O exercício da confiança - Jornal Fato
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O exercício da confiança


 

Esta semana passei ao lado de um circo, no litoral, e confesso que até hoje estou pensando se volto para ver o espetáculo. É que eu e Lígia adoramos circo, e costumamos ir a todos que aparecem.  Quer dizer, talvez a verdade verdadeira seja outra: eu gosto, e Lígia, coitada, filha amorosa que é, até hoje tem aceitado me acompanhar. O fato é que nenhum circo me escapa: desde o sofisticado Cirque Du Soleil, que alguns consideram mera apelação comercial, até esses que a gente nem sabe o nome, pobrinhos, com lona rasgada e arquibancadas de madeira. Gosto de circo de qualquer jeito, e pronto.

 

Para mim, o circo representa duas coisas. Primeiro, a alegria, que salta de tantas cores, tanta música e, principalmente, da apresentação ingênua e simplória dos palhaços. E, segundo, o que mais me impressiona e afronta, o que me deixa de olhos vidrados e coração sobressaltado: o exercício da confiança.

 

Sei que esta não é uma das características mais exaltadas nos artistas circenses.  De modo geral, eles são elogiados por sua força, coragem, equilíbrio, disciplina, domínio corporal e coisas assim. Mas o que me faz admirá-los de verdade é sua capacidade de confiar inteiramente no outro e em si mesmos.

 

Trapezistas que se atiram no ar, com a certeza de que serão alçados da queda pelas mãos dos companheiros, são o exemplo maior dessa capacidade de acreditar plenamente no outro. E também em si mesmos, pois para que cheguem até as mãos dos colegas de cena terão que realizar seus saltos com competência milimétrica.

 

E assim é em qualquer atividade do circo, tanto em exibições individuais, quanto naquelas feitas em duplas ou grupos.  Todas as acrobacias, o globo da morte, o jogo de facas, o monociclo, os números com grandes ou pequenos animais, os malabares, enfim, em tudo o artista precisa ter a certeza de estarem ele e os demais envolvidos igualmente preparados e dedicados ao sucesso da cena.

 

Sem confiança, não existe circo. Aliás, tudo na vida nos exige confiança. A diferença é que, do lado de cá, muitas vezes nem ela é capaz de nos dar garantia de nada, pelo contrário, não raro nos estabacamos no chão, sem rede que nos segure. Sendo assim, vamos ao circo, que lá o espetáculo sempre é divertido.

 

 

 


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