Descobrindo Cachoeiro - Jornal Fato
Colunistas

Descobrindo Cachoeiro


Eu sou do Espírito Santo. Nasci na capital. Cresci à beira de um braço de mar, bem no centro da Ilha, no bairro de Santo Antônio. Desde sempre, de suas andanças pelo Estado, meu pai contava sobre o sul. Dizia serem as sulinas as mais belas das capixabas e os homens os mais bairristas. Quando aqui cheguei, não entendia a razão do bairrismo. As coisas que via eram simples demais. Aos poucos fui conhecendo, descobrindo, como um pano a cair e mostrando o Cachoeiro que inebria aqueles que aqui nasceram. Em breve mostraria ao visitante: Rua 25 de Março e a Casa dos Braga. Lá, na casa que o nosso maior escritor descansava e aproveitava a sombra da grande árvore, leria alguns trechos das "Boas coisas da vida" e reminiscências de sua infância. Seria como um filme em preto-e-branco as lembranças do cronista. Ofereceria um jenipapo, quem sabe uma romã - suas sementes facilitariam o amor pela casa. Com o namoro em vista, seguiria em direção ao Baiminas. No Parque do Itabira e a vista da pedra ao lado, Frade e a Freira, o primeiro contato com a natureza e as pedras sulinas. Contaria a história das duas pedras, não muito, deixaria o encantamento se fazer pela aura vigente. Melhor seria descobrir por si só a magia da pedra. Do centro da cidade, da Rua Moreira, das serras e flamboyants da composição do Raul Sampaio e eternizada pelo rei da música brasileira - Roberto Carlos, de todo o balaio e dos córregos que estão encobertos, procuraria o interior.

 

 Cafundó, não o de Judas, e sim de homens que guardaram a terra e a deixaram como a natureza nos ofertou para a primeira reserva de Mata Atlântica particular do Espírito Santo. Na fazenda a névoa encobre, nas primeiras horas do dia, a beleza a ser apreciada. Logo, o sol desbrava e nos oferece o esplendor. O canto dos pássaros e a gota de orvalho na orquídea, eleita rainha da selva pelo colibri, nos preparam para a levitação. Conhecer Cafundó é o começo, uma parte da cidade que se esconde do mundo.

 

Mais alguns quilômetros o Distrito de Burarama. Na igreja e na pousada ao lado um momento para o descanso. Com o corpo cansado e o espírito leve, pela janela do quarto de dormir, observaria os colibris dançando e festejando o sugar do néctar oferecido pela flor. Os olhos se fechariam, guardando a beleza daquele momento. O momento guardado pela retina pode servir às gerações futuras que, talvez, não tenham a chance de assistir um espetáculo de tal envergadura.

 

Bem cedo partiria para as cachoeiras das pedras de Burarama. Após banho, tertúlia e regalo iria ao Distrito de São Vicente. A Cachoeira Alta, jorrando suas águas, faz o visitante se desfazer em sorrisos, e a força da queda da água impulsiona o visitante a ir adiante, percorrendo as trilhas. No cume da Pedra da Penha, junto à imagem, sentiria-se único.  Agradeceria aos céus e retornaria. Na descida, a visão do vale e toda comunidade. Mesmo com toda dificuldade, a certeza da reconstrução aparece com a bola, seja de couro (futebol), seja de madeira (bocha), que alegra e impulsiona o sangue italiano. Deixaria o vale com a convicção que a beleza de Cachoeiro se harmoniza no interior e no alto dos seus morros e pedras. E por isso, secreta e eterna. 


Comentários