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Essa semana viralizou nas redes sociais uma suposta brincadeira de mau gosto feita pelo funkeiro MC Gui


Essa semana viralizou nas redes sociais uma suposta brincadeira de mau gosto feita pelo funkeiro MC Gui.

Em síntese, o músico postou um vídeo no qual ele ria de uma criança que passeava na Disney usando peruca.

Depois disso, surgiram comentários de que, na verdade, a criança tinha câncer e estava tendo um dia feliz, talvez um de seus últimos, em meio às lutas travadas pela cruel doença.

Se tinha mesmo câncer não se tem ainda uma confirmação, o fato é que choveram críticas contra o funkeiro, com razão. Inclusive, o músico teve contratos encerrados e prejuízos financeiros por causa da atitude impensada, indigna e inaceitável que, por triste, muitas pessoas possuem todos os dias, mas com menos repercussão.

Após, MC Gui postou um vídeo com pedido de desculpas e se revelou muito triste. Se a tristeza decorre das sequelas de sua ação na vida da criança e de sua família ou se emana dos prejuízos financeiros sofridos não é possível saber. Contudo, de fato, toda ação tem uma reação correspondente e um preço, positivo ou negativo, a ser pago.

Esse acontecimento me faz pensar acerca do rumo que nossa sociedade tem tomado. Tudo viraliza, tudo é motivo de piada. Assim, se alguém está morrendo, antes de enxergar o ser humano, vê-se a oportunidade de um self; se alguém é magro ou gordo ou diferente vira alvo de piadas e não importa o que pode vir a sentir. Se alguém opta por uma roupa original transforma-se em objeto de críticas, etc.

Todos os dias, olhos se voltam para o alheio, mas só enxergam razões para a crítica, só sabem mirar nos defeitos do Outro. Afinal, os olhos refletem a alma, mas a alma de quem vê.  

Tudo vira piada e esta, quanto mais trágica, mais viraliza nas redes sociais, o que reflete o pensamento social muito aquém à evolução necessária à boa convivência. Seja em defesa ou em crítica, como ocorreu com MC Gui, de fato, rir da dor alheia faz sucesso e, por isso, desgraças sarcásticas nunca deixam de ser postadas.

Às vezes, me parece que algumas pessoas vivem ou sobrevivem como seres ocos, sem alma, sem vida, como vegetais pela vida presa aos estercos fixados em solos vazios.

Outras me levam a crer que parte da sociedade tem se identificado a uma geração zumbi, daquelas que, atualmente, têm feito sucesso em filmes e séries, mas, no mundo real, sem máscaras ou pinturas. Isso porque se vive desligado da alma, preocupa-se com a ostentação e com o aparente, mas, fora das redes sociais, o coração revela-se, por vezes, sofrido, os semblantes decaídos e a vida vazia.

Talvez por isso, a cada dia, fazem mais sucessos músicas que trazem em si temas como ostentação, "sofrência", depressão, fornicação, traição, etc.

Tudo bem que perfeito ninguém é, mas o mínimo de respeito é essencial quando se opta por viver em sociedade. Apesar disso, a cada dia, por tristeza, vê-se menos a palavra respeito sendo concretizada.

Como isso ocorre em todos os setores e ambientes, como resultado dessa verdade, lamento eu, lamentas tu, lamenta ele, lamentamos nós, lamentais vós e lamentam eles. Afinal, todos, de um modo ou outro, colhemos os frutos amargos de uma sociedade da qual o respeito fugiu, deixando a sensação de que não será encontrado tão cedo.


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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