Conexão Mansur: Personagens de Nossa Terra - Jornal Fato
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Conexão Mansur: Personagens de Nossa Terra

Confira mini-biografias de pessoas ilustres de nossa Terra e nossa História


- Ilustração: Zé Ricardo

Atendendo a pedido do Joacyr Pinto, da revista SETE DIAS, a partir da edição 883 da revista (20/05/2006), escrevi e publiquei lá 48 mini-biografias de pessoas ilustres de nossa Terra e nossa História. Agora, passados exatos 17 anos, repito essas mini-biografias aqui no ES de FATO, três delas a cada número, homenageando a esses 48 cidadãos de nossa Terra e História, e ao Joa, Léverson e Wagner, que me toleram por todos esses anos.

 

BERNARDO HORTA (01)

Bernardo Horta de Araújo, diz Newton Braga, é a maior figura da História de Cachoeiro. Filho do Desembargador José Feliciano Horta de Araújo (que dá nome ao Fórum de nossa cidade) e de D. Izabel de Lima, filha do Barão de Itapemirim, nasceu em 20 de fevereiro de 1862, em Itapemirim, Fazenda Muquy, terras do avô barão.

Fundador do 1º Clube Republicano do Estado, foi Presidente da Câmara Municipal de Cachoeiro (1902/1903), cargo que equivalia ao de Prefeito (fruto de sua administração, em 1º de novembro de 1903 foram inaugurados a luz elétrica (na Ilha da Luz) e o prédio da Prefeitura de Cachoeiro (no local onde está, hoje, a Câmara).

Casou-se com D. Angelina Ayres Horta, filha de Joaquim Ayres (maçom, fotógrafo e fundador do Grêmio Bibliotecário Cachoeirense (biblioteca da Maçonaria), como Bernardo).

Farmacêutico formado em Ouro Preto - MG (dezembro/1881), jornalista (redator-chefe do "Cachoeirano") e político (prefeito, vereador e deputado federal). Seu nome está inscrito em nossa história principalmente pela sua atuação política. Simples, idealista, honesto, sonhador e grande orador, como define Evandro Moreira, esses predicados foram sua glória e o seu martírio.

No término de seus dias, pobre, endividado, doente, viúvo e desprestigiado, desgostoso com os rumos da República, suicidou-se no Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 1913, dia em que completava 51 anos e cinco dias após a inauguração do Grupo Escolar Bernardino Monteiro, em Cachoeiro. Imagine o sofrimento do grande homem: - esquecido por Cachoeiro, num canto qualquer do Rio, enquanto aqui inauguravam a Fábrica de Tecidos e a Fábrica de Cimento (fins de 1912) e o mais portentoso de nossos prédios públicos - o Bernardino Monteiro.

"Deixou um nome limpo na vida pública, como na particular", disse Antonio Marins.

Bernardo Horta pediu "lhe fosse dada sepultura rasa e fosse feito enterro de última classe". A cidade teve vergonha e quando seus restos mortais foram trasladados para cá, em 1919, teve verdadeira multidão a acompanhá-los. Depois, a única homenagem que a cidade lhe prestou - e sobreviveu - foi dar o seu nome a uma de nossas principais ruas. É muito pouco.

(Em 19 04 2007 Nelson Sylvan me deu as seguintes informações: - A esposa de Bernardo, Angelina, tinha o apelido de Nininha e morreu tuberculosa, por volta dos 20 anos de idade. Casou-se com aproximadamente 13 anos e teve cinco filhos: Maria Izabel, Fábio, Zilma, Lélia e José.

José casou-se com Iná Avidos, filha de Florentino Avidos que, por sua vez, era casado com uma das irmãs de Jerônimo Monteiro. Zilma casou-se com o escritor Henrique Pongetti e tinha uma pousada no Alto da Boa Vista (Rio).

Os filhos de Bernardo Horta, logo após o falecimento dele, foram criados pela mãe de Nelson Sylvan, Sra. Maria Tereza Sylvan (Dona Preta), que era da cidade de Areia - PB. O bisneto, que também se chama Bernardo, é jornalista, afirmou, em carta dirigida a Nelson, que Bernardo Horta tinha o apelido de "Beré".

 

GIL GOULART (02)

Gil Diniz Goulart nasceu em 14/05/1844, Angra dos Reis - RJ. Bacharel em Direito (formou-se em São Paulo, turma de 1867), foi presidente da Câmara de Cachoeiro, quatriênio 1883/1887. Republicano histórico, Deputado Estadual e Senador na Constituinte Republicana. Faleceu aos 82 anos, em 16/04/1927, no Rio de Janeiro (onde exercia a advocacia).

Se algum outro prefeito o fez, não sabemos, mas seu relatório de governo foi o único que chegou até nós (foto de Gil Goulart e relatório foram preservados por Gil Gonçalves). O relatório, 15 páginas, distribuído em 16/03/1887, mostra o extraordinário desenvolvimento de Cachoeiro no seu governo. Está nele a história da construção de nossa "primeira" ponte, inaugurada em 11/06/1887 (próxima à prefeitura), da qual restam os pilares. Segundo apuramos, e não conferimos, quando do desmonte da ponte (outubro de 1965) parte das estruturas metálicas, em boas condições (corrimão), teria sido cedida ao Jaraguá, para servir como cerca. A estrutura metálica foi importada da Alemanha.

Está nesse relatório do Prefeito Gil Goulart notícia da organização dos serviços do cemitério, quando foi instituído o "imposto sobre a vaidade". Diz o relatório: "taxas funerárias que (alguns) julgam caras, quando é certo que só são elevadas em relação às carneiras, o que constitui um imposto sobre a vaidade, a benefício dos pobres, a quem a Câmara concede sepulturas grátis e tão dignas como as dos que pagam covas comuns".

É da época a instalação de lampiões belgas, que funcionavam a querosene, primeira iluminação pública da cidade. (32 lampiões "com seus competentes postes": 24 cobrindo a sede da vila e 8 na ponte).

Quando, em 1987, comemorando o centenário da ponte, reeditei o relatório de Gil Goulart (1000 exemplares, esgotados), escrevi o seguinte comentário sobre o texto: "Folha por folha, surgem os agradecimentos aos particulares que investiram graciosamente nas obras públicas". Isso em 1887.

 

RUBEM BRAGA (03)

Tolstoi ou algum outro clássico escreveu: - se alguém quer ser universal, cante sua aldeia. Rubem Braga aproveitou a lição; muitos de seus textos são sobre Cachoeiro. O leitor de Rubem, de onde seja, tem a impressão de estar lendo sobre sua (do leitor) cidade. Mais importante personagem da literatura de Cachoeiro, o "Sabiá da Crônica" soube como ninguém, passar para pequenos textos "as boas coisas da vida", título de um de seus últimos livros. É citado, ao lado de Machado de Assis, como leitura obrigatória para quem quer aprender a escrever. Boa indicação de leitura: seu "200 Crônicas Escolhidas", seleta de quase todo período em que escreveu as 15.000 crônicas para jornais e revistas. E, ainda, sua biografia, escrita por Marco Antonio de Carvalho - "Um Cigano Fazendeiro do Ar".

Nasceu em Cachoeiro em 12/01/1913; morreu em 19/12/1990, no Rio. Filho de Francisco de Carvalho Braga, primeiro prefeito de Cachoeiro, paulista de Guaratinguetá, tabelião na cidade, e de Rachel de Cardoso Coelho.

A primeira crônica reconhecida - A Lágrima - foi publicada no jornal "O Itapemirim", do Grêmio do Colégio Pedro Palácios, em dezembro de 1926 (Rubem tinha 13 anos). O Professor Ávila, diretor do colégio, ao chamar o cronista de "burro", levou Rubem a deixar Cachoeiro. Para Niterói e, daí, para o mundo. Segundo Sérgio Garschagen "a afronta do velho mestre fez mais pela literatura e pelo jornalismo brasileiro que a maioria dos literatos da Semana de Arte Moderna de 22".

Em Cachoeiro, Rubem Braga é nome de teatro, de bairro popular, de programa de incentivo cultural e até de Trevo, o antigo Trevo do BNH. (Funcionários do Banco do Brasil e eu, aposentado, queríamos homenagear Rubem Braga, dando seu nome à nova agência. Descobrimos que o banco não batiza agência com nome de pessoas, vivas ou mortas, exceto se a agência se localizar em logradouro com o nome do próprio. Com a ajuda da Câmara Municipal, conseguimos. Aprovou-se lei dando ao Trevo do BNH o nome de "Trevo Rubem Braga" (Lei nº 5157 de 30 de março de 2001, sancionada pelo Prefeito Theodorico de Assis Ferraço). A nova agência instalou-se ali, e ficou Agência Rubem Braga). Coisas do velho Braga.

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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