Turismo - Futuro de Cachoeiro - Jornal Fato
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Turismo - Futuro de Cachoeiro

No catálogo da editora portuguesa Almedina está comentário sobre o livro "A Tributação Turística Municipal" de Lisboa


No catálogo da editora portuguesa Almedina está comentário sobre o livro "A Tributação Turística Municipal" de Lisboa, de Ricardo Morgado: - "- O crescimento econômico do setor do turismo levou as autarquias locais a ponderá-lo como possível fonte de obtenção de receita, justificada como compensação dos custos municipais com a atividade turística. Após fazer uma resenha do sistema fiscal português, e de revermos a taxação turística em termos comparados, analisam-se as alegadas "taxas" criadas pelo Município de Lisboa, neste âmbito, designadamente Taxa de Dormida, Taxa de Chegada por Via Aérea e Taxa de Chegada por Via Marítima, colocando e problematizando algumas questões que se colocam quanto à sua classificação, legalidade, liquidação e constitucionalidade".

Minha curiosidade inicial, antes de ler o resumo do livro português, de cidade que cobra taxa de visita e de dormida de turistas, veio de notícias recentes de duas outras cidades brasileiras, de Santa Catarina (Governador Celso Ramos e Bombinhas), que também cobram taxas semelhantes. Tendência mundial.

Como a sinopse do livro indica e sabemos, turismo é das principais "indústrias" geradoras de riqueza para cidades. Indústria sem poluição, especialmente se criadas taxas como as referidas.

Alguém diria: o que Cachoeiro tem com isso? Tem muita coisa, basta pausemos um pouco nossa conversa fiada e olhemos para dentro da cidade, para seu potencial cultural (Roberto Carlos, Rubem Braga, Raul Sampaio, Luz Del Fuego e tantos outros personagens importantes). Que o país - em imensa maioria - entende que Roberto Carlos é o maior cantor do Brasil, e que Rubem Braga é o maior cronista brasileiro em todos os tempos, que Raul e Luz são mestres em suas áreas, não é difícil de nós aquilatarmos.

Que somos a capital do mármore e granito do Brasil, ninguém duvida.

Roberto e Rubem, ainda que incipientemente (a incipiência não é culpa da Secretaria de Cultura e Turismo de Cachoeiro, adianto), são valorizados na cidade, mas verdade que, comparado com outras cidades brasileiras, com gênios equivalentes e até menores, apenas arranhamos o "fundo do tacho". Assim Raul e Luz Del Fuego e tantos outros. Não há grande ou média contribuição para a geração de renda local, seja em consumo, seja em salários, seja no que for, em relação a esses cachoeirenses fenomenais e outros tantos da mesma estirpe.

Já quanto a mármore e granito (e somos Capital Nacional de ambos, é de fazer corar o "Frade e a Freira" (que, por sinal, fica em Vargem Alta, ou Rio Novo do Sul, ou Itapemirim? Quem sabe?)), a ausência de mínima política de aproveitamento turístico dessas riquezas, distribuídas ao mundo, pelas jazidas locais e regionais, por nossas empresas de corte e lapidação.

Quando fui a Carrara, Itália (põe tempo nisso), não só fiz questão, como fui literalmente conduzido e induzido a visitar mais de uma pedreira, mais de uma serraria, mais de uma marmoraria. Nessa viagem, passando, depois, por Florença, não foi possível "escapar" de visitar prédios mais importantes da política local, sem contar a visagem de obras de Leonardo da Vinci... e onde trabalhou Maquiavel (naquele tempo não se cobrava pedágio, hoje devem cobrar; não sei).

Mas deve estar pensando o leitor - "E daí, o que tem cobrança de pedágio e de taxas em locais turísticos com o que (não) acontece em Cachoeiro, terra de Roberto Carlos, de Rubem Braga, de Raul, de Luz e Capital do mármore e do granito?"

Tem a ver, simplesmente, que deveríamos, já e logo, aumentar nosso interesse em pessoas e coisas daqui, que geram riqueza e podem gerar turismo cada vez em mais alto grau, até chegarmos ao patamar das cidades catarinenses (Governador Celso Ramos e Bombinhas) e das cidades italianas (Carrara e Florença) e de Lisboa. Coisa para o próximo governo municipal. E eu quero e vou estar perto do centro de decisão local e governamental, sem pedir nada pessoal, claro; "apenas" exigindo coragem, conhecimento e responsabilidade da(o) próxima(o) prefeita(o).

 

Acupuntura Urbana

Quem lançou um pequeno livro de urbanismo, em linguagem para o cidadão, foi o arquiteto e político Jaime Lerner. O livro "Acupuntura Urbana" (Ed. Record, 142 p.) é uma coleção de 40 crônicas retiradas das observações do autor, em viagens pelo Brasil e pelo mundo. Para Lerner, pequenas intervenções nas cidades podem trazer transformações vigorosas. Se é necessário, aqui e ali, arranjos mais fortes na zona urbana, às vezes pequenas intervenções trazem melhorias sem que se gaste exageros, como costuma acontecer.

Esse livrinho merece ser lido por todos aqueles que têm responsabilidades com a cidade; é um pequeno manual que fortalece a cidadania ao despojar o urbanismo dos exageros dos técnicos que, quase sempre, exageram pelo prazer de se valorizarem ou valorizarem suas obras, em vez de simplificá-las. Vendem dificuldades e planos empolados e mirabolantes para valorizar a cria e minguar os cofres públicos, em vez de facilitar o entendimento do homem comum, para que esse possa participar mais do crescimento da cidade.

Apenas pinço algumas observações de Lerner e faço alguns comentários.

Diz Jaime Lerner que em San Juan, Porto Rico, há uma placa marcando o local onde, pela primeira vez, se preparou a bebida "piña colada". No livro de Rubem Braga e Carybé, resultado da viagem de ambos pelo Espírito Santo (recentemente refeita em filme por João Moraes), diz o autor cachoeirense que ele e Newton leram as primeiras letras na Biblioteca da Maçonaria, que está, até hoje, no mesmo lugar. Não consta que algum cachoeirense tivesse tido a mesma ideia (e muito mais importante) que tivera o porto-riquenho que "produziu a memória" da "piña colada".

Em outra parte do livro critica o arquiteto a mania que se tem de implantar distritos industriais. Para Lerner "separar as funções urbanas - isto é, morar aqui, trabalhar ali e ter atividades de lazer em outro lugar - provoca um desperdício de energia. A consequência é o aumento de pressão pelo congestionamento, pelo tempo que se perde, pela poluição, pelo estresse".

Com a nova administração municipal de Cachoeiro, que está vindo por aí, com certeza ela e o cidadão em geral deveriam correr os olhos nas lições simples de Jaime Lerner - haverá muita economia e o povo poderá participar mais das coisas da cidade.

(Publicado originalmente na CONEXÃO MANSUR nº 09, de 04/10/2004, mudo quase nada).

 

Pico do Itabira

E já que falei em "Frade e Freira", par de montanhas vizinhas nossas, sempre sob nosso olhar direto e amoroso, não custa lembrar que a mais de década, quase duas décadas, passando por quatro governos municipais não muito diligentes na matéria, continua aprumado, mas em berço abandonado o nosso Pico do Itabira, exemplo maior de nossas pedras - seja na História, seja na Geografia, seja no Turismo de Ver, seja no Turismo de Aventura. Decepcionante, se olhado pelos olhos de cidadão que quer ver o progresso da terra. Pedra tão cantada em versos, pedra tão maltratada.

Num antigo boletim - "Hora Verde", de fevereiro de 2010, alertava a editora Vera Lúcia da Paz, que já nos deixou:- "PICO DO ITABIRA - Município de Cachoeiro rompe processo participativo de gestão de unidades de conservação e mantêm leis polêmicas para a proteção do Pico do Itabira". Passados quase dez anos... e tudo está na mesma.

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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