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Os anos são muitos, mas ainda não aprendi a mascarar sentimentos e dores


Os anos são muitos, mas ainda não aprendi a mascarar sentimentos e dores. Nunca fiz esforços para isso. Nem faço questão de posar de super nada. Humana que sou, exponho minha humanidade, às vezes até de forma demasiada.

Então, por segundos penso que deveria ser menos transparente, já que nem sempre há acolhimento, reciprocidade e generosidade, e o julgamento muitas vezes é impiedoso e implacável. Mas repenso e não escondo fragilidades, tampouco vivo no muro de lamentações.

E se tem uma coisa que aprendi com o tempo é que, mantidos princípios e valores que me nortearam a vida toda, a opinião alheia não importa. É perfeitamente dispensável.  E não pode me definir nem nortear meus passos. Soma na minha trajetória a parceria dos amigos e amigas da vida toda, por quem sou capaz dos maiores sacrifícios, porque a recíproca será verdadeira.

Alguns percorreram a melhor fase da vida, das descobertas e risadas fartas, quando ainda não havia outra preocupação que tirar boas notas. Outros, as mais difíceis e angustiantes, que envolveram o preparo para o vestibular, a busca pelo primeiro emprego, o surgimento dos primeiros boletos, as dúvidas da maternidade, quando as coisas foram ficando mais sérias, numa vida que saia da juventude descomprometida à fase adulta cheia de novos desafios e obstáculos.

Fato é que meus amigos e amigas mais queridos estão ao alcance de um sussurro. Nem precisa ser um grito de socorro. Sei que se precisar, posso contar com eles, mesmo que não nos vejamos todos os dias e não nos falemos além das redes sociais, uma falha que pretendo corrigir com os que moram por aqui.

Quero encontrá-los para um suco após o trabalho, para colocar o papo em dia. Trocar confidências, porque não? A vida precisa ser leve ao lado dos que nos fazem bem. Ressignificar, cuidar dos afetos e da saúde, seguir em frente, encontrando novos motivos para ser feliz nas melhores companhias. São as pequenas coisas que fazem a vida valer a pena. Às vezes perdemos tempo demais correndo em busca de grandiosidades e não nos dedicamos o suficiente às que realmente têm valor.

Pois como diz o querido Bituca em sua linda Canção da América, "amigo é coisa para se guardar/ no lado esquerdo do peito/debaixo de sete chaves/dentro do coração/mesmo que o tempo e a distância digam não/ mesmo esquecendo a canção/ o que importa é ouvir a voz do coração.  Pois seja o que vier, venha o que vier/ qualquer dia amigo, eu volto a te encontrar". Existe certeza melhor que esta?


Anete Lacerda Jornalista

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