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Cada um tem as suas, mas...


Cada um tem as suas, mas...

O Brasil é um país com amplo sistema legislativo garantidor de direitos, mas, na prática, com pouca eficiência na entrega destes. Além disto, é um país de muitas liberdades. 

A cada dia ampliam-se as ideologias de vida e as crenças, mas, todas, desde que não violem o direito do Outro e não lhe afetem a dignidade, têm permissivos legais depois de 1988, ano em que foi promulgada a Constituição Federal, chamada "Cidadã", um marco pós Ditadura.

Deste modo, nos deparamos com uma sociedade que, em geral, faz muitas manifestações isoladas e coletivas. Contudo, que ainda tem muito a aprender sobre fazer valer, de fato, seus direitos.

Em exercício ao direito de se expressar, tenho visto muitas manifestações. Algumas pedem que o exército assuma - tome - o poder federal.

Respeitando a opinião de cada um, confesso que isto, particularmente, me assusta. Apesar de eu ter nascido durante o governo militar no Brasil, não vivi, como cidadã consciente, este momento histórico. Por sua vez, meus pais estavam muito ocupados buscando alternativas de sustento dos filhos, nunca foram pensadores ou críticos ou ativos na defesa de direitos sociais, logo, não fizeram parte do grupo que foi perseguido e, por isto, não trago traumas em mim.

Mesmo sem viver ou sofrer o momento, nos estudos que a vida me proporcionou, pude conhecer um pouco dele. Em minha limitada visão, entendi que este pode até ter trazido alguns progressos, mas, foi marcado pelo fim das liberdades. Ou seja, se vivêssemos, hoje, o governo militar que, um dia, nossa nação experimentou, a liberdade, que caracteriza o povo brasileiro, se perderia. Não mais existiriam os direitos de manifestação; de crença; de crítica à gestão pública, ...

O governo do povo e para o povo que, é bem verdade, nos dias atuais está longe de sua ideologia, durante a ditadura militar, nem em sonho existia.

Em síntese, nossa trágica experiência passada, revela que a ditadura militar, que durou de 1964 a 1985, foi instaurada depois de um golpe organizado por militares e civis. Naqueles 21 anos de gestão, a grande marca foi o autoritarismo e a repressão realizada pelo Estado. Tão grande que, até hoje, muitos pais, cônjuges, filhos, ..., ainda não localizaram seus entes desaparecidos, sequer os ossos apareceram.

Isto me preocupa! A justificada insatisfação do povo chegou a tal dimensão que foram apagadas as tragédias do período no qual o país esteve nas mãos dos militares e, por isto, muitos clamam para que este momento volte. Ignoram que nunca toda a população será agradada por um gestor público, salvo se forem caladas as vozes que ecoam as razões de suas indignações. E de calar vozes, o momento histórico, hoje aclamado, entendeu bem.

Em meios aos tumultos e aos gritos de insatisfações, eu, particularmente, continuo crendo que todas as coisas, sejam alegres e sejam difíceis, são permissões de Deus em nossas vidas e têm algo a nos ensinar. Entendo também que qualidade de vida está interligada a bons e justos gestores públicos. Contudo, me preocupo com o tal do livre arbítrio posto que, quando mal exercido, traz dores que poderiam ser evitadas e estas não são permissões de Deus, mas consequências das escolhas mal feitas.

Assim, que saibamos exercer nossos direitos com cautela, que saibamos ser cidadãos ativos e conscientes, especialmente nas eleições. Mas que, sobretudo, saibamos orar e clamar, principalmente, por sabedoria e por visão coletiva, pois, jamais, enquanto seres sociais, estaremos sós e, o que é bom para um, nem sempre a todos agradará.

Apesar disto, alguns direitos essenciais à dignidade, garantidos pela Constituição Federal, de fato, jamais poderiam ser omitidos, mas são, o que, enquanto brasileiros, nos faz chorar. Contudo, penso que isto não mudará com opressão, mas com honestidade e com visão coletiva do povo e de seus gestores escolhidos.

É importante ponderar os fatos.


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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