Conexão Mansur: Passado e Presente - Jornal Fato
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Conexão Mansur: Passado e Presente

O passado foi melhor, ou seja, indo diretamente ao assunto, há alguma coisa errada nos nossos tempos atuais


- Ilustração: Zé Ricardo

Está na Bíblia, versão na linguagem atual (Eclesiastes 7,10):

- "Nunca pergunte: - Por que será que antigamente tudo era melhor? Essa pergunta não é inteligente".

Noutra versão bíblica, em uma outra de minhas onze Bíblias, o mesmo versículo é assim traduzido:

- "Não pergunte: Porque os tempos passados eram melhores que os de agora? Essa não é uma pergunta de sábio".

A pergunta criticada no Eclesiastes é consequência de que nós sempre achamos que o passado foi melhor, ou seja, indo diretamente ao assunto, há alguma coisa errada nos nossos tempos atuais.

Só que a maioria de nós nunca procura o que há de errado em nosso tempo, e, se não procuramos, não temos como achar. Só criticar só o presente não vale nada.

A sugestão que dou é a de que em vez de só olharmos para o passado, olhemos também, e concretamente, para o que acontece hoje, tão "pior" do que acontecia no passado.

A reflexão que faço, relativa a qualquer campo da atuação do cidadão, principalmente em tudo referente à sua cidade (onde VOCÊ está PRESENTE) é esta:

- Não elogie em demasia o que foi feito ou o que foi desmanchado no PASSADO.

Antes, pergunte a si mesmo, inicialmente:

- Por que estou tão calado com as coisas que acontecem ou não acontecem, HOJE, na nossa cidade?

- Essa reflexão, essa pergunta, pode não resolver problemas passados, mas vai ajudar - e muito - a resolver problemas de hoje e que surgirão no futuro.

Ficar em silêncio no hoje é mil vezes pior do que só e apenas elogiar o passado, fingindo que nada acontece de bom ou de ruim no presente.

 

O brilho da democracia

Felipe Charra

No dia primeiro do mês fui assistir a uma palestra, aqui mesmo em Cachoeiro, na qual o assunto foi dos melhores: Democracia e Direitos Humanos. E fiquei muito feliz, foi um momento riquíssimo!

Pelo meio da palestra, falando em democracia e direitos, falou-se de nossas crianças e jovens. E para mim, foi o ponto mais marcante, pois em meu interior, reencontrei-me com algumas de minhas melhores memórias de vida.

Trabalhei por algum tempo nos Centros históricos e culturais do município, de modo especial na "Casa dos Braga", e de passagem, no Museu Ferroviário. Faço aqui uma confissão: quando iniciei, não tinha muito gosto pelo trabalho, pois considerava os museus cachoeirenses muito pequenos e empoeirados. Não me despertavam entusiasmo. Mas com o tempo, esse professor infalível, fui entendendo aquilo que vovó já dizia: as pequenas caixinhas, podem ter grandes presentes.

Muitas crianças e jovens das periferias e distritos do município, através das escolas, fazem passeios nesses pequenos centros culturais, e com o tempo eles foram me educando para o que é Cultura e Democracia. Não demorei para observar o brilho nos olhos dessas crianças e jovens ao entrarem nos pequenos centros históricos e culturais. Fui descobrindo aos poucos, que para grande parte, era a maior experiência cultural da vida. Muitos nunca haviam saído de Cachoeiro, e basicamente desconheciam o centro da cidade. Ficavam encantados com aquilo que para mim, por muito tempo, era simplório. Foi quando me dei conta de que em meu pequeno trabalho, de atendê-los com visita guiada, eu deveria oferecer o meu melhor!

Também venho de uma região da cidade onde o mais próximo de um ambiente social, intelectual e cultural que se tem, são as igrejas. É importante destacar que ter acesso a cultura é Direito de todos e faz parte do Processo Democrático. Os poucos que tinham oportunidade de ir até o centro da cidade, nos centros culturais, deviam receber o melhor tratamento e atendimento possível. Esse era meu pequeno grande ato pela democracia no município!

Não posso nunca esquecer minhas ansiedades enquanto esperava os ônibus escolares, para ver o brilho nos olhos das crianças, naquilo que para muitos, era o maior passeio de suas vidas, e o maior contato com história e cultura. Eu fazia questão de inseri-los nas apresentações, pedindo-os que lessem crônicas e poemas, ou mesmo escutando suas curiosidades e saberes.  Era meu dever proporcionar a cada um a dignidade que sempre devem ter enquanto cidadão e pessoa que são.

É importante destacar que história e cultura não são para simples exibição, para se ter monopólio, para se auto promover socialmente, e jamais devem ser restritos aos mesmos grupos fechados, que formam a chamada "Elite Cultual". Cultura é liberdade, é transformação de vida, é democracia, e deve ser sempre brilho nos olhos de alguém!

O brilho da democracia!

(Felipe Charra, jovem cachoeirense, com 24 anos de idade, é formado em História, pela Universidade São Camilo, com pós-graduação em Psicopedagogia).

 

José Bonifácio falava assim...

(Essas frases abaixo, do nosso Patriarca da Independência, as publiquei numa Conexão Mansur há quase 10 anos passados. Mas, dada a atualidade delas, resolvi repeti-las. Então vai!)

José Bonifácio de Andrada e Silva, Patriarca da Independência, é herói nacional dos mais respeitados em todos os tempos e "personagem central no processo de fundação político-institucional do Brasil". Seus textos - alguns deles - foram reunidos em livro intitulado "Projetos para o Brasil" (Cia. das Letras, 372 pág.). Atualíssimo, apesar de já estar ao redor de dois séculos, merece ser lido. Abaixo, tira-gosto de José Bonifácio:

"SEJAMOS, POIS, SÁBIOS E PRUDENTES, porém, constantes sempre". /// "Se a lei deve defender a propriedade, muito mais deve defender a liberdade pessoal dos homens, que não podem ser propriedade de ninguém". /// "O mal está feito, senhores, mas não o aumentemos cada vez mais; ainda é tempo de emendar a mão". /// "Todos os homens de cor forros, que não tiverem ofício ou modo certo de vida, receberão do Estado uma pequena sesmaria de terra para cultivarem, e receberão outrossim dele os socorros necessários para se estabelecerem, cujo valor irão pagando com o andar do tempo". /// "A maior corrupção se acha onde a maior riqueza está ao lado da maior pobreza". /// "De que serve uma Constituição em papel?" /// "O DIÁRIO anuncia com ênfase as viagens e passeios de (Dom) Pedro, mas por que não anuncia igualmente quantas vezes bebe, mija e cag... diariamente". /// "Um mau governo é mais filho da moleza e depravação nacional do que da audácia dos que influem no governo". /// "Nenhuma nação sobrecarregada de impostos é própria para grandes coisas". /// "Quanto Shakespeare não tirou de seus contemporâneos? E quanto o nosso Camões?" /// "F. é linda moça; mas é pena que a natureza se enganasse dando-lhe em lugar de coração uma abóbora, se ao menos lhe desse em outra parte...". /// "Os que não têm medo comandam os que têm". /// "Ninguém melhor para descobrir um ladrão, que outro ladrão". /// "Todo homem de bem que diz verdades é detestado". /// "Quando me lembro do que me tem custado a mania de querer endireitar o mundo, e fazer felizes os homens, amaldiçoo-me a mim e a eles".

 

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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