Drogas e pobreza - Jornal Fato
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Drogas e pobreza


 

Vemos nos jornais que grande parte dos crimes cometidos no Brasil tem relação com as drogas, o que leva ao sentimento de que a situação só tende a piorar, pois o combate ao tráfico por aqui não tem tido resultados efetivos.Aliás, é assim em quase todo o mundo: a produção, consumo e venda de drogas são considerados ilegais e, dessa forma, são combatidos com os aparatos criminais e judiciais de cada Estado. No entanto, é notório que a política de "guerra às drogas" parece não reduzir o consumo dessas substâncias e as consequências nocivas que ele provoca à saúde e à segurança públicas.

 

Por isso, alguns poucos países começam a debater a necessidade da reformulação total do tratamento dado pelos governos à questão. Desnecessário mencionar a importância da abordagem social, pois é sabido que o binômio educação-emprego é das soluções mais eficazes para o controle de todo tipo de criminalidade, incluindo o tráfico.

 

Falamos de uma proposta mais ousada, que vem sendo estudada pelos especialistas: a legalização das drogas. O tema é polêmico, claro. Mesmo a maconha,considerada por muitos como uma substância menos prejudicial à saúde do usuário, e, portanto, passível de descriminalização, é tida por outros como a porta de entrada para a dependência de drogas mais "pesadas", como cocaína, crack e heroína, o que a tornaria tão perigosa quanto as demais.

 

Mas algo precisa ser feito. No Brasil, observa-se que as atuais políticas proibicionistas e criminalizantes das drogas afeta principalmente as populações mais pobres. A violência que envolve o tráfico de entorpecentes atinge de forma direta as comunidades mais carentes, com a cooptação de jovens com baixa renda e escolaridade. E até mesmo os usuários condenados pela Justiça, muitas vezes erroneamente acusados de serem traficantes, são pobres.

 

Há ainda um outro fator a considerar: se no mundo todo é o pobre que está envolvidonas operações do dia a dia do tráfico, nos morros e nas ruas, não se pode dizer o mesmo quanto à estrutura do tráfico como negócio. O que já foi mera suspeita hoje parece inquestionável:  políticos e grandes empresáriosestão na base do tráfico, são eles os chefões reais desta atividade criminosa, embora raramente tenham sua "identidade secreta" revelada. E a eles não interessa que sua milionária fonte de renda passe a ser tributada e regulada pelo Estado.

 

O combate às drogas, portanto, está relacionado a uma questão mais ampla, que é a desigualdade social. E a resistência à legalização pode demonstrar a posição confortável dos grandes traficantes e dos usuários das classes média e alta, que conseguem se manter distantes dos presídios.

 

Enquanto isso, nós, pobres mortais, preocupados com a vida de nossos filhos e com a criminalidade, continuamos gastando argumentos românticos e religiosos para discutir superficialmente o assunto.Tudo que se diztraz embutido muito preconceito e desconhecimento,seja contra ou a favor. Não há estudos oficiais sérios e a maioria dos governos se esquiva do tema, sem buscar qualquer outra solução para o problema, ainda que não seja a legalização. Parece mais fácil apostar na eterna luta entre polícia e bandido, ignorando solenemente o fato de que, neste embate,quem tem perdido, há décadas, somos nós, os cidadãos comuns. 

 


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