Conexão Mansur: 8 Anos da Casinha de Livros da Praça - Jornal Fato
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Conexão Mansur: 8 Anos da Casinha de Livros da Praça

É a terceira casinha do Livres Livros. Só que essa, bem no centro da cidade, bem próxima aos locais por onde me movimento naturalmente, me trouxe muitas e maiores emoções


- Ilustração: Zé Ricardo
Fotos: arquivos
 

(Crônica publicada há 8 anos (junho/2016 - Conexão Mansur 411, sob título "O Jeito é a Educação", relatando a inauguração da casinha de livros ainda existente na Praça Jerônimo Monteiro, centro de Cachoeiro. Passados 8 anos, felizes, eu e Maria Elvira continuamos cuidando e colocando livros de qualidade na casinha, nós e tantos amigos cachoeirenses, amante da boa leitura. Graças a DEUS e a Cachoeiro, a casinha persiste em suas funções culturais. Abaixo a crônica de 2016).

Durante a inauguração da minibiblioteca do projeto Livres Livros, na Praça Jerônimo Monteiro, vivenciei momentos importantes da cultura da cidade e, de modo geral, da cultura como manifestação humana.

É a terceira casinha do Livres Livros que é inaugurada em Cachoeiro. Só que essa, bem no centro da cidade, bem próxima aos locais por onde me movimento naturalmente, me trouxe muitas e maiores emoções.

Não executando nada, apenas acompanhando Maria Elvira e doando alguns livros de minhas estantes, pude observar - neste caso específico - tudo o que ocorre quando pessoas de bem fazem coisas boas. E para não me esquecer, listo logo essas pessoas de bem, as que estão à frente do empreendimento: Raissa Martins, Maria Elvira, Rosa Malena, Micheline, Flávio Carleti, Milena e, claro, o Denis, que foi prestar seus serviços nas regiões centrais do Brasil e não pode ver a extensão da obra cultural que ajudou a trazer para Cachoeiro.

Trabalhar bem, eles trabalharam e trabalham, e ainda trabalharão. Mas como somos humanos em busca de resultados concretos, o trabalhar bem é coisa que a gente só enxerga pelo resultado. O melhor e mais doce dos trabalhos nada será se não provocar no coração e nas atitudes dos outros, uma explosão de paixão e de racionalidade escondidas. Esse trabalho só será bom se atingir objetivos - no caso, objetivos culturais que cheguem senão a todos, ao menos à expressiva maioria.

Mas tudo isso seria mera matéria de crônica despretensiosa, se não tivesse atingido os sentimentos de uma criança - criança mesmo, pois o caso que vou contar tem como protagonista a Rayka, menina que, acredito, nos seus sete anos de idade.

Deu-se que, na inauguração da Livres Livros da Praça Jerônimo Monteiro, após o Padre Joarez, pároco da Catedral, abençoar a ação, desceu aquele "branco" nos presentes. Legal, inaugurado sim, e ninguém tinha "coragem" de ser o primeiro a abrir a portinha com o tesouro de livros escondidos.  Foi aí que vi Rayka, bem próxima da porta da casinha, quietinha, esperando como todos os outros e outras. Incentivei-a, abri a porta da casinha para ela e ela logo pegou um livro e mostrou sorriso dos mais lindos que já vi na vida. Foi quando sua mãe disse para ela: - "Rayka, minha filha, você trouxe dois livros seus para colocar na casinha!!!". E Rayka, prontamente, voltou e colocou os então seus livros lá. E mostrou - outra vez - o sorriso mais lindo que já vi na vida. O sorriso da doação sem dor.

Às vezes me perguntam se o Brasil tem jeito e que jeito é esse. O jeito é a educação de nossas crianças. E quando uma criança como Rayka doa seus próprios livros, com belo sorriso no rosto (e eu sei a dor que foi para mim repassar meus próprios livros - coisa que, só agora, aos 68 anos, faço com tranquilidade), aí tenho certeza, é a educação da doação, e só ela, que nos irá salvar, salvar nossa gente e salvar o Brasil.

 

Leitura na Praça
 
 

As obras de recuperação física e histórica do Palácio Bernardino Monteiro, no centro de Cachoeiro, estão em estágio avançado.

Segundo informações, poderá ser inaugurado agora em junho de 2024, na semana da Festa de Cachoeiro, provavelmente no dia 29.

Entre outros atrativos, o Palácio será a sede da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, terá auditório para cerca de 100 pessoas, arquivo cultural público, a Biblioteca Municipal Cel. Walter Paiva dos Santos, além de outros atrativos de qualidade que só engrandecerão nossa cidade. (E o imóvel é totalmente acessível aos portadores de deficiência física).

Com tanta coisa boa junta, sugiro mais uma, a fim de mais e mais chamar a atenção dos cachoeirenses, principalmente crianças e jovens:

- Minha sugestão é aproveitar a área livre ao redor do Palácio, apresentando um projeto, se possível diário, que eu denominaria LEITURA NA PRAÇA. Todos os dias um servidor da cultura municipal, ou alguém convidado faria pequenas leituras de livros interessantes que relembrem a memória e a história de Cachoeiro e muito mais, além, é claro, de crônicas de Rubem, as poesias e causos de Newton Braga e textos de outros escritores ilustres de Cachoeiro, atuais e de tempos passados, sem esquecer os autores que não são de casa, claro.

Creio que com o Bernardino Monteiro renovado e a cultura na praça, nossa cidade subirá mais uns bons degraus culturais.

E mais: - pelo menos uma vez por semana, os visitantes do Palácio Bernardino Monteiro teriam direito a um cafezinho gratuito... café de qualidade e de nossa região, claro. Com isso, a agricultura, o turismo e a economia local também ganham.

No caso concreto do café, copiei a ideia do ex-prefeito de Ribeirão Preto, Antonio Palocci Filho, que informou no seu livro "A Reforma do Estado e os Municípios" - pág. 75: - "O programa Café da Manhã no Museu, que atrai milhares de moradores da cidade e região, nas manhãs de domingo, aos dois principais museus de Ribeirão Preto, obteve grande sucesso". 

Creio que o turista e o cachoeirense que por lá passarem, bem como a criançada e a juventude que por ali circularem terão uma imagem que jamais será perdida.

(O Bonde da Cultura, que implantamos na Prefeitura de Cachoeiro no ano 2000, também foi copiado de Palocci, mesmo livro, pág. 118).

Fica a sugestão para a atual administração municipal e para a que está chegando, também.

Tenho dito.


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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