Doces imagens de minha infância - Jornal Fato
Artigos

Doces imagens de minha infância

Minha homenagem ao "Dia das Crianças"


- Foto: Cachoeiro em Preto e Branco

Um domingo igual a tantos outros.

Não. Agora me lembro: choveu, no último domingo. E fez frio.

Por que me lembro desses detalhes?

Porque, no domingo passado, também não saí de casa. Fazia frio e chovia muito.

Mas hoje, domingo, não chove nem faz frio!

Por que também não saí de casa?

Sei lá.

Eu me enganei: hoje não é um domingo igual a tantos outros.

Chego à janela e não vejo os trilhos por onde passava o trem de ferro.

(No lugar dos trilhos, existe, agora, uma rua (ou uma avenida). O trem de ferro já não passa, por ali, há muito tempo! Nem vai passar nunca mais).

Também não vejo, à minha frente, da mesma janela, um barranco enorme, bem alto, por onde a garotada subia, e invadia a chácara do vizinho, que ficava lá em cima.

Estico o pescoço e não vejo a casa do Chicão Madureira, da dona Teresa, do Jamil, lá no final, quase na curva que dava para o Campo do Estrela. Também não consigo ver a casa do Dr.  Athayr  Cagnin. (Sei que ela ainda está lá, inteirinha, no mesmo lugar, teimosa, resistindo ao tempo).

Na minha casa não existe varanda. Mesmo que existisse, dela eu não conseguiria ver a casa do Zenô, isolada, lá longe. A única que havia, perto do capinzal, onde a gente caçava passarinho.

Acalento, no fundo da memória, com muito carinho, essas imagens, doces imagens de minha doce infância: o pique-de-esconder, a bola de vidro, o pião, o papagaio, a pelada com bola de meia, às margens da linha do trem, as briguinhas de rua, sem consequências...

Hoje, domingo, eu chego à janela e não vejo os trilhos por onde passava o trem de ferro; não vejo, à minha frente, um barranco enorme, bem alto; não vejo a casa do Chicão Madureira, a casa da dona Teresa, a casa do Jamil, a do Dr. Athayr... Não vejo, enfim, a meninada, ali, fazendo arte, de bem com a vida.

Hoje é domingo, mas eu não brinco de pique-de-esconder, não jogo bola de vidro, não rodo pião, não empino papagaio, não jogo pelada com bola de meia, às margens da linha do trem...

Não. Deixei pra trás a minha infância e não estou passando o fim de semana, ali, na Linha da Barra, na casa da tia Rosalva.

Mas hoje é domingo.

Eu chego à janela de minha casa, olho pro céu, e tenho uma certeza: tia Rosalva, a essas horas, está lá em cima.

Tio Augusto, de cabeça branquinha, sorridente, deve ter ficado muito feliz quando viu dona Rosalva (era assim que ele, carinhosamente, a chamava) toda sorridente, lá no céu, esperando um beijo seu.

Decididamente, hoje não é um domingo igual a tantos outros.


Colunista

Comentários