Óia, Vovô. Óia! - Jornal Fato
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Óia, Vovô. Óia!

Viajei por alguns dias. A cidade, e o país, pouco importa


Viajei por alguns dias. A cidade, e o país, pouco importa. Com o passar dos anos ficamos assim: o local onde nos encontramos torna-se sem importância. O importante é com quem estamos. A cidade onde me encontrava é bonita. Conheci museus, parques e praças bem cuidadas; caminhei por ruas e avenidas bem traçadas, seguras e sem o acumulo de lixo em seus pisos. Visitei museus de história natural, arte impressionista, exposições temporárias e acervos artísticos permanentes sem cobrança pela entrada. Tomei conhecimento da história e do povo da cidade. Mas tudo isso, apesar de admirado, não era o que me atraía. O que me encantava era a presença do meu neto Bernardo. Aproveitei os momentos, quase dia e noite. Os instantes eram divertidos: troca de fralda, alimentação, mamadeira, banho... Tudo era motivo de risos: a maneira que tocava objetos, o jeito de caminhar ou correr, o uso que ele fazia das mãos (a alternância do uso da direita e esquerda). A dúvida que me deixava: destro ou canhoto? Habilidade ambidestra? Será um charmoso canhoto no uso da caneta para a escrita? E o chute a gol com a perna esquerda em um campo de futebol? Observei Bernardo em detalhes como nunca observei uma pessoa. Observava Bernardo em sua evolução de um ano e oito meses de vida. Vi alegria e energia em abundância. Fiquei atento às palavras: Vovô! Vovô Sergio. Dança Vovô!

Enquanto observava Bernardo, pensei na chegada do próximo neto: João Vitor. Ele encontra-se com quatro meses de vida intrauterina. O nome é uma homenagem ao sogro do Vitor, meu filho mais novo. João, já falecido, pela história de vida: militar do exército. Amante do campo, das matas, dos rios e da pesca, na ligação forte com vários amigos cachoeirenses que se foram no acidente do avião da Gol, de anos atrás, ficaria feliz em saber que seu neto se tornará um cidadão de Cachoeiro de Itapemirim. João Vitor certamente amará as coisas do campo, das matas e do rio, coisas que o avô amou e que o pai também admira. Bernardo e João Vitor serão primos-irmãos. Bernardo, pela maneira que corre pelos gramados do parque do Ibirapuera, pela maneira que observou as águas do rio Itapemirim e os pássaros do céu cachoeirense, certamente será cúmplice do João na busca das coisas da natureza. Onde fiquei nos últimos dias, um apartamento no centro de uma grande cidade, apesar da boa acomodação e localização, Bernardo sentia-se incomodado. A todo instante: Passear Vovô. Passear. Sentia a necessidade de um lugar que pudesse correr e mostrar-se livre. O frio intenso impedia. No interior do apartamento, por uma janela imensa de vidro, podíamos ver vários prédios, nuvens e a abóboda celeste. Era um fim de tarde, Bernardo apontou e disse: Óia, Vovô! Óia: Passarinho. Subiu no sofá, e em êxtase, gritou: Vovô, Óia! Passarinho. Um monte de passarinho. Eu cheguei junto a ele e disse: isto, Bernardo, passarinho. Olha. Um monte de passarinho. Estão voando. Vem de muito longe e irão para um lugar mais distante ainda. Eles migram. São livres. Um dia, você e João Vitor, vão estar prontos para voarem.

 

Sergio Damião Sant'Anna Moraes

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Sergio Damião Médico e cronista

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