365 dias antes do desespero - Jornal Fato
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365 dias antes do desespero


Ciumenta eu sempre fui sim, mas esses picos de surto só tenho com você. Claro que é porque te amo mais do que a qualquer outro, mas também porque você me provoca. Você fala de uma irmãzinha de criação que visita com bastante regularidade, e descubro que ela não passa de uma vizinha que dormia na sua casa quase todas as noites, que tem vinte e dois anos e curvas perfeitas. Me proíbe de pegar carona com quem quer que seja, mas está sempre desfilando pelas ruas no meu carro com suas amigas, e sua desculpa é trabalho. Parece que trabalha em uma agência de garotas de programa e, no entanto, é porteiro de uma casa de festas infantis. Isso sem falar nas coisas estranhas que aparecem nas faturas do seu cartão de crédito, no celular que você faz tanta questão de manter por perto que entra até na piscina com ele e nas reuniões intermináveis que varam a madrugada, assim como as partidas de futebol.

 

Tento me controlar, mas a caixa do supermercado te passando aquele bilhetinho cafona na minha frente foi demais. Quebrei as gôndolas, o computador e a cara daquela ordinária sim, e quebraria de novo, mesmo que preço seja alto. Ainda que no final a única coisa que fique realmente destroçada seja eu. No fundo eu bem sei que você gosta. No final de cada escândalo, um sorrisinho bobo no canto da sua boca. O meu amor te envaidece, ainda que pareça obsessivo.

 

A ideia de te dividir com alguém é quase tão insuportável quanto a de viver sem você. E sei que sente o mesmo. Ninguém mais ousa chegar perto de mim. Mas não me importa, não preciso mesmo de mais nada além de estar agarrada a você para o resto da vida. Eu posso continuar te ajudando nas despesas com seus filhos, posso suportar a intromissão a sua mãe, posso continuar sem comer porque você não quer que eu engorde, posso entender suas críticas e tentar me encaixar na sua visão de mulher ideal. Em nome do meu amor, posso todas as coisas.

 

Agora para de fingir que arruma as malas para ir embora, porque tá virando rotina. Você quer ficar tanto quanto eu quero que fique. Eu vou me ajoelhar de novo, mas será a última vez. Não vamos mais brigar, tá?

 

 


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