Cachoeiro: das margens, o pranto e o acalanto - Jornal Fato
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Cachoeiro: das margens, o pranto e o acalanto

nício este texto com um trecho da música "Maria Maria", de Mílton Nascimento


Foto: Ronaldo Santos

Por Pâmela Gualandi

 

Início este texto com um trecho da música "Maria Maria", de Mílton Nascimento, que é propicia ao momento que nós, cachoeirenses, estamos vivenciando:

"É a cor, é o suor, é a dose mais forte e lenta

de uma gente que ri, quando deve chorar e não vive,

apenas aguenta? Quem traz na pele essa marca

possui a estranha mania de ter fé na vida."

 

O dia 25 de janeiro de 2020 ficará para sempre marcado na história da cidade de Cachoeiro de Itapemirim, pois o rio que corta a cidade - o rio Itapemirim - recebeu uma porção de água surreal, chegando à altura de quase 12 metros, segundo dados da Defesa Civil local, transbordando e inundando tudo que via pela frente. Atualmente, mais de mil pessoas encontram-se fora das casas. No comércio central e redondezas do rio, o prejuízo com a perda é de R$ 100 milhões, de acordo com informações do noticiário local. A escola "Liceu Muniz Freire", uma das mais antigas da cidade, também foi atingida pela enchente e seu pátio mais parecia uma "piscina".

Em meio à tamanha tragédia ocorrida na cidade e todo sofrimento das pessoas que perderam tudo o que tinham em suas casas, dos comerciantes e dos agricultores dos distritos atingidos, podemos ver durante um povo unido em ajudar a quem precisava. Quem sofria com a enchente, pedia socorro, pois muitos ficaram ilhados, até mesmo nos telhados de suas casas, mas vimos a Defesa Civil e outros órgãos atuando nos resgates, assim como quem tinha barco, bote, tudo o que podia fazer para ajudar e levá-los para um local seguro. A solidariedade não parou por aí, além da ajuda no resgate das vítimas da enchente, quem se sensibilizou, se disponibilizou no fornecimento de alimentação, água potável, roupas e calçados e tantas outras coisas para a população atingida. Muitos comerciantes perderam suas mercadorias, mas tiveram a disponibilidade de oferecer o que não poderia mais ser vendido e doar para quem queria ou precisava.

As águas baixaram e o rio Itapemirim voltou ao normal, e o que podemos ver é uma cidade desolada com a maior enchente que já existiu. É muita lama, equipamentos e mobiliários que foram perdidos, mercadorias danificadas, a cidade parece mais um cenário pós-guerra. Mas essa gente que não perde a sua força e enfrenta as tempestades diárias foi à luta para limpar tudo e salvar o que podia. Com isso, ganhou o apoio de milhares de voluntários, ajudando com mão de obra na reconstrução de uma cidade. Artistas locais se disponibilizaram na limpeza dos espaços públicos culturais que foram atingidos. Assim como o comércio, alguns setores públicos também foram atingidos e têm ajuda dos servidores para reestabelecer suas secretarias e voltar com o atendimento à população.

Segundo o governador Renato Casagrande, o Estado tem dinheiro em caixa para auxiliar as cidades a se reerguerem e, com o decreto de estado de calamidade pública que foi enviado pelas cidades atingidas, o Espírito Santo receberá recurso federal para repassar aos municípios afetados pelas chuvas.

Uma grande perda para todos cachoeirenses, uma enchente que ficará na história do município, muitos prejuízos (tanto materiais, quanto emocionais), mas uma grande corrente do bem, cheia de caridade, compaixão e amor. Não só ao próximo que perdeu o que tinha, mas por toda uma cidade.

Todo pranto foi juntado às águas do rio Itapemirim, mas toda gratidão dessa gente guerreira está entranhada no seu solo e ecoando nos quatro cantos dessa doce terra onde eu nasci.

 

 

 

 

 

 

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