Rádio Amigo - Jornal Fato
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Rádio Amigo


Há alguns anos integro um Grupo de Lanche, formado por mulheres. Amamos nossos encontros sempre às quartas-feiras. Sempre no retorno à casa, tenho também um compromisso com o rádio, com quem mantenho uma paixão antiga.

 

Ao ligar o aparelho do carro, recordo a minha infância. Das noites frias de uma adolescente com medo de dormir sozinha, sem o calorzinho do corpo da mãe. Mas não tem jeito. Chega a hora em que infelizmente a gente ouve a temível frase: "Você já é grandinha e precisa dormir no seu quarto".

 

Sem muita opção, me agarrava ao fiel companheiro aparelho de rádio, presente da minha querida vovó Teté. Puxava o lençol, cobrindo-nos até a cabeça. Ficávamos juntinhos, abraçadinhos fazendo companhia um ao outro. Como era gostoso aquele afago! Com ele era possível viajar, toda noite, mundo afora sem sair do lugar. Confidentes que éramos, o rádio se tornava a cada noite, meu amigo fiel, meu amigo do peito!

 

 Ao som de músicas românticas, vinhetas, comerciais e vozes pra lá de inspiradoras, eu sonhava. Ah, quantos sonhos!  Ele também me protegia do medo terrível que sentia quando ouvia os ruídos dos roedores passeando dentro e fora de casa. Vida dura, mas honesta!

 

Minha mãe trabalhava diuturnamente. Professora em três turnos, saía pouco antes das seis da manhã e retornava na linha Amarelo -IBC, no ônibus das dez da noite. Como uma boa filha sentindo na carne, as dificuldades (quem dera fossem apenas as financeiras) tentava fazer a minha parte, ajudando nas tarefas do lar. Fazia um bolo de cenoura com calda de chocolate delicioso, como uma menina que naquela época ainda tinha o prazer de brincar de cozinhadinho. Também tentava ser mãezinha da minha irmã do meio como quem brinca com uma boneca de verdade.

 

Hoje, muitos anos se passaram desde as noites quase intermináveis no bairro Amarelo. Da vida difícil! Mesmo com o tempo (ele é implacável), meu amigo fiel continua me fazendo companhia. Aliás, perfeito para encurtar o trajeto quando retorno do lanche. Pelas ondas da 960AM, ouço as orações e os pedidos aflitos dos ouvintes da Rádio Aparecida.  

 

Embalada com os inúmeros pedidos também sou levada a fazer os meus, em especial, à Nossa Senhora Aparecida, a quem meus pais me ensinaram a ser devota desde pequena. A hora da Ave Maria no Rádio era sagrada, bendita.

 

Em meio ao meus pleitos, dou conta de que tenho sempre muito mais a agradecer. Agradecer pela família que me formei. Pela profissão. Pela vida que Deus me concede. Pela Denise que sou e pela Denise que construo permanentemente. Ah, por tanta coisa!!! 


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