Ai, ai, ai, ai... - Jornal Fato
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Ai, ai, ai, ai...

Nesta manhã, uma preta-velha me encontrou no caminho e me deu um abraço comprido e abençoado


- Foto Reprodução Web

Juan Luis Guerra - doce ironia - canta a paz e, sobretudo, o amor. Prova disso é sua "Bachata rosa", que, na aurora da década de 1990, ganhou fama no Brasil. Inclusive, o artista dominicano nos presenteou, à época, com o registro de uma versão em português, intitulada "Romance rosa". 

Entretanto, a regravação definitiva em nossa língua-pátria, a meu ver (ouvir e sentir), coube a Luiz Caldas. Baianidades tupi-nagô, sua voz e seu violão envolvem-na em bons lençóis de acalanto, levando-me a arfar de saudade de um futuro a que tenho direito. "Ai, ai, ai, ai..." 

Na madrugada de ontem para hoje, "coração no escuro", sussurrei seus versos. Nesta manhã, uma preta-velha me encontrou no caminho e me deu um abraço comprido e abençoado. Depois, segui meu destino, inundado de "gota de orvalho" e de "chuva fina".

 

PRESTEZA

Numa terça-feira salpicada de garoa, fui ao restaurante, no térreo do edifício onde trabalho, tomar um cappuccino. Quem se dispôs a prepará-lo, com insuspeita - admirável, até - solicitude, foi o próprio gerente do recinto, um boa-praça que vem se notabilizando como tal no pedaço.  

Parênteses. Junto aos sambas de Zeca Pagodinho, ao jiló recheado do Bar do Seu Jura e a outras iguarias que agora não me ocorrem, o cappuccino é um dos vícios mais caros ao meu bem-estar; acima de todas essas maravilhas, porém, estão somente... você sabe. "Volta, Bezerra."  

Enquanto aguardava meu pedido, assisti à "Sessão da Tarde", na TV do estabelecimento, e logo me agradei do blazer xadrez de um dos personagens. Decidi, então, abdicar da bebida e rogar ao gerente que confiscasse o traje para mim. Mas não tive tempo, tamanha foi sua presteza.

 

JORGE VERSÍCULO (3)

Deus, quando fez o limão, já estava onisciente de que seu próximo ato seria dotar de capacidade inventiva algum ser-humano, para este chegar à fórmula da Coca-Cola. Como toda criação, no entanto, demanda seu toque final, a d'Ele, é óbvio, foi à altura: duas pedrinhas de gelo.

 

CADEIA

Pela "janela lateral do quarto de dormir" (na verdade, pela janela da sala; eu é que abuso de citações), observo um jovem conduzir seu cachorro de estimação, ao passo que tal rapaz, preso a uma coleira imaginária, é levado por seu smartphode. Que beleza é a cadeia de dependência, não?

 

DO AVÔ DO MEU AVÔ

Minha raiz vem de Luanda,

herança que me manda

rimar batuques e truques

em mandingas antigas,

que trago do avô do meu avô...

 

NA PONTA DA ABA (1)

- Você não perde tempo, hein?

- Parceiro, quem perde tempo é relógio sem bateria.

 


Felipe Bezerra Jornalista Escritor, jornalista e membro da Academia Cachoeirense de Letras

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