E as Enchentes, Gente???????? - Jornal Fato
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E as Enchentes, Gente????????

Esquecemos-nos das consequências futuras das enchentes do Rio Itapemirim, que são frequentes e históricas


Um dia desses, num comentário na rede social, de cidadão de Castelo, ele reclamava de que fizeram muita divulgação dos dias de enchente na cidade e, logo depois o assunto acabou, como se a enchente tivesse acabado e não mais voltasse.

Tal qual lá em Castelo - e certamente em quase todas as cidades invadidas pela água - o assunto não tem sido nada - ou quase nada - abordado em Cachoeiro. Esquecemos-nos das consequências futuras das enchentes do Rio Itapemirim, que são frequentes e históricas. Isso sem contar que as duas últimas, 2010 e, especialmente, a de 25 de janeiro deste ano, foram as mais catastróficas de todas, ao menos desde quando os registros fotográficos começaram a ser feitos; ou seja, a partir do século 20.

Esse silêncio público e da cidadania é assustador, vez que ele, na prática, autoriza ou faz vista grossa, no sentido de que a legislação federal do meio ambiente - mais propriamente de proteção às margens do rio (e agora falo do Rio Itapemirim) continue a ser desrespeitada.

Antes do século XX, construções à beira do rio eram até certo ponto "perfeitamente" admissíveis, quer por se tratar de obras mais simples, e poucas; quer por se tratar da única maneira de se construir com sistema mínimo de esgotamento sanitário.

Ocorre que, com o progresso, e a partir do século XX, o encontro de construções maiores com as tradicionais enchentes do Rio Itapemirim, não só se tornaram altamente prejudiciais às construções e ao meio-ambiente, como passaram a influir muito na nossa economia.

Esse assunto, por motivos puramente econômicos, acabou por provocar esse desastre "natural", que vai se repetir com frequência, em toda a margem do Rio Itapemirim, principalmente a que corta o centro da cidade, desde a Ilha da Luz até os Bairros Baiminas e Coronel Borges - área mais degradada e mais sensível ao problema.

O prejuízo neste ano, para a iniciativa particular e também para os imóveis públicos, foi imenso. Do outro lado, a iniciativa particular não se ateve para isso, inclusive - diria principalmente - incentivados pela ineficácia das administrações municipais em fazer obedecer a lei federal, mais propriamente a lei que protege as margens do rio e quem mora por perto.

Chegou a hora, melhor dizendo, passou da hora de os cidadãos cachoeirenses levarem isso mais a sério, postulando das administrações públicas - prefeitura e prefeitos, atual e futuros -, para serem mais diretos e sérios na abordagem o assunto, não o esconderem e o colocarem em seus programas de governo próximo: o que pretendem fazer para diminuir os excessivos prejuízos que a iniciativa privada, em maior parte, sofreu, sofre e sofrerá cada vez mais.

Falta trabalho mais profissional e com mais seriedade das administrações públicas municipais, não só no sentido de se dizer claramente onde NÃO se pode construir (margens do Rio e morros íngremes). Falta também coisa que nunca se viu por aqui: - onde estão, devidamente identificadas, as áreas de expansão urbana de nossa cidade e município? A simples existência da identificação dessas áreas já encaminharia o sucesso do desenvolvimento e crescimento da cidade, diminuindo bastante futuros prejuízos a empresários, cidadãos e à própria administração pública municipal.

Gostaria muuuuuuuito de ver isso na próxima administração pública de Cachoeiro de Itapemirim.

(As fotos que ilustram esta página são todas da enchente de 25 de janeiro de 2020).

  

 

 

COISAS QUE EU JÁ DISSE

JANEIRO/2009: "O drama das populações ribeirinhas é resultado da calamidade pública permanente da cultura do jeitinho. As autoridades deixam o cidadão construir de qualquer maneira, fora das normas, como se lhe tivessem prestando favor ao permitir-lhe economizar alguns reais na construção de seu lar. A economia que o cidadão conseguiu ontem se transforma na calamidade dos dias de hoje. O rio cresce, invade as margens, avança sobre as moradias e cobra, com juros, a economia desgraçadamente permitida, autorizada e, às vezes, incentivada pelo poder público municipal. "Que se ferre o pobre", deve dizer a autoridade - "permito que eles descumpram a lei hoje, ganho o voto deles agora, e, no futuro, quando as águas destruírem o patrimônio de vida inteira, eles que se queixem ao bispo, ao prefeito e busquem a caridade pública".

Infelizmente, é na tragédia que adquirimos consciência das mazelas que trazem o descumprimento de leis de meio ambiente, de urbanismo e de segurança. É quando o cidadão perde tudo que ele, finalmente, desperta para o fato de que lei não deve ser descumprida. É quando uns sem-vergonhas, que nada perderam vêm dizer que tragédias são inevitáveis. São uns canalhas".


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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