Estadismo e liturgia do cargo - Jornal Fato
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Estadismo e liturgia do cargo

A tragédia que se abateu sobre várias cidades do Espírito Santo


Foto: Divulgação

A tragédia que se abateu sobre várias cidades do Espírito Santo, após enchentes que devastaram e levaram água abaixo bens, memórias, sonhos e histórias, provou que boa parte da população não sabe qual é o papel dos prefeitos e vereadores.

"Cadê os vereadores, que não estão com a mão na massa, ajudando a limpar as ruas? O prefeito não fez isso ou aquilo, quero ver trabalhar, não fazem falta". Li estas e outras palavras à exaustão durante esse período triste e devastador. Como cidadãos, os vereadores e o prefeito podem, e devem, fazer tudo que qualquer morador faria, principalmente em tempos de crise.

Mas como agentes políticos, têm função muito bem definida, devem agir como estadistas e cumprir a liturgia do cargo, como diria um ex-presidente. Então vamos lá. Aos vereadores e vereadoras cabe legislar e aprovar leis que regulamentam a vida da cidade. São representantes da população e dos movimentos organizados e decidem sobre criação, alteração ou extinção de tributos, de bairros e distritos, bem como sobre o planejamento urbano contido no Plano Diretor Municipal, entre outros.  E cabe a eles fiscalizar os atos do Poder Executivo.

E sim, votam também nome de ruas, que muitos minimizam e querem desprezar, mas é de fundamental importância para as pessoas condenadas a morar em ruas projetadas, geralmente nos bairros periféricos, que por si só já joga toda uma carga de preconceito nas costas desses cidadãos, como se de segunda categoria fossem. 

Aos prefeitos cabe administrar os interesses do conjunto da cidade, fiscalizados pela Câmara Municipal. Deveriam sempre agir como estadistas que buscam recursos junto aos governos estaduais e federal, para promoverem saúde, educação, bem-estar e qualidade de vida para seus munícipes. Sensíveis e atentos às demandas coletivas do povo que representam. O que passar disso é demagogia barata e populismo.

É obrigação dos vereadores aprovar leis de incentivo, como a que concederá isenção da conta de água dos moradores que foram afetados pelas chuvas em Cachoeiro, por exemplo. O Poder Executivo elaborou o projeto e cabe aos vereadores aprová-lo ou rejeitá-lo.  É assim que funciona. Os vereadores não podem elaborar projetos que impactem financeiramente os cofres das prefeituras. Cada um no seu quadrado.

É bom lembrar que as Câmaras e Prefeituras têm pessoas com a pluralidade do povo que o elegeu. Se forem bons prefeitos e vereadores, ótimo. Se forem ruins, ainda vivemos em uma democracia e dá para mudar, através do voto. Simples assim.  Mas terão sempre a cara dos eleitores.

Só que enquanto os cidadãos criticarem a corrupção, mas buscarem no Poder Legislativo e Executivo apenas benefícios pessoais para si e para seus familiares, continuaremos ouvindo besteiras como as que rolaram à exaustão nas redes sociais nesses dias de tanta tristeza. As pessoas não se envergonham de expor toda a ignorância, de espalhar fake News e são as presas fáceis para eternos candidatos de má-fé, que não têm nenhum escrúpulo e desconhecem o significado da palavra empatia e respeito. Repetitivo, né? Mas para mim isso é tudo. Meu sonho de consumo é que esses sentimentos tivessem importância para todos os povos. Por mais nós e menos eu. Por mais defesa dos interesses coletivos. Sempre e em qualquer tempo.


Anete Lacerda Jornalista

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