Quinta-feira, quatro de maio - Jornal Fato
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Quinta-feira, quatro de maio

Naquela data, completaram-se três anos que, vitimado pela Covarde-19, o compositor e cronista carioca Aldir Blanc, além de psiquiatra, partira num "num rabo de foguete"...


Antes de sair "pra batalha pelo pão de cada dia" - e "a fé que trago no peito", como no samba, "é a minha garantia" -, rezei pra São Sebastião e, também, pra Aldir Blanc. Naquela data, completaram-se três anos que, vitimado pela Covarde-19, o compositor e cronista carioca, além de psiquiatra, partira num "num rabo de foguete"...  

À tarde, lá pelas 14 horas (e no resultado da banca, ao invés de Bezerra, deu burro na cabeça, milhar-emergência 9111), lia eu que a Prefeitura do Rio havia inaugurado, pela manhã, a alameda, o busto e o jardim em homenagem ao Blanc, no bairro da Muda, na Tijuca, quando então chorei com saudades do poeta da Guanabara. 

Parênteses. Jamais pude conhecê-lo pessoalmente. Contudo, em acalentada compensação, tive a alegria de, vez ou outra, prosear com ele por e-mail. 

Bom, chorava eu quando tocou meu telefone. Do outro lado da linha, enfim retornava meus contatos, e com boas notícias, a fonte de uma pauta com quem, há semanas, eu tentava apurar informações. Porém, feito o diabo - igual a mim, o tinhoso deve ser de Virgem, o que, "só de imaginar, me dá vertigem" -, a ironia mora nos detalhes. Essa fonte era um psiquiatra. Tal como Aldir. E aí? 

Delirando com tamanha coincidência, fui à varanda do edifício no qual trabalho (visto que o horário não me permitia um chope, eu precisava tomar um fôlego, pelo menos) e relatei o ocorrido, em áudio, ao meu irmão Stéfano Fabris, também devoto de nossa Santa Sincronicidade, canonizada pelo destino como padroeira dos viajantes em maioneses e "palitos de picolé". 

Enquanto eu gravava a mensagem, mais uma surpresa: naquele mesmo instante, entrava no pátio de estacionamentos do prédio, no bairro BNH de Baixo, em Cachoeiro de Itapemirim, um táxi do... Rio de Janeiro. 

Homem de fé - e de axé -, desci ao pátio, incrédulo. Sim, fui averiguar de onde viera, especificamente, aquele veículo. Até que três pessoas (um jovem, um senhor e uma moça) me chegaram... 

- Pessoal, perdão pelo incômodo. Vi que esse táxi é do Rio. Vocês são de lá?

- Sim. 

- Bacana. Também sou carioca. 

- Legal. 

- E de qual lugar vocês são? 

- Da Tijuca. 

Chorei de novo. Pois não me restava nenhuma dúvida: Aldir Blanc escutou minhas preces matinais.

 

**** 

Pra meter atestado, vagabundo, que é destro, até diz que é canhoto. 

- Por Deus, Felipe, mandei essa. E ganhei não um, mas dois dias de atestado. 

- Que "maravilha", hein? 

- Só que ganhei uma baita injeção de Voltaren. Doeu tanto, que voltei pra casa mancando. 

- É, tudo que vai, Voltaren.


Felipe Bezerra Jornalista Escritor, jornalista e membro da Academia Cachoeirense de Letras

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