Trinta e um de julho
Sinceramente, pai? A emoção de te escrever, neste 31 de julho de 2024, é igual à do menino que, "como se fora brincadeira de roda" alegrara-se com tua cartinha
Pai,
Numa data como a de hoje, mas há vinte e dois anos, eu te parabenizava por teu aniversário pela primeira vez. À época, em 2002, você fazia 44; e eu, prestes a completar 19, no mês seguinte. Mais de duas décadas depois, você, agora, alcança seus 66, todos, graças a Deus, bem-vividos; e eu, perto de completar 41, três a menos que você, àquela ocasião.
A linha do tempo é uma coisa sinistra. Porque, embora este teu primogênito já tenha chegado à casa dos quarenta, ele ainda é aquele garotinho que, em 24 de agosto de 1988 (ou 89?), desceu o prédio da Rua Piauí, na Zona Norte carioca, para receber do carteiro o primeiro telegrama de aniversário que você, daí do Nordeste, enviou para mim.
Sinceramente, pai? A emoção de te escrever, neste 31 de julho de 2024, é igual à do menino que, "como se fora brincadeira de roda" (um dos versos-odus de minha vida, traçados sob as bênçãos de Orunmilá e de Gonzaguinha), alegrara-se com tua cartinha.
Além de vida comprida, prosperidade e proteção, eu te desejo a inspiração que, jamais tardiamente, também tornou-te poeta, vocação esta que, de algum modo, prenunciava-se naquele telegrama.
No mais, eu te amo. Muito.
Beijos do teu mais-velho,
Bezerra
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LUZ
Iê!
Da vida eu sei
muito pouco, quase nada.
Nessa estrada tão rodada,
tropecei, mas não cansei.
O que é a vida?
É erguer-se após o tombo,
apoiando-se nos ombros
de toda gente aguerrida.
É sempre assim
e pra sempre assim será:
só bem na vida vencerá
quem crê na luz que há em si,
camará!
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CLARÃO
Já sofri, é verdade. Você também. Só nós dois, "os donos das dores", sabemos o quanto dói e o peito rói, conforme reza aquele samba, de Nelson Rufino, cantado por Zeca Pagodinho. Entretanto, quando voltei à varanda, uns minutos atrás, vi que o céu começou a clarear.