Água de amar, camará - Jornal Fato
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Água de amar, camará

Mandaram-me falar, nesta esquina, que todo capoeira tem a obrigação de ser, em medidas iguais, artista e lutador


- Foto Reprodução Web

Confesso que eu - planta que, à falta d'água, vai esmaecendo - não estava motivado a prosear, hoje. Só o faço porque me mandaram. Questão de obediência e reverência (com ou sem rima, acatar é meu verso e meu verbo). Mandaram-me falar, nesta esquina, que todo capoeira tem a obrigação de ser, em medidas iguais, artista e lutador.  

Assim, "a mandinga de bater com o pé" deve ser entendida como tática de batalha e expressão de alma, utilizadas conforme as artimanhas e quimeras tramadas pelo coração.

 

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Meu tambor eu batuco

e meu temor eu cutuco,

que guerreiro que guerreia,

à luz da lua cheia,

da vela e da candeia,

a si primeiro há de vencer,

para, então, merecer

as lutas vindouras,

todas consagradoras...

 
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Malandro antigo não desperdiça pernada, nem palavra. Mestre Paulinho, do grupo Princesa do Sul, que o diga. Tive a sorte de reencontrá-lo, sexta-feira dessas, no bairro Guandu, onde Cachoeiro de Itapemirim é mais Cachoeiro de Itapemirim - a desordem de sua linha do tempo é um dos cartões-postais mais bonitos da cidade.  

"A capoeira é um balde d'água, que se enche gota por gota; depois, é só desfrutar de sua abundância", ensinou-me.  

 

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Estas linhas começaram a ser esboçadas, com descrença, sob a imensidão azul de um firmamento que se pretendia estável, refutando (além do senso comum, claro) qualquer argumento meteorológico oposto. De repente, contudo, as obviedades atmosféricas vieram - literal e literariamente - por água abaixo. Foi quando relembrei que esta planta havia rogado para ser regada. Gota por gota.  

Como não ser grato a quem me exigiu esta prosa? Ah, e um adendo com dengo: a água também carecia da planta.

 

O BEM-TE-VI E O PAPAGAIO

Acordei, anteontem, às quatro da manhã e, antes mesmo do galo cantar, escutei um bem-te-vi, o que me deixou encafifado. Mas, numa passa(ra)da de olho pelo Google, descobri que a espécie gorjeia, sim, às madrugadas.  

Agora, resta-me desvendar outro mistério: o do papagaio que, num belo - "derê!" - dia, comunicou ao seu dono, em bom português, que algumas visitas haviam acabado de chegar à sua casa, segundo Cunim, Guegué e eu soubemos, (in)certa noite, no Bar do Miguel.  

Explica essa, Google.


Felipe Bezerra Jornalista Escritor, jornalista e membro da Academia Cachoeirense de Letras

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