Roda de capoeira agora é patrimônio da humanidade - Jornal Fato
Cultura

Roda de capoeira agora é patrimônio da humanidade

O título foi concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)


Em Cachoeiro de Itapemirim, cinco grupos de capoeira reúnem cerca de 1.500 participantes, entre professores e alunos


Dança, luta, símbolo de resistência e uma das manifestações culturais mais conhecidas no Brasil, a roda de capoeira recebeu ontem o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). 

Após votação durante a 9ª Sessão do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial, em Paris, a roda de capoeira ganhou oficialmente o título.

A presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Jurema Machado, presente na sessão do comitê, explicou que as políticas de patrimônio imaterial não existem apenas para conferir títulos, mas para que os governos assumam compromissos de preservação de seus bens culturais, materiais e imateriais.

Em Cachoeiro de Itapemirim, a decisão da Unesco foi comemorada pelos capoeiristas como uma conquista que poderá abrir novas portas para investimentos do setor privado nos cinco grupos existentes na cidade. O líder da Associação Desportiva e Cultural Navio Negreiro, Aldeci Gomes da Silva, o mestre Falcão, conta que os grupos sobrevivem com recursos próprios, além do reforço dos editais das leis Rubem Braga e João Inácio.

"Em Cachoeiro existem cinco grupos cadastrados e com registro municipal e estadual. São mais de 1.500 praticantes, entre professores e alunos, com o objetivo de manter a tradição do jogo da roda de capoeira", afirma.

Falcão, capoeirista desde 1981, se tornou mestre em 1998. "É um trabalho que dignifica e dá prazer. Centenas de crianças e adolescentes já passaram pelo meu grupo e pela liderança dos meus colegas mestres das outras entidades. Mais que um esporte, a capoeira é uma atividade de inclusão social", garante.

"Vejo como de grande importância a decisão e comemoro o fato. Certamente, o empresariado terá o outro olhar para a capoeira que sempre foi preterida pelos esportes olímpicos. Acredito que os patrocínios virão de forma gradativa", concluiu Falcão. 

 

Saiba Mais 

No dossiê de candidatura, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), enumerou uma série de ações para difundir a modalidade e propõe medidas de salvaguarda orçadas em mais de R$ 2 milhões, como a produção de catálogos e encontros. O documento destacou que o registro vai favorecer a consciência sobre o legado da cultura africana no Brasil e o papel da capoeira no combate ao racismo e à discriminação. O dossiê lembra que a prática chegou a ser considerada crime e foi proibida durante um período da história. Hoje, a capoeira é praticada em muitos países.

Com o título, a prática cultural afro-brasileira reúne-se agora ao Samba de Roda do Recôncavo Baiano (BA), à Arte Kusiwa-Pintura Corporal (AP), ao Frevo (PE) e ao Círio de Nazaré (PA), também reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

Comentários