Preconceito velado - Jornal Fato
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Preconceito velado

É um pensamento generalizado, que pessoas mais idosas não se amam, que sexo é para ser desfrutado pelos jovens, que os casamentos longevos transformam o relacionamento em uma convivência apenas fraternal.


- Foto Reprodução Web

Uma senhora questionou sobre o tempo que estamos juntos, eu e meu marido. Respondi que entre namoro e casamento são sessenta anos, e ela concluiu que estava durando demais, e que já viramos irmãos. E foi categórica ao fazer afirmação tão idiota e preconceituosa. Respondi à altura, que casamos por amor e como um casal que se ama nós sentimos tesão um pelo outro, o que não acontece entre irmãos.

O que aquela senhora expressou é um pensamento generalizado, que pessoas mais idosas não se amam, que sexo é para ser desfrutado pelos jovens, que os casamentos longevos transformam o relacionamento em uma convivência apenas fraternal. Realmente viver juntos e se manter unido é uma decisão que tomamos no altar e que mantemos até hoje, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, amando, respeitando e sendo fiel até que a morte nos separe. Não dá para imaginar por quantas crises passamos nesses sessenta anos, quantas adversidades enfrentamos, e a dor que sentimos quando a doença nos atingiu. Não se imagina as dificuldades na criação de nossos filhos, sempre sós e sem apoio familiar, apenas nos escorando um ao outro. Dá para imaginar o quanto de amor envolvido, para duas pessoas de origens totalmente diversas, personalidades completamente diferentes, estarmos juntos por tantos e tantos anos? Tivemos todas as crises pelas quais os casais passam, de um ano, de sete anos, de 15 anos, de todos os anos. Contudo a data do nosso casamento sempre foi comemorada como um dia especial, com uma viagem a sós, ou com confraternizações nas mais específicas - como Bodas de Prata e de Ouro, e com o quanto de orgulho e alegria comemoramos essas datas, juntamente com a família que construímos e os amigos que fomos adquirindo pelo vida afora.

E quando me irrito com o preconceito velado, que imagina restar aos casais idosos uma vida insípida e uma relação apenas fraterna, defendo o relacionamento de todos que se mantém unidos pelo prazer de estarem juntos e pela alegria de usufruírem da companhia um do outro. Chega um momento da vida em que não podemos contar com filhos e netos, e que ter alguém ao nosso lado, para envelhecermos dando às mãos um ao outro e nos apoiando nas dificuldades, é uma benção divina. Agradeço a cada dia, pelo amor que desfrutamos como homem e mulher, até o final dos tempos.


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