Encontro no Café - Jornal Fato
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Encontro no Café

Nesta semana, apareceu para tomar café comigo, no Café Mourads, pessoa que me surpreendeu...


Nesta semana, apareceu para tomar café comigo, no Café Mourads, pessoa que me surpreendeu, não pelo que ela era, no sentido de ocupar cargo público, mas sim pela sua capacidade de, crescendo na vida pública, manter algo que ela traz desde criança, passando pelo trabalho exercido na via publica da Grande Vitória.

O Vereador Alexandre Bastos foi quem me avisou: - Jacqueline viria a Cachoeiro, no exercício de seu mandato e iria tomar aquele café de qualidade do Mourads. - Sem problema, eu lhe disse.

Na quarta-feira, fiquei lá, esperando a moça chegar. Chegaram diversas pessoas, inclusive o amigo Odmar, amigo de defesa das mesmas causas políticas, há décadas. E foi chegando gente, gente simples, todas, e foram se arrumando pelas cadeiras da cafeteria; não couberam na minha mesa e se espalharam por duas outras, ao lado.

De repente, chega moça que eu nunca vira e se senta ao meu lado. Sem apresentação, pois não era momento disso, ela me revela coisa especial, que gosto de ouvir - histórias de superação pessoal conseguidas pelo esforço próprio. Me encantei com as conversas dela, sobre política e assuntos da coisa pública dos dias conturbados de hoje e antigas histórias.

E eu esperando que chegasse Jacqueline Morais, Vice-Governadora do Estado do Espírito Santo; estava demorando, certamente atarefada pelas responsabilidades do cargo.

Aí Odmar falou para a moça ao meu lado - "Jacqueline, está na nossa hora - nosso compromisso é às nove horas, e já se passaram 10 minutos".

Pronto, acordei. Estava conversando com a moça, moça muito inteligente, muito simples, falando de coisas simples e que não se apresentara como Vice-Governadora. Era ela. De gente assim que gosto, que não chega com a carteira de identidade dizendo-se autoridade, mas da maneira simples que todos devíamos ter - fora e dentro do Poder.

Foi a lição que Jacqueline me passou, lição da transparência e da simplicidade.

Depois fui saber que ela, durante 15 anos, fora camelô nas ruas da Grande Vitória, pais também camelôs, e que cresceu por méritos próprios até chegar ao cargo que ocupa hoje. E isso me calou fundo, a ponto de eu, na Câmara Municipal de Cachoeiro, citar o exemplo dela para que tivéssemos olhar não de condenação para os ambulantes que tem ponto pela cidade. Antes de retirá-los de onde eles não couberem, de acordo com a ordem urbanística - ou ao mesmo tempo em que tenhamos de retirá-los - , olhemos para eles como cidadãos que merecem ter oportunidades que a vida sempre lhes tirou.

E Jacqueline se foi para as demandas de Vice-Governadora, não sem antes ser presenteada com dois livros meus, um Maquiavel, claro, e outro do jesuíta Baltasar Gracian, escrito há uns 400 anos; livro, este último, do qual ela leu três frases como esta (mas não foi esta) - "Nunca se comprometa com alguém que não se compromete". Nos abraçamos e ela se foi.

 

Modo de Perder Eleição

Quem acha que ganhar eleição para vereador é moleza, devia se candidatar. - "Né" moleza não, "Seo Zé". A maior parte dos candidatos perde; os que não se arriscam, esses nem pensar, resta a eles criticar. Nada demais, tudo jogo político. Jogo das necessidades do eleitor. Se pobres e desempregados, querem empregos. Se ricos e tiverem algo a pedir ao prefeito, costumam rodear o candidato. Ricos e pobres, no sentido que falo, talvez não cheguem a 10% do eleitorado, mas pesam uma fortuna. E os absolutamente safados, ricos ou pobres, bem menos que os 10%, nem conto aqui.

Fui candidato a Vereador, em Cachoeiro, quatro vezes; numa perdi, noutras duas ganhei e na outra (primeira que concorri) comecei perdendo, mas, porque a Justiça afastou quatro outros vereadores, por questão de legenda, assumimos por seis meses até que os quatro voltaram. Voltando eles, saímos nós: - eu, Édio Fornazier, Antonio Ramos e Leonilda Gava Barros. Mas tínhamos gostado tanto dos seis meses de "poder" que resolvemos recandidatar, que me lembre, Édio e eu.

Voltei; nem sei porque ganhei; Joel Pinto tem escrito num livreto - História da Câmara de Cachoeiro - que foi por isso, palavras dele: - "Entre as novidades, a aparição de Higner Mansur, advogado e legislador em essência, passagem positiva que lhe garantiu a eleição no seguinte período legislativo". Deve ter sido isso porque, como sempre, praticamente não pedi voto, mais ou menos como hoje. Mas se Joel falou, vale o que disse.

Como eu fizera amizade com Édio, que também se recandidatara e eu via nele, possibilidade de se eleger, quando o encontrei, pós-eleição, 1992, perguntei: - "Édio, como você perdeu a eleição? Eu tinha certeza que, pra mim, era difícil. Mas você? Você tinha campo muito grande para conseguir votos! Nasceu e vive em Cachoeiro, tem grande área - o interior - onde foi candidato praticamente sozinho, tem prestígio e tantas coisas mais - eu tinha tudo pra perder, e você tinha tudo para ganhar".

E ele respondeu: - "Pois é, também não entendi. Fiz o que tinha de fazer, visitei os amigos da região e de fora dela. Inclusive comprei umas tantas grosas de enxada e distribui por entre muitos dos que conhecia e que precisavam de enxadas".

Aí entendi porque ele perdeu a eleição, e a inocência interiorana dele ainda não lhe dera a entender. Respondi ao amigo até hoje, eternamente amigo:- "Édio, você ofereceu enxadas, instrumento de trabalho, aos eleitores?".

Édio entendeu, rimos de 1992 até hoje, a cada vez que nos encontramos - e isso acontece muitas vezes, o que é bom para nós dois. (Em tempo - uma grosa de enxadas são 12 dúzias, 144 enxadas, para ser direto. Difícil ganhar eleição assim, concordamos; mais difícil do que não saber pedir votos).

 

Expo Sul Rural - 2019 - Cachoeiro

Sabe aquela "antena delicadíssima, captando pedaços de todas as dores do mundo, e que me fará morrer de dores que não são minhas", de que fala Newton Braga? Captei, mas não da forma romântica captada por Newton. Estou captando sinais e pedaços de um futuro melhor para as coisas e gente rurais e artesanais de nosso município e região -  com mais coisas importantes e menos excessos em barracas e shows comerciais (espero que esteja acertando, e não tenha que me desculpar depois).

É a Expo Sul Rural, que vai se realizar no Parque de Exposições de Cachoeiro, entre 10 e 14 de abril, trazendo, entre outras, melhor exposição do nosso artesanato e cultura e incentivo ao empreendedorismo rural e às agroindústrias, dando maior valor agregado à produção e mais renda para a família rural, ensinando-a o empreendedorismo.

Estarei lá. E assim que sair a programação completa, leiam-na, por favor e... vão lá.

 

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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