Amor vencedor, guerreiro-criança - Jornal Fato
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Amor vencedor, guerreiro-criança

Considerando que todo brasileiro, independentemente de sua crença, é devoto do horóscopo de jornal (esta, sim, a religião oficial de nossa pátria, amada), hei de levar fé nessa previsão zodíaco-factual


- Foto: Reprodução/web

Fui informado de que, desde às 13h13 de anteontem, a Lua passou a influenciar meu signo - sou regido por um verso de Aldir Blanc -, trazendo, a partir dali, calmaria no lar e, sobretudo, com meu amor. Maravilha. Considerando que todo brasileiro, independentemente de sua crença, é devoto do horóscopo de jornal (esta, sim, a religião oficial de nossa pátria, amada), hei de levar fé nessa previsão zodíaco-factual.

 

Aliás, terá sido por isso que...?

 

Ah, um lembrete-pingente: minha mana Keila Gava e eu seguíamos em direção ao cazuá da preta-velha, numa segunda-feira, quando, de súbito, Gonzaguinha nos deu a alegria de atravessar nosso caminho. "Fé na vida, fé no homem, fé no que virá", cantou-nos ele, a bordo do caboclo que, radiante, pedalava sua Barra Forte. Sei que duvidarão de mim. Mas não me importo. Além de Keila, a poesia não me deixa mentir.

 

Também é verdade que só uso chapéu de aba curta, em detrimento de acessórios afins, porque meu mestre, que veio de Alagoas, ensinou-me a reconhecer o que de fato convém ao meu ori, e não ao meu ego. Por outro lado, ainda conforme suas lições, uma touca numa cabeça incompatível, por exemplo, resume-se a uma árvore oca, dentro da qual não há nem sequer vento; apenas o mais inóspito vácuo.

 

Voltemos à pergunta: terá sido por isso (a Lua recém-chegada ao meu signo) que você decidiu me reaparecer, logo anteontem, "sorridente, assim como está na foto sobre a mesa"?

 

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Não foi mera coincidência - esse consenso entre os "idiotas da objetividade" - a feitura da canção "Força natural do amar", minha primeira parceria com o músico Ronnie Silveira, iniciada três maios atrás, ter sido concluída somente nesta semana, sob a influência da Lua em meu signo (cuja ascendente é a Santa Sincronicidade, segundo meu guru astrometódico, Stéfano Fabris). A letra, em certo momento, afirma que o amor...

 

É deserto vencido

Sem ceder à sede

É destino tecido

Na linha da rede

Onde descansa

O amor vencedor

Guerreiro-criança

O merecedor

Do sonho firmado

No porém improvável
Enfim realizado
No inesperável

 

Bem, escrever versos é conceber mundos nos quais haveremos de ser, à luz do mesmo luar, Criador e criatura.


Felipe Bezerra Jornalista Escritor, jornalista e membro da Academia Cachoeirense de Letras

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