Calçada MENTIRA Cidadã - Jornal Fato
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Calçada MENTIRA Cidadã


 

O escritor Ignácio de Loyola Brandão, há alguns anos, veio a Cachoeiro, em um desses programas culturais infelizmente extintos. Na época adquiri livros dele, inclusive seu "Melhores Crônicas", do qual grifei e transcrevo, aqui, duas passagens - parece Cachoeiro:

 

"Até que, de repente, contemplamos nossa cidade de fora e admitimos: como a suportamos? Por que não protestamos e nos conformamos em viver num lugar esburacado, calçadas podres, ruas sujas, poluição visual? Que sentimento masoquista é esse? E por que não lutamos contra os que a tornam feia?" (2001)

 

"Conheço poucas cidades grandes com calçadas tão ruins quanto São Paulo. Há 37 anos moro aqui. Nunca vi prefeito que se preocupasse com o problema. Que pensasse: calçadas são feitas para andar, parte de um projeto urbano, necessidade. Nenhum administrador parece ter andado pelas calçadas. Saem nos carros oficiais e, quando caminham, são uns poucos metros, entram nos prédios pela garagem". (1994)

 

Bem se vê que a matéria "calçadas", um dos braços podres da acessibilidade, já há tempos é problema em todas as cidades - Cachoeiro também. Só fui entender isso quando me encontrei, em campanha eleitoral, com Dr. Douglas Danzi, que me sabatinou; quando percorri, a pé, pontos centrais da cidade, em busca de votos errantes de eleitores esclarecidos e quando recebi o texto abaixo, do Francisco Godoes Sobrinho.

 

Com a vitória de Victor Coelho para prefeito, fui ao seu plano de governo, registrado no Tribunal Eleitoral, em busca do que ele prometera sobre o assunto: prometeu "implantar o programa Calçada Cidadã, gerando acessibilidade aos cidadãos com deficiência".

 

Da minha parte, espero e acho que ele vai fazer mais, não se limitando à propaganda, como fez o atual prefeito, falando e abusando da expressão "Calçada Cidadã", quando se sabe que a cidade é tratada como Lixo. Se o leitor olhar à volta, verá quantos terão caído nas calçadas, calçadas de má qualidade e de horrorosa fiscalização. Eu mesmo, olhando para a minha, que não é minha, vejo quão errada está.

 

Espero que quando implantados novos programas culturais em Cachoeiro, trazendo à cidade gente que sabe escrever, e não certos despropositados, como estamos acostumados, apareça, novamente, Ignácio de Loyola Brandão e que ele não seja derrubado por calçada não cidadã na cidade que prega a mentira da Calçada Cidadã.

 

Não é projeto de uma semana, é projeto de mandato inteiro, durante o qual, haverá, sim, fiscalização, mas haverá, também, compreensão inicial para todos - governo e donos da calçada. O que não pode permanecer é a mentira cidadã, se é que existe esse troço.

 

Só Depende de Nós

 

Francisco Godoes Sobrinho

 

A Cidade de Cachoeiro é o que é porque nós cachoeirenses não damos opinião. Temos vergonha de dizer que alguma coisa pode melhorar. E assim os anos vão se passando e as melhoras são quase imperceptíveis.

 

Quando vejo o canteiro central da Av. Francisco Lacerda de Aguiar, fico imaginando porque não dá certo esse canteiro. Será que custaria tão caro assim, para termos um jardim bonito ali na Avenida? O que falta? Olha Vitória, Olha Castelo e outras cidades, porque funciona lá e não aqui?

 

A nossa Avenida Jones dos Santos Neves: - calçadas irregulares, tem até parede na calçada. Semana passada estive por lá, num Posto de Gasolina próximo ao Bradesco/Banco do Brasil e percebi que, na divisa entre Posto e Loja de Revenda de Automóveis, além da calçada ser estreita, tem uma parede fazendo a divisa dos vizinhos. A pessoa tem que pular por cima se quiser passar no local. Na mesma Avenida, da Consolação até o Trevo do BNH, não tem uma única árvore para se refrescar do Sol de Cachoeiro.

 

O nosso Rio Itapemirim deixado às traças - descaso total. São assuntos que precisamos debater, com a finalidade de atender a todos. Melhorar para todos.

 

Quem viaja para o Sul, quando volta, é isso que o Higner Mansur colocou no quadro acima, toma-se um choque. Horrível saber que não moramos numa cidade limpa, mais organizada e com muita lentidão nas melhorias. Penso que só depende de nós.

 

(Francisco Godoes Sobrinho nasceu e mora em Cachoeiro há 61 anos).

 

DENÚNCIA SERÍSSIMA de AMARAL

 

Ouço as transmissões de rádio das sessões da Câmara. Na última terça fiquei abismado. Ouvi o Vereador Amaral, que apresentou sério trabalho técnico de órgão federal, o Serviço Geológico do Brasil. Amaral mostrou registros bombásticos de 20 bairros de Cachoeiro. Fui atrás do vereador, para ver as pranchas projetadas na Câmara. Escandaloso, deixa a prefeitura muito mal: documentos de dezembro/2011, produzidos - repito - pelo Governo Federal. Nos documentos, que a prefeitura tem há quase três meses e sonega ao público, veem-se coisas estarrecedoras, como a necessidade de desocupação e demolição de muitas casas e alguns prédios já sob risco de desabamento com mortes, em caso de precipitação pluviométrica acentuada (chuva mais forte), como em São Vicente.

 

Ainda que sejam do governo federal, e eu não duvide da seriedade dos documentos, a prefeitura pode duvidar. O que não pode é sonegar a mais de 6.000 cachoeirenses a informação de que o órgão federal diz que eles correm sérios riscos de morte. Se esses cachoeirenses não acreditarem no risco, pode ser problema deles, mas ultrapassou o limite do bom senso a prefeitura deixar de avisá-los. A prefeitura silenciou e quando falou uma única vez foi para desclassificar o trabalho federal (a prefeitura chamou o trabalho federal de superficial - está no ES de FATO de 23/12/2011).

 

Calar é tão ruim quanto desclassificar o trabalho técnico federal. Chegou a hora de a sociedade se manifestar com maior rigor, como fez Amaral. Ouvi o pronunciamento dele e ouvi o vereador pessoalmente: ele não pede grandes obras para constranger o prefeito. Pede, só, que o povo seja informado da seriedade do assunto; pede, só, transparência; pede, somente, respeito pela vida de milhares de cachoeirenses. Pede dar a eles, ao menos (já que não podem, não querem ou não sabem dar mais), oportunidade de conhecer a possibilidade da tragédia.

 

Se mais precisasse acrescer à possibilidade da tragédia, há o fato comprovado também por órgãos federais de que Cachoeiro é o município que mais se utiliza de decretos emergenciais por desastres naturais decorrentes de chuvas. Nos últimos 20 anos foram 22 decretos, mais de um por ano. Cachoeiro é campeão nacional.Os principais problemas se concentram na construção em morros com alta declividade e à beira do Rio Itapemirim e córregos. A fiscalização municipal, aí, pela inoperância da administração, é tosca.

 

O Conselho do Plano Diretor, que nem sabe ainda o que relato, não consegue aprovar nada que pare com o absurdo. Ao contrário, o Conselho se permite aprovar tudo o que seu mestre mandar. (claro que, quando falo de CPDM, atual e anteriores, estão implícitas exceções à regra).

 

PS: Em 15/12/2011, quando divulgados os dados de Cachoeiro o governo federal divulgou a informação: "Com o mapeamento poderemos salvar vidas, conscientizar a população e governos estaduais e municipais. O levantamento foi passado para as defesas civis" dos municípios.

 

Minha observação de novembro de 2016 - O texto acima foi publicado, aqui, em março de 2012. Em maio de 2012, dois meses depois, a Prefeitura mandou extenso relatório ao Vereador Amaral, onde consta, como um mantra, por oito vezes, a frase "Quanto à necessidade de remoção de casas, será necessária a realização de vistorias detalhadas e pontuais".Lamentável que, 4 anos e meio após, nada se ouviu sobre a tal "necessária realização de vistorias detalhadas e pontuais". A chuva vem ai é quem paga é o povão.

 

Vê isso Victor Coelho.


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