Conexão Mansur: Não creio seja sonhar em demasia - Jornal Fato
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Conexão Mansur: Não creio seja sonhar em demasia

Reflexões sobre o Palácio Bernardino Monteiro.


- Foto: Divulgação/PMCI

Agora que avança a reforma do Colégio Bernardino Monteiro, faço retorno a meu escrito de março/2012, adaptado.

"2012 - Fiz palestra na Escola Florisbelo Neves, para uma turminha muito interessada (uns vinte alunos, entre 12 e 17 anos). Falei sobre o dia 25 de março, dia da cidade. Ao término da palestra, a professora perguntou por que é que Cachoeiro não tem museu e as "coisas" da História da cidade estão nas mãos de particulares. Respondi que o que for parar em órgão público em Cachoeiro, material histórico, ou é roubado, perdido ou destruído (não falo de nenhuma administração em particular). Cheguei a comprar revistas antigas de "seo" Newton Meirelles, de quem as achou no lixo ou as roubou, depois que parentes dele as doaram para a Prefeitura.
Poderíamos conseguir que prefeitos se comprometessem a DEVOLVER IMEDIATAMENTE O ANTIGO COLÉGIO BERNARDINO À HISTÓRIA DA CIDADE, o que poderia acontecer logo no início de 2013, quando o prédio completa 100 anos. Com o prédio tendo a histórica destinação de volta, o prefeito haveria de se comprometer a, também, criar FUNDAÇÃO CULTURAL com quadro de servidores estáveis, permitindo que particulares pudessem doar o que guardam da História local para a Fundação, em razoável esperança de que não seriam roubados.
Cachoeiro tem dos maiores tesouros de coisas históricas. Basta ver a quantidade de fotos antigas que circulam nas redes sociais.
Eu mesmo, com os cuidados de um órgão oficial da cultura com quadro estável de pessoal, extremamente seguro, o que dá certa garantia de que o material não será roubado, não teria dúvida em doar, entre outros, a "Coleção Gil Gonçalves" de fotografias (claro, se a família autorizar), a impressora histórica do Correio do Sul (minha e de Paulo Thiengo), alguns livros esgotados e raros sobre Cachoeiro... e muito mais.
Aí poderei dizer à professora, na próxima vez, que Cachoeiro tanto tem documentos históricos, e muitos, como estão à disposição da população, dos estudiosos e dos estudantes, tudo microfilmado, tudo postado na internet, etc. etc. etc. Não creio seja sonhar em demasia".

Esse aí de cima, é meu texto de março de 2012, 11 anos passados. Espero, agora, concluída a reforma do Bernardino, que a Prefeitura informa ser até o fim de 2023, possamos ter a FUNDAÇÃO CULTURAL (ou museu) e arquivo histórico à altura de nossa terra e não a "ninharia" que está hoje lá na Casa da Cultura, como informado na edição especial do aniversário de Cachoeiro, no ES de FATO da semana passada.

 

Pequenas notas sobre a Escola Bernardino Monteiro

Maria Elvira Tavares Costa

Recolhi tempos atrás, nos livros do Professor Maciel, algumas informações sobre o Bernardino Monteiro, às quais acresci alguns comentários. Usava esses dados quando apresentava Cachoeiro aos estudantes que participavam do projeto da Jardineira, ônibus adaptado que transitava com alunos nos pontos culturais e turísticos da cidade. Preparei apostila, com citações históricas sobre cada ponto de visitação, inclusive sobre Bernardino Monteiro. Este material estará sempre à disposição se, algum dia, alguém de boa vontade quiser reativar o projeto, cuja finalidade era ensinar o amor e a história de nossa terra às novas gerações.

As notas que se seguem são colaboração inicial, com pretensão de apoiar campanha de valorização da cidade entre a juventude. Do que aprendi com o Professor Maciel e com os dados que fui juntando, acentuo:

1 - As obras do Grupo Escolar "Bernardino Monteiro" foram iniciadas no governo (estadual) de Jerônimo de Souza Monteiro, entre 1908 e 1912;

2 - A inauguração do importante prédio ocorreu no dia 15 de fevereiro de 1913, no governo de Marcondes Alves de Souza (1912 - 1916);

3 - Jerônimo Monteiro procedeu à reforma do Ensino Público, tornando obrigatórias as instruções primárias;

4 - O Bernardino Monteiro foi o segundo Grupo Escolar inaugurado no Estado - a arquitetura era padrão e, propositalmente, reproduzia um palacete, buscando a valorização da Educação. Os Grupos Escolares eram palácios do saber;

5 - Somente a partir de sua criação é que as mulheres de nossa região, principalmente as mais humildes, de fato, tiveram acesso à educação formal - fator decisivo para as grandes conquistas femininas alcançadas ao longo do século XX;

6 - O construtor do prédio foi Álvaro Ramos, cachoeirense;

7 - Foi nominado em homenagem ao irmão do governador Jerônimo Monteiro;

8 - No "Bernardino", funcionava a Caixa Escolar " Deocleciano de Oliveira", que facilitava aos alunos a aquisição de material escolar;

9 - Dispunha o colégio da Biblioteca Infantil "Carolina Pickler"; 

10 - Mantinha o pequeno jornal "A Pátria", bem como, uma tropa de escoteiros; 

11 - O colégio prestava aos seus alunos assistência social e tratamento dentário.

Foi um dos maiores estabelecimentos de ensino que já existiram no Espírito Santo. Muitas gerações de cachoeirenses receberam ali as primeiras lições e construíram, a partir daí, suas carreiras acadêmicas. 

Os que ali estudaram se contam aos milhares e mantêm vivas e vinculadas ao Bernardino, suas memórias afetivas da infância, com gratidão e reverência. O prédio pertence, de fato, a cada um deles e a cada um dos habitantes de Cachoeiro que o sabem amar. O Bernardino Monteiro é um templo histórico cuja missão à espera de resgate urgente, é a de promover o culto ao conhecimento e à cultura!

 

Nossa história: a ferrovia em Cachoeiro.

Felipe Charra

Tem Cachoeiro seus centros históricos, que ajudam conhecer nossas raízes culturais, e um dos mais importantes é a estação ferroviária no centro da cidade, hoje Museu Domingos Lage. O lugar é repleto de histórias e boas memórias. Tive a oportunidade de observar por um mês o público que lá frequenta, e pude compreender o valor do passado construído a fogo e ferro!

Cada visitante traz consigo boas memórias, sempre com muita disposição em compartilhar. Para muitos é uma chance de retornar com os pensamentos os dias de infância, os sons, objetos e o espaço entre as paredes de tijolos vermelhos, oferecem uma verdadeira experiência no tempo. Alguns permitem-se emocionar, ao lembrar dos pais e maridos que lá trabalharam, seja na manutenção ou condução, seja fazendo comércio. A estrada de ferro Leopoldina chegou à cidade em 1903, tempo no qual o pilar da economia municipal ainda era o café.

"Saudade" e "bons tempos" são palavras que se repetem a cada visita, que muitas vezes passam com pressa, mas nunca tão rápido como o tempo que consome a velha estação. Muitos documentos estão se perdendo pela má conservação e inadequado manejo. Mesmo uma história feita no ferro, e cravada na pedra, pode se perder pelo desleixo humano!

Da estação, podemos "embarcar" em viagem, seguindo rumo ao distrito de Soturno, km 491 da linha, mas primeiro passamos pelas ruínas da velha estação de Cobiça. Já em Soturno, encontra-se o monumental Pontilhão, que leva até o túnel esculpido na pedra. Existem nele marcas das ferramentas de ferro. Um verdadeiro oásis para os amantes da fotografia! As margens da estrada de ferro, ruínas de antigas casas de trabalhadores não deixam mentir o impacto histórico que a empresa deixou aos moradores da região. A ferrovia foi fonte de trabalho!

Soturno ainda é de grande importância na economia municipal, mas agora, com suas empresas de mármore e granito.

Há também a região da Estação de Soturno, hoje nas terras do município de Vargem Alta, que se emancipou de Cachoeiro. Da velha estação, restam histórias dos encontros e despedidas e do comércio, lá por muitos realizado, seja para transporte nos vagões, como o café, pessoas e animais; seja nas vendas realizadas na própria estação para os viajantes - salgados, bebidas, frutas e doces.

Também não foram poucos os professores que para educar em nossa região, utilizaram a estrada de ferro como transporte, chegando até às escolas de zona rural. São muitos os relados de ex-alunos, das escolas então unidocente, quando o professor vinha de longe, não só para alfabetizar, mas também para preparar a merenda e limpar a sala.

No vapor ou no diesel, o cachoeirense chegou e partiu, deixou ou abraçou!

O soar do apito das locomotivas ainda existe no coração de muitos cachoeirenses e de pessoas da região, e é necessário melhor preservar, afim de não descarrilhar os vagões carregados de histórias e memórias. Nossa viagem não pode acabar na estação!

Agora que avança a reforma do Colégio Bernardino Monteiro, faço retorno a meu escrito de março/2012, adaptado.

"2012 - Fiz palestra na Escola Florisbelo Neves, para uma turminha muito interessada (uns vinte alunos, entre 12 e 17 anos). Falei sobre o dia 25 de março, dia da cidade. Ao término da palestra, a professora perguntou por que é que Cachoeiro não tem museu e as "coisas" da História da cidade estão nas mãos de particulares. Respondi que o que for parar em órgão público em Cachoeiro, material histórico, ou é roubado, perdido ou destruído (não falo de nenhuma administração em particular). Cheguei a comprar revistas antigas de "seo" Newton Meirelles, de quem as achou no lixo ou as roubou, depois que parentes dele as doaram para a Prefeitura.
Poderíamos conseguir que prefeitos se comprometessem a DEVOLVER IMEDIATAMENTE O ANTIGO COLÉGIO BERNARDINO À HISTÓRIA DA CIDADE, o que poderia acontecer logo no início de 2013, quando o prédio completa 100 anos. Com o prédio tendo a histórica destinação de volta, o prefeito haveria de se comprometer a, também, criar FUNDAÇÃO CULTURAL com quadro de servidores estáveis, permitindo que particulares pudessem doar o que guardam da História local para a Fundação, em razoável esperança de que não seriam roubados.
Cachoeiro tem dos maiores tesouros de coisas históricas. Basta ver a quantidade de fotos antigas que circulam nas redes sociais.
Eu mesmo, com os cuidados de um órgão oficial da cultura com quadro estável de pessoal, extremamente seguro, o que dá certa garantia de que o material não será roubado, não teria dúvida em doar, entre outros, a "Coleção Gil Gonçalves" de fotografias (claro, se a família autorizar), a impressora histórica do Correio do Sul (minha e de Paulo Thiengo), alguns livros esgotados e raros sobre Cachoeiro... e muito mais.
Aí poderei dizer à professora, na próxima vez, que Cachoeiro tanto tem documentos históricos, e muitos, como estão à disposição da população, dos estudiosos e dos estudantes, tudo microfilmado, tudo postado na internet, etc. etc. etc. Não creio seja sonhar em demasia".

Esse aí de cima, é meu texto de março de 2012, 11 anos passados. Espero, agora, concluída a reforma do Bernardino, que a Prefeitura informa ser até o fim de 2023, possamos ter a FUNDAÇÃO CULTURAL (ou museu) e arquivo histórico à altura de nossa terra e não a "ninharia" que está hoje lá na Casa da Cultura, como informado na edição especial do aniversário de Cachoeiro, no ES de FATO da semana passada.

 

Pequenas notas sobre a Escola Bernardino Monteiro

Maria Elvira Tavares Costa

Recolhi tempos atrás, nos livros do Professor Maciel, algumas informações sobre o Bernardino Monteiro, às quais acresci alguns comentários. Usava esses dados quando apresentava Cachoeiro aos estudantes que participavam do projeto da Jardineira, ônibus adaptado que transitava com alunos nos pontos culturais e turísticos da cidade. Preparei apostila, com citações históricas sobre cada ponto de visitação, inclusive sobre Bernardino Monteiro. Este material estará sempre à disposição se, algum dia, alguém de boa vontade quiser reativar o projeto, cuja finalidade era ensinar o amor e a história de nossa terra às novas gerações.

As notas que se seguem são colaboração inicial, com pretensão de apoiar campanha de valorização da cidade entre a juventude. Do que aprendi com o Professor Maciel e com os dados que fui juntando, acentuo:

1 - As obras do Grupo Escolar "Bernardino Monteiro" foram iniciadas no governo (estadual) de Jerônimo de Souza Monteiro, entre 1908 e 1912;

2 - A inauguração do importante prédio ocorreu no dia 15 de fevereiro de 1913, no governo de Marcondes Alves de Souza (1912 - 1916);

3 - Jerônimo Monteiro procedeu à reforma do Ensino Público, tornando obrigatórias as instruções primárias;

4 - O Bernardino Monteiro foi o segundo Grupo Escolar inaugurado no Estado - a arquitetura era padrão e, propositalmente, reproduzia um palacete, buscando a valorização da Educação. Os Grupos Escolares eram palácios do saber;

5 - Somente a partir de sua criação é que as mulheres de nossa região, principalmente as mais humildes, de fato, tiveram acesso à educação formal - fator decisivo para as grandes conquistas femininas alcançadas ao longo do século XX;

6 - O construtor do prédio foi Álvaro Ramos, cachoeirense;

7 - Foi nominado em homenagem ao irmão do governador Jerônimo Monteiro;

8 - No "Bernardino", funcionava a Caixa Escolar " Deocleciano de Oliveira", que facilitava aos alunos a aquisição de material escolar;

9 - Dispunha o colégio da Biblioteca Infantil "Carolina Pickler"; 

10 - Mantinha o pequeno jornal "A Pátria", bem como, uma tropa de escoteiros; 

11 - O colégio prestava aos seus alunos assistência social e tratamento dentário.

Foi um dos maiores estabelecimentos de ensino que já existiram no Espírito Santo. Muitas gerações de cachoeirenses receberam ali as primeiras lições e construíram, a partir daí, suas carreiras acadêmicas. 

Os que ali estudaram se contam aos milhares e mantêm vivas e vinculadas ao Bernardino, suas memórias afetivas da infância, com gratidão e reverência. O prédio pertence, de fato, a cada um deles e a cada um dos habitantes de Cachoeiro que o sabem amar. O Bernardino Monteiro é um templo histórico cuja missão à espera de resgate urgente, é a de promover o culto ao conhecimento e à cultura!

 

Nossa história: a ferrovia em Cachoeiro.

Felipe Charra

Tem Cachoeiro seus centros históricos, que ajudam conhecer nossas raízes culturais, e um dos mais importantes é a estação ferroviária no centro da cidade, hoje Museu Domingos Lage. O lugar é repleto de histórias e boas memórias. Tive a oportunidade de observar por um mês o público que lá frequenta, e pude compreender o valor do passado construído a fogo e ferro!

Cada visitante traz consigo boas memórias, sempre com muita disposição em compartilhar. Para muitos é uma chance de retornar com os pensamentos os dias de infância, os sons, objetos e o espaço entre as paredes de tijolos vermelhos, oferecem uma verdadeira experiência no tempo. Alguns permitem-se emocionar, ao lembrar dos pais e maridos que lá trabalharam, seja na manutenção ou condução, seja fazendo comércio. A estrada de ferro Leopoldina chegou à cidade em 1903, tempo no qual o pilar da economia municipal ainda era o café.

"Saudade" e "bons tempos" são palavras que se repetem a cada visita, que muitas vezes passam com pressa, mas nunca tão rápido como o tempo que consome a velha estação. Muitos documentos estão se perdendo pela má conservação e inadequado manejo. Mesmo uma história feita no ferro, e cravada na pedra, pode se perder pelo desleixo humano!

Da estação, podemos "embarcar" em viagem, seguindo rumo ao distrito de Soturno, km 491 da linha, mas primeiro passamos pelas ruínas da velha estação de Cobiça. Já em Soturno, encontra-se o monumental Pontilhão, que leva até o túnel esculpido na pedra. Existem nele marcas das ferramentas de ferro. Um verdadeiro oásis para os amantes da fotografia! As margens da estrada de ferro, ruínas de antigas casas de trabalhadores não deixam mentir o impacto histórico que a empresa deixou aos moradores da região. A ferrovia foi fonte de trabalho!

Soturno ainda é de grande importância na economia municipal, mas agora, com suas empresas de mármore e granito.

Há também a região da Estação de Soturno, hoje nas terras do município de Vargem Alta, que se emancipou de Cachoeiro. Da velha estação, restam histórias dos encontros e despedidas e do comércio, lá por muitos realizado, seja para transporte nos vagões, como o café, pessoas e animais; seja nas vendas realizadas na própria estação para os viajantes - salgados, bebidas, frutas e doces.

Também não foram poucos os professores que para educar em nossa região, utilizaram a estrada de ferro como transporte, chegando até às escolas de zona rural. São muitos os relados de ex-alunos, das escolas então unidocente, quando o professor vinha de longe, não só para alfabetizar, mas também para preparar a merenda e limpar a sala.

No vapor ou no diesel, o cachoeirense chegou e partiu, deixou ou abraçou!

O soar do apito das locomotivas ainda existe no coração de muitos cachoeirenses e de pessoas da região, e é necessário melhor preservar, afim de não descarrilhar os vagões carregados de histórias e memórias. Nossa viagem não pode acabar na estação!

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