar que respira poesia e beleza, acreditam que a arte- só ela- é capaz de transformar o sujeito e ressignificar a realidade, que anda tão desgastada e à deriva.

Os queridos leitores que abraçaram a minha literatura, ou melhor, a nossa literatura me dão a possibilidade de acreditar em dias melhores, retiram o pó que costuma insistir na nossa existência, limpam o mofo dos momentos de anestesia e de abandono e enriquecem os olhares poéticos.

Tenho que agradecer a cada leitor, pois o autor reside no outro, na palavra que se amplia quando se mistura a outros discursos e a diferentes vivências. Desejo que sejamos muitos, não em estatísticas, e sim em sensibilidade, vozes, reflexões e referências.

Sou grata por ver que somos mobilizadores e podemos ressurgir- mesmo que haja cinzas- aprimorar, relativizar e enriquecer a existência com produtores e leitores que tenham substância e verdade. Leitores que provoquem o amor e a beleza poética quando abraçam um bom texto, quando beijam com a alma livros que permitam sonhar e ver além dos "arames farpados." 

Grata sempre!